Sentada em frente da sua escrivaninha ,Vera leu mais uma vez a carta que escrevera e sorriu satisfeita. Estava perfeita.Fazia dois anos que trabalhava com Jonas no escritório e a cada dia sentia mais feliz. Além de ter facilidade para redigir,acostumara-se á linguagem forense,aprendendo sem dificuldade.Observando arguta,interessada em aprender,ostumava opinar sobre os assuntos em pauta, e o fazia com tal clareza que Jonas habituara-se a discuti-los com ela antes de tomar suas decisões. Vera sentia-se valorizada e motivada a estudar mais. Interessara-se por tudo que dizia respeito ao escritório, a ponto de Nice reclamar quando estavam juntos,por que diziam entretinham-se tanto falando sobre trabalho que a esqueciam. Eles haviam se tornado inseparáveis.Juntos frequentavam cinemas, teatros,concertos e nos fins de semana,levavam Martin para passear pelos parques ou pelo campo. Vera nunca mais frequentou a sociedade.Por ordme do juiz,Marcelinho poderia buscar o filho a cada quinze dias para passar o fim de semana.Duas ou três vezes para ele fora o bastante. Martin não queria ir,chorava muito. Não obedecia a Laura,que era quem ficava com o menino,uma vez que o pai alegava não ter jeito para cuidar dele. Laura não conseguia fazer com que Martin a obedecesse e ela reclamava,irritada com Marcelinho,que Vera estragra o menino e que ele estava insuportável.Depois Marcelinho tinha outros compromissos e não queria deixá-los para ficar com o filho.Assim,começou espaçando as visitas e acabou não indo mais buscá-lo,alegando que não podia tolerar suas malcriações. Vera sentiu-se aliviada.Toda vez que eles levavam Martin,ela ficava preocupada.Temia que eles o raptassem ou interferissem em sua educação.Ela agora se tornara outra mulher,mais segura,mais alegre. A convivência com Juliana e Paulo a ajudara a compreender melhor os problemas humanos.Assistira a vários casos atendidos por Juliana e não tinha mais dúvidas quanto á mediunidade.Interessara-se ,lera livros de cientistas famosos que pesquisaram o assunto e conversa com Dora,cuja lucidez prendera a admirar. Seu interesse atraíra Nice e Jonas,que passaram a frequentar com assiduidade a casa de Juliana,como os cursos que ela dava sob a inspiração de Dora. Clóvis e Estela também haviam se aproximado do trabalho de Juliana e a ajudavam como voluntários.Essa convivência estreita a amizade entre eles.Nunca eles haviam sido tão unidos e nunca haviam convivido com tanto prazer. O único senão era a posição de Dagoberto. Ele continuava intransigente. Norma sofria muito com isso.Sentia que os filhos não estavam errados como Berto dizia. Eles estavam felizes.Eram respeitados e ela se perguntava por que ele teimava em manter sua postura radical,recusando-se a visitá-los ou recebê-los em casa. Quando a filha de Clóvis nasceu,Norma não suportou a pressão.Uma tarde.saiu ás escondidas ,comprou um presente para neta e foi vê-la na mternidade.Entrou no quarto receosa ,trêmula e foi recebida com carinho por Estela e Clóvis. Nos braços do filho,chrou comovida. Falou como sofreu por não haver ido ao casamento e como gostaria que opassado fosse esquecido. Segurando a pequenina Maíra nos braços,emocionnada,lembrou o nascimento de Clóvis e a alegria que sentira segurando-o nos braços pela primeiravez. O carinho do filho e da nora encheram seu ccoração de alegria,e eles a convidaram a conhecer sua casa. Ela contou-lhe que telefonra sempre para Vera,para saber sobre Martin e de Juliana,mas não se animava a visitá-los,temerosa de contrariar Berto. - Vera diz que Bero é teimoso e que está errado,mas ele é meu marido.Sempre foibom para mim e eu não posso ir contra ele.Tem andado