Quando Mu Qing acordou, a primeira coisa que ouviu foi o choro de uma criança. Deus apertou os olhos e os abriu devagar sem enxergar nada à sua frente, sentindo a cabeça doer e não conseguia mover as mãos para tentar se levantar. Ele soltou um murmúrio de dor e piscou algumas vezes, tentando fazer seu cérebro perceber que ele havia acordado. Sua boca tinha gosto de sangue e algo queimado que o estava dando um enjoo forte e por fim, seu corpo pareceu se mover em um espasmo e ele se apoiou em um dos braços para vomitar.
Recuperando o ar e se sentindo um pouco melhor, ele ergueu a cabeça e olhou diretamente à frente, arregalando os olhos para um pagode em chamas e corpos despedaçados espalhados a esmo pelo pátio do templo, agora destruído.
— O que... — começou a dizer com a garganta dolorida, mas sua voz saiu quebrada, tão baixa que ele mesmo mal ouviu.
— Deaozang Mu! — disse a voz de uma mulher e Mu Qing sentiu uma mão gelada em seu ombro. — Você está bem? Consegue se levantar?
Com dificuldade, ele tentou forçar o braço para erguer o corpo, mas apenas tremeu e caiu em cima da própria sujeira, soltando o choramingo de nojo e repulsa. Ele apertou os olhos tentando engolir a vontade de vomitar de novo e se concentrou, fazendo a energia espiritual correr por seu corpo apropriadamente para reaver o controle completo, se sentando devagar em seguida.
Ele encarou o chão onde estava, sem conseguir erguer os olhos direito pela claridade do fogo, reparando que a grama estava cheia de sangue, vômito e fuligem. Com uma careta, ele fechou os olhos de novo e ergueu a mão para a própria cabeça, tocando um lugar na parte de trás que latejava, sentindo ali um hematoma alto e uma crosta formada de sangue e cabelo.
— O que aconteceu? — questionou sem conseguir se situar e encolhendo os ombros para um grito repentino ao longe, mas que se encerrou do mesmo jeito que começou.
— O Zhu Xintong apareceu... — disse a mulher e Mu Qing a olhou, descobrindo ser Wu Wanli, mas sua voz estava tão rouca que ele nunca a reconheceria apenas por seu tom. — Ele... Ele queria Guang, ele mandou os servos a sequestrarem! Meu marido... aquele filho da puta... — Wu Wanli franziu o nariz e seus lábios tremeram. Mu Qing pensou que ela choraria, mas seu tom apenas se carregou com ódio quando ela continuou. — Aquele filho da puta Wu SiGon! Ele me prendeu em casa! Entregou nossa filha a alguns servos e os seguiu para o templo do demônio Zhu Xintong! Eu fui torturada por Huamei, aquela desgraçada, se não fosse por daozhang Feng... — Wu Wanli encolheu os ombros.
— Feng Xin... — murmurou Mu Qing ainda tentando recuperar as memórias, mas tudo era uma confusão de gritos. — Onde está Feng Xin? — perguntou calmamente e a mulher retesou os ombros, tremendo.
— Ele... eu não sei o que aconteceu com ele. O demônio Zhu Xintong deve ter feito algo... ele não parecia ele mesmo... — disse a mulher evitando os olhos de Mu Qing e ele franziu as sobrancelhas.
— Onde ele está? — Questionou mais firme e Wu Wanli apontou trêmula para o pagode em chamas. — Ele está ali? Ainda há monstros?
— Não... todos foram mortos. — disse a mulher engasgada e Mu Qing a encarou estreitando os olhos para ver melhor.
Em seus braços havia um embrulho pingando sangue e ela o apertava com força contra o peito.
O peito de Mu Qing afundou e imediatamente ele se moveu para perto, arrastando as pernas que estavam demorando a responder ao estímulo e arrancou o embrulho de seus braços com violência, rasgando os panos como se fosse uma fera.
Quando os olhos grandes e marrons de Guang o olharam, a menina riu soltando um balbuciar, alheia a toda a situação, parecendo muito feliz em ver os cabelos brancos e imundos de Mu Qing caírem sobre seu rosto e os agarrar.
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O tempo que podemos ter
Hayran KurguDepois dos acontecimentos no monte Tonglu, Feng Xin pensou que as coisas voltariam ao normal ou até mesmo melhorariam, mas pelo que parecia, Mu Qing possuía uma ideia diferente. O tratamento distante o incomodava e deixava a situação insuportável, m...