- Juliana -disse,por fim - desculpe. Eu realmente não tenho condições de sugerir nada. Só gostaria de ajudá-la.Gosto de você. Aprecio sua maneira de ser. Não gostaria de vê-a envolvida com coisas duvidosas. - Não fale do que não entende. Pode se arrepender. Agora, preciso ir. - Espere. Não gostaria que saísse aborrecida comigo. Não quero perder sua amizade. - Nesse caso, aprenda a ser você mesmo quando estivermos juntos. Aprecio sua companhia quando deixa o coração falar. E quanto a mim,se puder gostar de mi do jeito que eu sou,poderemos ser amigos. - Amigos,então. Vamos andando.Eu a acompanho até sua casa. Durante o trajeto, Armando procurou conversar sobre assuntos amenos. De regresso à sua casa ,ele , impressionado,não conseguia esquecer as palavras dela. Juliana revelará-se madura e objetiva,longe da ingenuidade que ele lhe atribuíra. Suas palavras,firmes e segura,intrigavam-no. Ela não fora visitada pela dor. Era uma menina cercada de cuidados,de conforto,saudável. Se houvesse passado pela experiências que tivera,visto o que vira no hospital, por certo perderia muito da sua certeza sobre a felicidade. Apesar disso,sua atitude,não se deixando influenciar pelo que lhe dissera, revelava vontade e personalidade. Envergonhado,lembrou-se de que se colocara na posição de orientador. Juliana rebelara-se com dignidade.Armando sorriu ao recordar-se: " Como sabe o que me faz bem? Até agora você só falou como médico,como pessoa convencional". Era verdade.Ele até usara o mesmo tom do consultório. " Convencional".Sim. Ele não só se colocara na postura de quem sabe mais,como daquele que tudo pode. Quantas vezes,ao assumir esse papel diante de um paciente,sentira-se apenas convencional? Haviam lhe ensinado que esse papel o médico não pode emocionar-se.Deve mostra-se seguro,ainda mesmo quando não fez o diagnóstico. Sim.Compreendia o quanto fora inadequado. O caso de Juliana era-lhe desconhecido. Com lucidez ela o fizera perceber o quanto estava sendo preconceituoso. - Meu pai estava acerto - pensou. - Ele pelo menos não foi radical. Por outro lado,ela mesma dizia não se recordar de nada. Seria verdade? Teria dupla personalidade? Armando não conseguia pensar em outra coisa. Quando o pai chegou,tarde da noite,foi encontrá-lo ainda acordado. Vendo a luz em seu quarto, Morelli entrou,e Armando relatou-lhe o que acontecera. Ele ouviu em silêncio e, ao final considerou: - Teria sido Dora? Juliana não gosta muito de falar. - Não. Foi ela mesma. Perdi até o jeito. - Pudera! Intrometeu-se na vida dela. - Tem razão. Para mim,ela era uma menina ingênua e fácil de conduzir.Pensei que poderia ser iludida com facilidade por essas fantasias. - Já descobriu que não é assim. - Ela está muito segura.Em todo caso,isso não torna verdade o que ela diz. - O que torna verdade é o que ela faz.Para mim,o que me intriga são os fatos. Eu os presenciei.Como esquecer esse detalhe? - Pai,cuidado.Temos que ser realistas. - Nada mais real do que os fatos. - Podem ser sido apenas coincidências. - Vejo que Juliana disse bem. Seu materialismo é avassalador. Você nem consegue enxergar os acontecimentos.Tem preconceitos demais. - Você também. Morelli desatou a rir. - Salve,Juliana. Enxergou em alguns segundos mais do que nós dois juntos a vida inteira. - Desse jeito não dá para falar com você! - Não se irrite.Afinal,conseguiu acalmá-la? - O pior é que ela estava calma. Disse tudo com naturalidade,sem raiva. E eu senti que,ao contrário do que pensava,minha amizade para ela não vale muito. - Isso aconteceu? - Um pouco. - Nunca aconteceu antes. - Não é isso. É que eu percebi como Juliana pensa. Se eu tentar conduzi-la ou impor minhas ideias,irá me afastar com facilidade. - Ela não me parece tão inteligente. - Para relacionar-se socialmente, não. Mas para amizade mesmo,ela é. Reparou como ela anda sempre só? - É verdade. Dagoberto queixa-se muito dessa atitude dela. - Comigo ela mostrou-se diferente desde o princípio.Pensei que me apreciasse.Cheguei a supor que estivesse interessada em mim. Temi envolver-me, já que ela é tremendamente atraente. Mas hoje descobri que estava enganado. Ela me empurrou para fora de sua vida com facilidade. Se gostasse de mim, não faria isso.As mulheres não agem dessa forma. - Juliana é especial. - É diferente. - E agora? O que vai fazer? Ela cortou relações? - Não. Isso,não. Desculpei-me é claro! Acompanhei-a até sua casa. Despedimo-nos cordialmente. - Nesse caso,não há problema.Poderá voltar a vê-la. - Mas não tocarei nesse malfadado assunto. Se quer investigar,não conte comigo. Por que não fala com ela? - Eu? Quem sabe. De uma forma mais discreta. Veremos. O que eu não vou é desistir. A cada dia sinto mais interesse. Hoje pedimos ajuda ao espírito de Dora que nos ajude e esclareça. - Fizeram isso mesmo? -Não foi o que nos sugeriu? - Não pensei que levasse a sério. - Por que não? Afinal,ela parece bem interessada.Não se encontra com Juliana em sonhos? - Pai! Acredita nisso? - Nessa altura não creio nem descreio. Eu quero é saber. Seja o que for, eu desejo descobrir. E para chegar a isso, entro no jogo deles. Armando sacudiu a cabeça negativamente. Apesar da sua incredulidade e das tentativas para esquecer Juliana, só de madrugada foi que ele conseguiu adormecer.
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Pelas portas do coração
EspiritualEnquanto a cabeça racionaliza,o espírito sente. A razão segue as conveniências do mundo. O espírito busca a essência daquilo que é. Quando a sensibilidade se abre,energias tumultuadas e emoções novas surgem trazendo insegurança,e é preciso estudar a...