muito triste ultimamente,desanimado. Não desejo dar-lhe esse desgosto. - Ele não precisa saber - disse Clóvis. - Você pode ir nos visitar escondida. Será um segredo nosso. Nós sentimos prazer em estar juntos e não é justo que por causa dele deixemos de nos ver. Minha filha gostará de conviver com a avó. - Eu gostaria muito que tudo isso acabasse,que o Berto mudasse e aceitasse as coias como são. Clóvis meneou a cabeça: - Só ele pode decidir isso. Você não pode fazê-lo mudar. Mas não precisa fazer o que ele quer. Se não deseja magoá-lo,não lhe conte nada,mas não se prive do que tem vontade de fazer.Tenho aprendido que valorizar nossos verdadeiros sentimentos nos dá dignidade e prazer. Ninguém pode ser feliz contrariando sua natureza para satisfazer os caprichos dos outros. - Não fale assim de seu pai. Ele é um homem bom. - Não estou julgando Ele é como é. Mas você não está se permitindo ser como você é. Está se subordinando ao que ele quer,ao que ele decide. Isso traz infelicidade.Só começei a ser feliz e saber o que queria depois que ouvi a voz do meu coração. Eu vivia tenso,entindo,fingindo ser o que eu não era,para não contrariar papai.Mas essa não era minha natureza e acabei por contrariá-lo da mesma forma quando não pude mais tolerar a situação.Se eu houvesse batido o pé,me recusado a fazer o que o que eu não queria desde o início,talvez ele tivesse acabado por me respeitar e compreender. Mas eu não tinha conhecimento bastante para isso. Norma suspirou triste. - Vocês são tão diferentes! Ele sonhou tanto com seu futuro! Queria que se tornasse um grande médico,melhor do que ele. - Era o sonho dele,mãe,não o meu. Você sabe que não tenho natureza para isso,nunca seria um bom médico. - Você gosta do seu trabalho? - perguntou ela,curiosa. - Adoro. Estou no meio de gente que entende do assunto,e sou muitas vezes chamado para opinar.Eles me respeitam e ouvem. O gerente da empresa sempre me consulta antes de fazer novas aquisições.Ganho bem e vivemos com conforto. Norma olhou-o sem saber o que dizer. Não era isso que Berto dizia que aconteceria. Quando se despediu,prometeu visitálos uma tarde e saiu preocupada. Não gostava de mentir.Era difícil ocultar a emoção de haver conhecido a neta. Como não comentar? Precisava tomar cuidado para não se trair.Afinal,não fizera nada de mal. Estava contente por saber que Clóvis não a recriminava e a queria bem. Quando Vera se reunia com os irmãos e falava sobre os pais,eles se sentiam tristes. Gostariam que fosse diferente,que Dagoberto reconhecesse que eles tinham o direito de escolher o próprio caminho.Se eles fizesse um gesto que demonstrasse vontade de vê-los,eles teriam ido lá acabado com aquela situação.Mas ele não fazia.Ao contrário,Norma diia que ele reclamava da ingratidão dos filhos e continuava achando que eles deveriam reconhecer que estavam errados e pedir-lhe perdão.Enquanto isso não acontecesse ,não os queira ver. Mutas vezes les haviam trocados ideias sobre o assunto.Nenhum deles se arrependia de haver saído de casa e procurado o próprio caminho. Não haviam se arrependido,ao contrário,a cada dia mais reconheciam que haviam feito a melhor opção. Fazer-lhe a vontade seria mentir.Ele estava iludido,e eles não queriam alimentar sua ilusão.Esperavam que ele acabasse por compreender a verdade.Então,tudo se resolveria.
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Pelas portas do coração
روحانياتEnquanto a cabeça racionaliza,o espírito sente. A razão segue as conveniências do mundo. O espírito busca a essência daquilo que é. Quando a sensibilidade se abre,energias tumultuadas e emoções novas surgem trazendo insegurança,e é preciso estudar a...