2 - Parte 2

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Na manhã seguinte, deixo Joaquim sozinho na mesa do café da manhã, depois de uma noite de sono oposta ao que achei que seria, já que dormi como uma pedra. Vou tomar café com meu pai no quarto. Tão logo Mara recolhe a louça após me abraçar por cinco minutos e dizer que sentiu minha falta, papai começa a falar:

— Você pretendia me procurar se tivesse tempo para fazer isso depois?

— Talvez. Não por agora, mas pretendia quando estivesse com minha vida nos trilhos de novo.

— Por vida nos trilhos você quer dizer de volta com a Laura e sua filha?

Assinto.

— Você vê isso como algo impossível? — pergunto.

— Para ser sincero, vejo. Ao menos no cenário que temos agora. Se fosse eu em seu lugar, com certeza impossível. Mas para você? Acho que não. Você nunca foi fã do que é fácil. Não bastava desenhar e lapidar as joias, também queria descobri-las. Tinha essa ideia fixa de ir às escavações. Não sei porque nunca permiti, medo, eu acho. Coisa de pai bobo. Não queria aceitar que você havia crescido, que estava independente de mim. Depois que você saiu dessa casa e se casou, por muito tempo me culpei acreditando que se eu tivesse permitido que você fosse, que escavasse, achasse os diamantes e tivesse essa liberdade, você não teria ido por causa dela. Mas depois me dei conta que você teria. Não importa onde ou com quem estivesse, você deixaria tudo por ela.

Assinto, feliz por não ver a mágoa em seus olhos cansados.

— Quando você a escolheu eu me senti traído. Você tinha tantas garotas, sempre com contatos, sempre ao telefone ou em festas ou em casas de amigos. Eram tantas, eu sequer acompanhava seus nomes. E de repente veio ela, Laura, a primeira namorada, o primeiro amor. Achei que fosse uma coisa passageira.

— Nunca fui do tipo que faz as coisas pela metade — brinco e ele ri.

— Nunca foi. Eu tirei tudo de você, tudo o que podia tirar, porque eu esperava que isso fizesse você voltar. Não a falta dessas coisas, mas a injustiça por eu ter tomado o que era seu. Não o que te dei, mas o que você conquistou. Eu pensei mesmo que isso o faria voltar. Repetidas e repetidas vezes, para brigar pelo que era seu, para ter seu patrimônio de volta. E então estaríamos sempre em contato e eu estaria aqui quando você percebesse seu erro.

Ele fica em silêncio por algum tempo e me sinto na obrigação de fazê-lo continuar falando.

— Foi um bom plano, na verdade, pai. Se fosse por qualquer outro motivo nosso rompimento, eu com certeza teria voltado. Iria atormentá-lo até que você me devolvesse o que era meu. O erro estava no motivo. Nada para mim era mais importante do que ela. Eu acreditava que não a arriscaria por nada. Que errado estávamos, não é mesmo? Pouco depois eu a arrisquei por algo tão sujo.

— Mas você nunca quis deixá-la, você queria ter a ela e todo o resto.

— Explica isso pra ela e veja se serve pra ela me perdoar — brinco.

— Eu procurei você, João Pedro. Quando soube no que estava metido, no que Vitório havia te colocado eu fui até você. Por que não me pediu ajuda? Por que voltou para isso?

— Eu não voltei, pai. Depois que falei com você, fui procurar o chefe da operação para pedir que não dissesse meu nome. Eu já havia desistido. A polícia apareceu de repente, eu não estava fazendo negócios, estava abrindo mão de tudo o que havia ganhado para me livrar disso. Era minha maneira deturpada de pagar pelos erros que cometi, perder todo o dinheiro. Se você não tivesse denunciado, eu teria me desligado e estaria com minha mulher no momento em que nossa filha nasceu.

Desde que errei - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora