Capítulo 31

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A ideia do comercial de roupa havia sido de sua avó. Amélia estava tentando construir uma estabilidade financeira para Dallas que ia além da fortuna da família Winford. A mulher abriu uma conta no Gringotes para ela, investiu alguns galeões em pequenos negócios no Beco Diagonal e usou de seus contatos no mundo trouxa para conseguir este breve trabalho de modelo. O cachê não havia sido muito alto porque Amélia estava mais interessada nos royalties de imagem. Afinal, o rosto de Dallas estaria exposto em revistas e outdoors por toda Londres, e isto gerava um lucro contínuo depositado direto na conta da neta. Para Dallas, não havia pagamento que compensasse o prazer de ver a reação fenomenal de Meredith à este comercial. A mulher bufou tanto de raiva que Dallas achou que ela seria o primeiro caso no mundo de combustão espontânea em organismo vivo. Inveja e despeito também escorriam de Samantha mas, curiosamente, a reação de Nicholas foi a mais branda. Pura indiferença. O irmão, aparentemente, chegou em uma fase onde considerava-se “maneiro” demais para ficar dando atenção aos dramas e chiliques de sua gêmea e sua mãe. 

A reação de Albert, no entanto, foi a mais curiosa.

A sede da Winford Corp. ficava no centro de Londres, e um outdoor gigantesco com a foto de Dallas podia ser visto da janela do escritório de Albert. A imagem em si não era nada demais. Dallas estava sentada em um banco, o corpo inclinado para frente, com um cotovelo apoiado em um dos joelhos e o punho fechado sustentando o queixo. A sua roupa era um vestido floral curto, de cores escuras e marcado na cintura por um cinto de couro. Usava uma sandália de salto alto e a maquiagem e o cabelo tinham sido arrumados de modo que a fez parecer mais velha do que realmente era. Havia um discreto tom de sensualidade na foto, mas Dallas não era a primeira e nem seria a última garota de quartoze anos a posar em uma foto para uma revista parecendo ser mais velha do que realmente era. 

E, ainda sim, por alguma razão, Albert não gostou do que viu. 

A discussão entre Albert e Amélia foi a portas fechadas e durou ao menos uma meia hora antes de Albert deixar o escritório com a fúria de um tufão, batendo a porta atrás de si. O jantar naquela noite na mansão Winford foi tenso, Meredith continuava de mau humor porque mais uma vez Dallas conseguiu mais destaque na mídia do que os seus filhos, Amélia sustentava uma carranca tão feita que Dallas temeu que a mulher fosse transformar-se em harpia naquele segundo, e Albert tomava mais taças de vinho do que era socialmente permitido e cutucava o seu jantar sem interesse algum em comê-lo. 

— Sabe o que eu notei? — a voz de Albert quebrou o silêncio de forma tão abrupta que fez Dallas sobressaltar na cadeira. — Dallas não conhece a sede da Winford Corp. — oie? Dallas não conhecia a sede da empresa porque por anos foi deixado bem claro para ela que apesar de ter o nome e o sangue da família correndo em suas veias, ela não tinha direito a qualquer coisa relacionada aos Winford. Na época em que o seu avô era vivo, Samantha e Nicholas chegaram a conhecer a Winford Corp., mas à Dallas nunca foi dada esta honra. 

Dallas lançou um olhar para Amélia, à cabeceira da mesa, procurando por alguma orientação da mulher. Albert jamais ganharia o prêmio de pai do ano, isto era fato. Ele nunca foi cruel como Meredith, mas sempre foi negligente, nunca deu a devida atenção a Dallas e muitas das vezes agia como se a garota não existisse dentro de seu universo, a prova concreta de que ele considerava a existência dela um grande arrependimento com o qual ele não sabia lidar. No entanto, Amélia permaneceu muda e Dallas viu-se no dia seguinte seguindo com Albert para o centro de Londres e entrando com o homem no edifício que sediava a Winford Corp., sob os olhares curiosos de todos. 

A viagem de elevador até o último andar, onde ficava a sala de Albert, foi feita em absoluto silêncio. Quando entraram no escritório, Dallas tinha que admitir que o local a impressionou. Era tão grande quando vários cômodos da mansão ou de Hogwarts, mas enquanto ela esperava uma decoração clássica, quase vitoriana, como havia na mansão, o que encontrou foi algo minimalista e com toques futuristas. Mesa de vidro e metal, alternando entre prata e negro. A dita janela onde era possível ver o outdoor ocupava toda a parede atrás da mesa de Albert. O escritório tinha um sofá de três lugares de couro preto, acompanhado de uma mesa de centro, também de vidro. Havia uma estante embutida e um frigobar e uma televisão oposta ao sofá e sintonizada em um canal com notícias matinais. 

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