Capítulo 3 - JOÃO PEDRO

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A pequena casa laranjada diante de mim tem o poder de fazer meu coração disparar como um louco. É fim de tarde, passei o dia ansioso por este momento, uma vez que Laura, nem Eva, estariam em casa mais cedo. As luzes estão acesas e a simples possibilidade de conhecer minha filha me deixa quase sem ar.

Respiro fundo antes de levantar a mão e bater de novo em sua porta. Ouço seus passos se aproximando, eles param quando ela se aproxima da porta e ela demora ainda um tempo para abri-la. Como se soubesse que sou eu do outro lado da porta. Como se pudesse me sentir como posso senti-la. Ainda assim a abre, minha corajosa mulher abre a porta.

— Boa tarde, Laura.

— Eva, vai brincar no seu quarto — ordena antes de passar pela porta fechando-a atrás de si.

Ela não pretende me deixar entrar.

— O que você quer? — pergunta olhando-me nos olhos. E não há qualquer vestígio do amor que um dia esteve presente neles.

— Ver minha filha.

— Você não pode vê-la.

— Não vamos começar uma discussão desnecessária sobre eu ser o pai dela, e, portanto, ter o direito...

— Direito? — pergunta e ri, ri alto, cheia de uma segurança que me fascina. — Você não tem direito a nada! Não vai ver a minha filha, não vai fazer parte da vida dela, se continuar insistindo com isso vou sumir com ela e você nunca mais nos encontrará.

Sorrio e sua confiança vacila um pouco, posso ver em sua postura, ela não esperava minha calma.

— Eu a encontraria, Laura. Ainda que você estivesse do outro lado do planeta, eu iria até você. Nem que eu tivesse que passar o resto da vida te procurando, eu a acharia. Tenho muito a te pedir perdão, mas não é o que vim fazer agora.

— Isso é ótimo! Não irei perdoá-lo, assim nenhum de nós perde tempo.

— Eu vim me desculpar com a minha filha.

— Ela não sabe que você existe, então não tem qualquer mágoa sobre você. Pode dormir com a consciência tranquila.

— Como não sabe que eu existo? Onde ela pensa que estou?

Ela deita a cabeça de lado, como se fosse me contar um segredo e aponta para cima, para o céu escurecendo acima de nossas cabeças.

— No céu! — sussurra.

— Você disse a ela que eu estou morto? — estou quase gritando e ela continua aqui, diante de mim calma, inabalável, inatingível.

— Me agradeça por eu ter dito que foi para o céu, se eu fosse ser um pouco sincera diria que você é amiguinho do próprio diabo.

— Não brinque comigo, eu quero ver a Eva!

— Mas você não vai!

— O que aconteceu entre nós é algo que temos que resolver, e estou bem ciente dos meus erros, Laura. Mas ela é minha filha! Você não pode realmente ter a ilusão de que vou aceitar não me aproximar dela! De que vou aceitar não fazer parte da vida dela, você acha mesmo que vou desistir assim?

— Como eu poderia saber? — finalmente seu tom de voz até então contido aumenta e seus olhos parecem lançar chamas. — Você desistiu dela muito fácil da primeira vez! Por que não faria de novo? Acaso perdeu o contato dos seus amiguinhos de crime?

— Eu mudei! Não vou magoar a nossa filha. Sei que você a está protegendo, você está certa, eu a admiro por isso. Mas eu te juro que não irei magoá-la. Não vou deixá-la, nem arriscá-la por nada, Laura.

Desde que errei - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora