Capítulo 1 - LAURA

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APENAS ALGUNS CAPÍTULOS PARA DEGUSTAÇÃO.

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Bom dia, amoras minhas!

Então, o que vocês acharam do amor de JP e Laura até aqui? Vocês acham que a Laura deve perdoá-lo em nome do amor? Da filha? Ou será que ela já o esqueceu nesses cinco anos que passaram?

Vou postar agora o capítulo 1 e na terça tem o segundo, ok?

Espero muito que gostem e um lindo final de semana pra vocês!

Obrigada por estarem aqui.

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As batidas na porta me obrigam a levantar cedo demais. Quem visita outra pessoa antes das oito da manhã? Visto um roupão às pressas e abro a porta para encontrar Joaquim Fagundes, em seu terno perfeitamente alinhado, seu sorriso de lado de sempre, porém, uma expressão preocupada no rosto.

— Acordei você? — pergunta enquanto entra mesmo sem convite.

— Bem, sim. Aconteceu alguma coisa?

— Sinto muito, Laura. Devia ter vindo mais tarde.

O convido a se sentar, já que está aqui dentro, e começo a preparar um café.

— Como foi sua entrevista ontem? Você conseguiu o emprego? — pergunta como se se importasse.

— Foi boa, mas você não veio até aqui a essa hora para saber da minha vida, Joaquim, o que você quer?

Sua careta costumeira de quando corto sua conversa fiada é o único alento por ter sido acordada antes das oito.

— Meu pai piorou. Muito. Os médicos acreditam que ele não passe dessa semana.

— Sinto muito por isso, Joaquim.

Há algo nele, algo errado. De alguma maneira, como se a dor que sente pela iminente morte do pai não fosse sincera. O que é ridículo, claro. Quem não sentiria a morte de um pai? Ainda que um pai como Otavio Fagundes. Ele não foi com Joaquim o monstro que foi com o irmão. E pensar no irmão manda de novo meu bom humor para longe.

— Ele quer conhecê-la, Laura. É a neta dele, você não pode — ele se cala diante meu olhar questionador e se corrige. — Você não devia tirar isso dela. É uma criança agora, mas vai crescer um dia e saber que não conheceu o avô por causa da mãe.

— Eva vai crescer um dia e saber que não conviveu com o avô porque ele a rejeitou. Porque a mãe dela era pobre. Não se preocupe, a história certa será contada a ela se for necessário. Nós nunca precisamos de nada vindo da sua família, Joaquim, e ela não nos fará falta.

Ele se levanta, tentando apelar para um sentimentalismo que está desligado em mim há muito tempo.

— Ele está morrendo!

— Então que Deus tenha piedade de sua alma.

Ele sorri.

É como um aviso, como um zumbido baixo em meus ouvidos, há algo errado com Joaquim Fagundes. Eu sempre soube disso, desde antes de sua proposta ridícula. Algo nele não é bom, não é confiável.

— Você não vai mudar de ideia — constata finalmente.

Ele recusa a xícara de café que ofereço e se encaminha em direção a porta de saída. É outra coisa estranha sobre ele, em nenhuma das vezes em que aparece aqui, ele pede para ver a sobrinha, sequer pergunta sobre ela. Como se realmente não se importasse, e bem, sei que esse é mesmo o caso. Ele não se importa.

— A propósito, quase esqueço de mencionar — diz de repente virando-se para trás enquanto tomo o café recusado por ele. — João Pedro sai hoje da prisão.

A xícara cai da minha mão e o encaro esperando a pegadinha.

— Não se passaram sete anos — é tudo o que digo após alguns minutos em que ele me observa atento.

— A pena dele foi reduzida. Bom comportamento, serviços comunitários, essas coisas. Ele estará livre hoje pela tarde. Achei que gostaria de saber.

Não sou mais capaz de responder, sequer de raciocinar. Não vejo o momento em que ele vai embora, nem escuto o que diz antes de ir. Minha cabeça se transforma em um monte de lembranças dolorosas demais, lembranças que tenho lutado diariamente para enterrar. Não era pra ser assim. Eram sete anos. Sete! Quando ele saísse da prisão, eu não estaria mais na cidade, não estaria em lugar nenhum onde ele pudesse encontrar.

Meu peito de repente parece apertado, minha respiração falha, meus olhos enchem. Como se eu fosse ter um ataque de pânico a qualquer momento. Minha primeira reação após muito tempo é correr até o quarto de Eva. Minha pequena dorme em sua cama como se nosso mundo não estivesse prestes a desabar.

Quais são as chances de ele não querer conhecê-la?

Quais são as chances de não procurar por nós duas?

Preciso me sentar um pouco, sinto-me cair no chão devagar, minhas pernas parecem não ter mais força para se manterem de pé, minha respiração não normaliza e a sensação de crise de pânico não passa.

— Mamãe? Você está machucada? — a voz de Eva pergunta da porta de seu quarto, encaro minha pequena com seus olhos azuis assustados.

— Mamãe está bem, amor. Foi só um pesadelo.

Ela se aproxima cautelosa e de repente, ao constatar que não estou machucada, se lança sobre mim. Seus braços pequenos circulam minha cabeça e ela acaricia meu cabelo.

— Já passou, mamãe. Você acordou.

Beijo ao alto de sua cabeça e finjo estar tudo bem.

— Você está certa, meu amor. Já passou, mamãe está bem. Va já escovar esses dentinhos.

Ela me dá um beijo antes de sair do meu colo e finalmente encontro forças para levantar do chão.

Desde que errei - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora