INTRODUÇÃO

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APENAS ALGUNS CAPÍTULOS PARA DEGUSTAÇÃO.

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23 de novembro de 2016

— Até mais, cara.

— Vai com Deus, JP.

— Juízo dessa vez, não quero vê-lo aqui de novo nunca mais — o carcereiro Montez, um dos únicos considerados gentis aqui dentro, diz dando tapinhas leves nas minhas costas.

Pego as coisas que possuía quando cheguei aqui, cinco anos atrás. Um Rolex Daytona, roupas já manchadas pelo tempo e minha aliança.

A aliança.

Giro a pequena peça entre os dedos, o nome dela gravado do lado de dentro. A coloco no dedo, sentindo-me incerto sobre isso. Afinal de contas, não soube nada sobre ela nos últimos cinco anos. Foi como se ela houvesse se convertido em um mero sonho apaixonado meu. Encaro a porta, a última barreira entre essa prisão e minha liberdade e não sei bem o que espero encontrar do lado de fora.

— Algum problema, JP? — Montez pergunta confuso por eu não dar o passo para minha tão almejada liberdade.

Dou de ombros, um sorriso resignado surge em meu rosto. Sinto-me de repente mais velho e cansado do que na verdade estou.

— Não, nenhum. Não é como se tivesse alguém me esperando do lado de fora, não é?

— Há alguém esperando você do lado de fora — confirma o policial.

Meu coração parece prestes a pular no peito. Será que ela veio? Cinco anos de silêncio foram seu castigo, merecido aliás, pelo que fiz? Será que está aqui, com minha filha para que possamos recomeçar?

Heitor, o policial, abre a porta se despedindo e dou um passo para a luz forte do sol. Há um carro do outro lado da rua, um SUV preto. A porta dele abre e espero ansioso ver seus cabelos negros, sua pele morena e seus olhos pequenos. Um sorriso duvidoso de quem não tem certeza se deve se aproximar e nossa filha ao seu lado, tão ansiosa quanto a mãe. Feliz por finalmente poder conhecer o pai.

Mas quem desce do carro e me recebe do lado de fora com um sorriso travesso é Christopher Becker. A lenda Becker. O cara esteve preso comigo há dois anos, e conseguiu fugir da prisão. Ele se tornou uma espécie de lenda lá dentro. Pouco depois, sua inocência foi provada, assim como o risco que sua vida correu enquanto esteve preso.

— Christopher? Não esperava você aqui — admito dando um abraço no meu amigo.

— Alguém tinha que recebê-lo aqui fora, não é mesmo? — brinca, observa-me dos pés à cabeça com uma careta nada boa. — Para poder avisá-lo que você está horrível, não pode procurar sua mulher assim.

— Não somos mais casados — constato aceitando que ela não veio.

— Mas você colocou a aliança de volta no dedo. Venha comigo, vamos comer alguma coisa e depois passar no barbeiro. É sério, JP, você está horrível!

Toco o cabelo desgrenhado e a barba grande demais.

— Talvez ela volte a me amar desse jeito, no modo rústico.

Ele me observa dos pés à cabeça mais uma vez.

— Eu acho que não — diz por fim.

Entro em seu carro, nem tento esconder a decepção por não ser ela, mas no fundo eu sabia, sempre soube. Laura não é uma pessoa que muda de opinião. Ela não é do tipo que perdoa. Ela me disse isso inúmeras vezes. Ela me deu uma única chance e eu a desperdicei da pior maneira possível.

Desde que errei - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora