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T I N

Sentindo-me apaixonado em um momento como esse...

A frase simples da publicação que surge no meu Facebook me obriga a parar o que estou fazendo e inclinar minhas costas contra o encosto da cadeira. A foto e o nome de Pete estão logo acima.

Aquele garoto...

Não preciso nem me esforçar para tentar descobrir a quem ele está se referindo com a publicação. Já sei com quem Pete está. E quem mais poderia ser, além daquele moleque do Programa Tailandês?

Pode ser um pouco confuso o motivo de eu parecer me preocupar tanto com isso, mas a questão não é essa. A questão é que eu realmente odeio quando as pessoas surgem na minha vida apenas para arruinar minha rotina. Porque eu amo meu status ocioso; é confortável viver no meu próprio mundo, mesmo que ele não abrigue outras pessoas para me fazer companhia. É mais tranquilo desse jeito, é menos complicado, é menos preocupante.

E eu descobri isso com o tempo, porque nem sempre fui assim. Na verdade, eu chegava a ser até infantil pelo tanto que buscava pela atenção dos outros, igual a um bebezinho indefeso. E teria continuado assim, nesse estado de inocência patética, se um incidente não tivesse aberto meus olhos para perceber que as pessoas que eu costumava pensar que me amavam, na verdade, fariam de tudo para me destruir. Pessoas que, hoje em dia, percebo serem as mais egoístas que já tive o desprazer de conhecer, fazendo todo o tipo de coisa grotesca às minhas costas.

Foi por isso que, ao descobrir as verdadeiras cores que compunham essas pessoas, acabei ficando mais retraído. Tornei-me um homem introvertido, isolado e desconfiado, completamente pessimista em relação a tudo. Mantenho-me assim até mesmo nas minhas redes sociais, permitindo apenas que poucas pessoas — como alguns amigos que conheci quando estudei no Reino Unido, alguns parceiros de negócios e outras poucas em quem confio, como Pete — tenham acesso aos meus perfis.

Faço isso para manter meu conforto. Certo.

Porém, no momento em que vi a publicação de Pete no meu Facebook, velhas memórias retornaram à minha mente. Acontece que, para mim, mulheres são como brinquedos sexuais. Fora isso, são apenas estúpidas e irritantes, sempre buscando por amores verdadeiros, o que, ironicamente, parece lhes dar motivos o suficiente para terminarem o dia embaixo de mim em uma cama.

É hilário. Não são diferentes de todo o resto da sociedade; julgam-me com base naquilo que visto, no carro que dirijo ou no sobrenome que tenho registrado em meus documentos. Quanto mais dinheiro pensam que tenho, mais rápido ficam peladas na minha frente. Amor e mulheres são duas palavras que parecem igualmente ridículas para mim. Mas agora, amor e homens? Isso soa até desesperador.

É ridículo. Completamente ridículo.

Mas ainda tem uma voz, uma baixa e sussurrante dentro da minha cabeça, que tenta discordar dos meus próprios pensamentos. Uma voz quase inexistente, que parece não estar ali na maior parte do tempo, mas que, ao parar e prestar atenção, sou capaz de ouvi-la no fundo dos tímpanos, tentando me convencer do contrário de tudo aquilo que acredito. Uma voz que ouço agora, deixando-me angustiado e um pouco irritado.

Como Pete pode parecer tão feliz? Como? Por quê?

Odeio a maneira como ele confia tanto no moleque do Programa Tailandês, como confia em tudo o que ele diz. Sequer considera as chances de Ae — ou qualquer que seja seu nome — estar lhe usando para sugar seu dinheiro. Está agindo como se não lembrasse nem mesmo quem é seu pai ou sua avó; quem é sua família. A mãe de Pete pode não ter vindo de uma linhagem de alto padrão, mas sua família paterna é muito, muito diferente disso. Então por que não está se importando em como as pessoas estão tentando manter relacionamentos amorosos com ele apenas por conta do seu dinheiro? Aquele garoto pobre deve ser igualzinho ao resto.

Love by Chance (pt-br)Onde histórias criam vida. Descubra agora