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T I N

É difícil acreditar que, dez minutos atrás, Can estava gritando a plenos pulmões que não jantaria comigo sob hipótese alguma.

— Caraca! Isso está maravilhoso!

Dez minutos atrás, ele estava realmente garantindo que não comeria ao meu lado, e agora estou aqui, sentado à sua frente, observando suas grandes bochechas recheadas de peixe cozido. Em determinado momento, Can até mesmo chega a sorrir, expondo um grão de arroz preso em seu dente da frente. Eu normalmente repudiaria alguém com esses modos terríveis, mas quase suspiro com o simples pensamento de que o jeito que ele come é simplesmente fofo.

— Isso daqui também está bom. — Ele usa o garfo para fincar um camarão e passá-lo para o meu prato. — Come também! Só ficar me olhando não vai encher seu estômago.

Quem presenciasse o escândalo que esse garoto estava fazendo há alguns minutos jamais pensaria que agora ele estaria colocando comida no meu prato, quase me forçando a acompanhá-lo. Inacreditável.

— Tem certeza de que vai pagar pelo jantar? — pergunta, agora comendo um pedaço de pé de porco.

Tenho um primeiro impulso de querer responder algo que ele odiaria ouvir — Se não for por minha conta, como você espera conseguir pagar por tudo isso? —, mas resolvo ficar em silêncio e pego meus próprios talheres para comer o que Can colocou no meu prato.

Perdi a conta de quantos minutos fiquei esperando na frente de seu Departamento essa noite, e tenho que admitir que fiquei me sentindo realmente confuso pela maior parte do tempo. Nunca imaginei que alguém como eu seria capaz de ficar plantado em frente a um prédio acadêmico em função de outra pessoa, mas foi o que aconteceu. Fiquei de pé, esperando Can pacientemente, sem nem mesmo saber se ele iria querer conversar comigo.

Acontece que eu tenho plena consciência de que fui extremamente nojento na última vez que nos encontramos. Se eu fosse Can, jamais ia querer me ver novamente. Mas aquele bilhete de desculpas, apesar de tudo, me incentivou a tentar, e, no fim, ele ainda teve a coragem de olhar nos meus olhos e dizer que acreditaria em mim — mesmo que genuinamente me odeie.

E ninguém nunca, jamais vai fazer ideia do quanto eu estava feliz ao entrar no carro com ele ao meu lado, independente dos xingamentos e das certezas despejadas na minha cara de que nunca jantaria comigo na vida. Bom, certezas mentirosas.

— Você falou no bilhete que eu também te devia um pedido de desculpas — explico em determinado momento, já dirigindo, quando comecei a pensar que ele não cederia.

— Sim, você me deve! Mas acha mesmo que eu vou acreditar que um lorde inacessível como você, que se acha bom demais para viver no mesmo mundo que outros meros mortais, vai simplesmente pedir desculpas? Não mesmo!

— Vai ter que acreditar, porque vou pagar pelo perdão.

— Não, eu não vou deixar você me comprar com a porcaria do seu dinheiro.

— É lógico que eu não estou falando de comprar você.

— Não faz diferença! Eu não vou deixar você usar dinheiro nenhum comigo! Nenhuma quantia vai me fazer esquecer de como você magoou o Ae e o Pete.

Não gostei de ouvi-lo falar sobre aquele garoto imundo, ainda mais usando seu tom de voz protetor, mas, pensando agora, não sei explicar exatamente o porquê de ter ficado tão irritado com sua menção ao namorado de Pete. Lembro disso enquanto termino de comer o camarão.

— Você não falou agora há pouco que acreditaria em mim? — pergunto.

Continuo sendo Tin Maysathanan e sempre sei bem o que eu quero e como conseguir o que eu quero, mas Can continua me encarando com incertezas evidentes.

Love by Chance (pt-br)Onde histórias criam vida. Descubra agora