1 - Parte 2

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Após dar algo para ela comer, e arrumar a bagunça que fiz na cozinha, decido ir embora. Não sei para onde, tenho pouco dinheiro e isso é loucura com uma criança pequena, mas não posso ficar. Simplesmente não posso. Pego minha bolsa velha, e começo a colocar as coisas da Eva de qualquer jeito dentro dela. Não preciso levar muitas coisas para mim, mas para ela levarei tudo o que tem. Paro um pouco apenas para ligar para Drika, minha vizinha e amiga. Alguém tem que se encarregar de vender meus móveis, eu vou precisar do dinheiro.

Nem cinco minutos depois, ela surge pela porta.

— Como você entrou?

— Eva abriu a porta. Mas só o fez depois de eu dizer que era eu e responder uma série de perguntas de segurança criadas por ela. Ainda bem que eu vi essa menina crescer, ou estaria na rua até agora. O que diabos você está fazendo? — pergunta quando observa a mala.

— Indo embora. Preciso que você venda meus móveis, e me envie o dinheiro. O mais rápido possível.

— Que conversa é essa, agora? Laura, por que está tão assustada, o que aconteceu?

— Ele está livre. Vai sair da cadeia hoje, está livre.

Sua confusão dura poucos segundos, até ela entender de quem estou falando.

— Ah, merda.

Ela cai pesadamente na cama e por um segundo, penso estar agindo como uma louca. Respiro fundo, sento-me ao seu lado e pergunto com toda esperança possível.

— Quais são as chances de ele não querer conhecê-la?

— Nulas, amiga. Será a primeira coisa que ele vai fazer.

Volto a me levantar e ela faz o mesmo, tentando argumentar com uma louca em pânico.

— Eu sei que você o odeia, e tem todos os motivos do mundo para isso, mas pense pelo lado dele. Ele está há cinco anos naquela prisão imaginando como é o rosto da filha. Deve estar contando os segundos apenas para vê-la, para saber com quem se parece.

— Ele não terá essa oportunidade.

— Você não pode fugir como uma covarde! Não importa para onde vá, ele vai encontrá-la, Laura! É a filha dele!

— Ela não é! — grito. — Onde ele estava quando ela adoeceu aos dois anos? Quando pensamos que iria morrer? Onde estava quando eu passava as noites em claro e ela tinha cólicas e eu tinha que deixá-la tão pequena com estranhos para trabalhar? Onde ele estava quando eu me sentia tão fraca e temia que sem mim ela não tivesse mais ninguém? Porque eu não tinha mais nenhum suporte! Eva nunca teve um pai! Não vai ter agora!

Ela me abraça enquanto choro.

— Mamãe, teve outro pesadelo? — a voz de Eva surge da porta, seus olhos preocupados buscando os meus.

— Mamãe só está brincando com a tia Dri, amor. Está tudo bem. Você quer comer alguma coisa?

Ela abraça minhas pernas e busca em meu rosto um sinal de que está mesmo tudo bem. Ao aceitar minha desculpa e acreditar nela, volta correndo para a sala, para seus desenhos.

Me deixo cair na cama e escondo o rosto com as mãos.

— Não posso impedi-la de conhecer o pai — digo a coisa mais difícil que já disse na vida.

— Não pode.

— Ela vai precisar dele, Deus sabe o quanto sou falha. Uma hora, ela vai precisar dele.

— Toda criança precisa do pai, Laura. Você sabe disso melhor do que ninguém.

Assinto.

— Não vai ser fácil pra ele. Eu não vou simplesmente jogá-la em seus braços e deixar que ele decida como vai tratá-la. Eu vou dificultar o máximo possível. Ele não é uma pessoa ruim, mas é uma pessoa gananciosa e ambiciosa. Ele não liga para família, amigos, nada além de dinheiro. Ele não vai conquistar minha filha, fazê-la se afeiçoar a ele e depois deixá-la de lado por qualquer um de seus amigos riquinhos.

Desde que errei - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora