4 - parte 2

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Eva foi à casa do avô todos os dias na última semana. Também parece apegada demais ao pai. De forma que estou prevendo o momento em que ele irá pedir para ficar a sós com ela, levá-la para passear ou para sua casa sem mim e direi não. Não estou pronta para que fiquem sozinhos com minha filha.

Tenho uma reunião em dez minutos e não encontro as contas que preciso apresentar. O contador, o senhor Ramon, tem feito pequenos desvios nos pagamentos da gravadora. Tentei falar com ele a sós, mas ele não quis me ouvir por eu ser mulher, mais nova do que ele e uma novata na empresa. Então ele vai ter que explicar essas contas para o chefe, Christopher Becker.

— Algum problema, Laura? — Elias, um colega de trabalho sempre gentil, pergunta.

— Se eu disser que perdi uma pasta importante para a reunião serei demitida?

— Não por mim, com certeza. Vamos procurá-la.

Ele me ajuda a revirar a mesa, até que tem uma ideia e a procura na mesa de Ramon. E o velho safado estava com a minha pasta.

— Olha só, que sem vergonha! — ralho chocada com sua audácia. — Estamos atrasados.

Percebo que ele quer dizer alguma coisa, mas deixa para outra hora, seguindo-me às pressas até a sala de reuniões.


A reunião dura bem mais do que o planejado, já que Christopher exige uma explicação de Ramon e isso nos leva por contas e contas, contratos, pagamentos, desculpas inacabáveis, a demissão do velho safado e uma reunião de pouco mais de três horas. Ao final, algumas pessoas ainda vêm me parabenizar, sendo Christopher o primeiro.

Enquanto caminho até minha mesa, sinto que algo está errado. É como uma premonição, coisa de mãe. Elias surge à minha frente antes que eu alcance meu celular.

— Laura, eu queria falar com você.

— É importante?

— Sim — responde depois de pensar por um tempo, parecendo um pouco nervoso.

— Tudo bem, pode dizer.

— Queria saber o que você vai fazer hoje, mais tarde. Chegou um circo novo aqui perto, pensei que talvez quisesse levar sua filha até lá. Ela vai adorar!

Pego o celular enquanto ele fala, e não tenho tempo de respondê-lo porque vejo seis chamadas perdidas da escolinha.

— Ah, meu Deus!

Tento ligar de volta, Luciana nunca me liga, a não ser quando algo acontece com a Eva. Mas as chamadas caem uma por uma na caixa postal. Começo a me desesperar. Eu fiquei horas demais naquela reunião, um atraso que eu mesma causei e não estava quando minha filha precisou de mim. Em segundos vários cenários se formam em minha cabeça. Em todos a minha falha como mãe acaba em algo ruim para Eva.

— Por que não deixei um contato de emergência? — Drika me lembrou diversas vezes de deixar o dela e nunca o fiz.

— Você quer ir até a escolinha? Eu posso levá-la — Elias oferece ao ver minha aflição.

— Você faria isso?

— Claro! Você tenta ligar do carro. Vamos.

Pego minha bolsa e o sigo imediatamente, quando o elevador abre e Eva aparece no colo de João Pedro. Ele a desce quando me vê e ela vem até mim.

— Mamãe, estou me sentindo mal. Eu vomitei na escola.

A abraço aliviada por ela estar bem e olho sua temperatura. Minha pequena tem o rosto em um tom esverdeado.

Desde que errei - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora