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P E T E

A dor que eu sinto agora é terrivelmente pior se comparada àquela que senti ao apanhar de Trump pela primeira vez.

O terceiro soco acerta o mesmo local já machucado em meu estômago. Começo a chorar com minha boca aberta, a garganta ardendo em tentativas falhas de reproduzir minha própria voz. Eu não tenho forças para gritar por ajuda; tudo o que sou capaz de fazer em função de me proteger é girar pelo chão, tentando evitar que meu corpo seja atingido novamente. De repente, não consigo nem mesmo respirar apropriadamente, porque meus pulmões parecem implorar dentro do peito, impedidos de absorverem uma boa quantidade de oxigênio sem que eu queira desmaiar pela dor.

Estou assustado. Estou tão assustado que poderia morrer.

Não consigo lutar contra Trump. Não tenho forças. Sou muito fraco.

E, nesse momento, completamente entregue à situação em que me encontro, sou capaz de pensar em uma única pessoa.

Ae... Socorro... Por favor, me ajude...

— Ae... — A palavra curta sai da minha boca em um sussurro sôfrego. É com toda a minha força que digo isso, mas o homem acima de mim olha para o meu estado deplorável com repulsa, as orbes distantes de qualquer fio de misericórdia que poderia existir ali.

Consigo apenas mover minhas íris até que encontrem as dele, escuras e assustadoras, fazendo-me lacrimejar ao saber que nada será o suficiente para lhe gerar compaixão. Porque é esse o tipo de pessoa que Trump é: maldosa e cruel. E, como se para comprovar meus próprios pensamentos, sua expressão se transforma no mais puro desgosto.

Em seguida, agacha-se para poder mexer em meu corpo, enquanto tento não me aterrorizar ainda mais com sua proximidade.

— Não tem dinheiro, huh? — provoca, com uma careta. — O que é isso, então?

Minhas forças se mostram inexistentes até mesmo para combater o que acontece a seguir, porque meu ex-namorado agarra meu braço e leva os dedos compridos até o meu pulso, adornado por um relógio prateado.

Tento balançar a cabeça. Tento arranjar qualquer palavra de súplica. Tento transmitir sinais do meu pedido interno para que ele não faça isso, porque o relógio sendo retirado de meu pulso é realmente importante para mim, porque foi um presente. Um presente de minha mãe.

— N-não... — consigo murmurar, mas a frase não se completa.

O que destrói meu coração não é o valor sendo levado junto do objeto, que carrega mais de um milhão de bahtes em seus detalhes belos; o que destrói meu coração é o valor sentimental que trago comigo sempre que estou usando o acessório sendo puxado para longe de mim. São as lembranças do sorriso enfeitando o rosto de minha mãe ao me presentear no meu aniversário, nesse momento, sendo substituídas pelas lembranças dolorosas de quando o mesmo presente foi roubado do meu pulso por alguém que poderia, hoje em dia, ser a melhor pessoa da minha vida — se não fosse uma das piores.

E é por isso que meus pensamentos insistem em chamar por ele; o homem que realmente parece fazer alguma coisa no meio disso tudo valer a pena.

Socorro, Ae... Por favor, me ajude...

Novamente, tudo o que posso fazer é rolar pelo chão, em agonia não apenas pela dor física, mas também pela emocional. Ainda assim, me esforço para fazer qualquer coisa coerente sair de minha boca, mesmo que as palavras soem baixas e engasgadas; ao mesmo tempo, Trump vasculha os bolsos da minha calça e resolve pegar meu celular e minha carteira para fazerem companhia ao relógio. Os pontos de dor aguda em meu estômago fazem uma insensibilidade latejante se espalhar pelos meus músculos, até que sou capaz de sentir um formigar absurdo junto da dor que me faz continuar a chorar em desespero.

Love by Chance (pt-br)Onde histórias criam vida. Descubra agora