Capítulo 19

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Os sonserinos não sabiam o que tinha acontecido, apenas sabiam que as coisas entre Dallas e Draco estavam estranhas. Ambos evitavam ficar na presença um do outro por mais tempo que o necessário, as detenções eram cumpridas em absoluto silêncio e as provocações do garoto e piadinhas de mau gosto ganharam um silencioso fim. O recesso de fim de ano veio e foi e, mais uma vez, Dallas permaneceu em Hogwarts, enfurnada em seu dormitório ou na biblioteca durante todo o período. Não compareceu a ceia no salão principal e evitava cruzar com Potter que, mesmo assim, parecia saber exatamente onde ela se escondia e ia até lá lhe fazer companhia. Dallas não se incomodava tanto assim com Potter impondo a existência dele à sua pessoa, a companhia dele era silenciosa e no máximo o que faziam era trocar ideias sobre alguns deveres ou ele perguntava coisas superficiais sobre o livro que ela lia naquele momento. O incidente da Torre de Astronomia não era mencionado e Dallas era agradecida por este pequeno conforto.

Janeiro de 1994 chegou extremamente frio e, junto com as temperaturas baixas, os alunos retornaram à Hogwarts para o segundo trimestre. O início de um novo período de aulas significou o retorno das detenções e mais caldeirões encardidos, e com crostas de poções envelhecidas presas no chumbo, para serem limpos.

— Eu, por várias vezes, quis perguntar a minha mãe o que aconteceu. — Draco quebrou o silêncio que sempre existia entre eles quando cumpriam as detenções juntos. Dallas não desviou o olhar da crosta que tentava soltar com a espátula, no fundo do caldeirão. — Mas sei que ela não me responderia e me daria voltas até eu esquecer do assunto. Então, eu perguntei aos elfos domésticos. — Dallas parou os seus movimentos, mas ainda sim não mirou Draco. — Alguns de nossos elfos são relíquias da família Malfoy, mas existem três que foram herdados dos Black, vieram com o dote de minha mãe e são fiéis somente àqueles que carregam o sangue Black... teoricamente. E um deles Potter fez o favor de libertar ano passado.

— Dobby. — Dallas murmurou e ergueu o olhar para mirar Draco. O rosto dele agora tinha um tom amarelado dos hematomas que sumiam, ele não tinha mais o gesso no pulso e os olhos não estavam mais inchados.

— Não foi fácil encontrá-lo, mas um elfo liberto não possui mais lealdade com os seus mestres e nenhuma obrigação de manter os seus segredos. Dobby me contou que meus pais estavam em crise no casamento na época, a minha mãe desaprovava o contínuo apoio que meu pai dava a certos ideais que estavam sendo propagadas à época. — Dallas rolou os olhos. Lucius Malfoy conseguiu fugir da punição do Ministério por associação ao Lordes das Trevas, mas era de conhecimento de todos que ele foi, ainda era, provavelmente, um Comensal da Morte. — E quando mamãe ficou grávida de mim, ela insistiu que meu pai largasse esta luta, pelo bem da família.

— Deixe-me adivinhar, ele disse não.

— E mandou mamãe para a França por segurança. Ela ficou furiosa, e triste, e solitária, uma mistura de emoções e então conheceu um trouxa...

— Albert Winford.

— Sim. Charmoso, sedutor, e que a fez esquecer todos os problemas em um caso extraconjugal intenso e curto.

— O elfo te contou isto? Com essas palavras? — disse com deboche. Elfos eram analfabetos, mal conseguiam conjugar os pronomes com os verbos corretamente, então nunca que iriam contar uma história com tantos detalhes e de forma tão rebuscada. Draco ignorou a explícita alfinetada de Dallas e continuou o seu relato.

— Eu conheço a minha mãe, sei que o que ela teve com o homem trouxa foi algo de momento e inconsequente. Ela ama o meu pai.

— Não tão inconsequente assim, não é mesmo? Eu estou aqui. — Dallas disse com amargura. — O elfo te contou por que ela me entregou aos Winford ao invés de ter me largado em um orfanato?

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