CAPÍTULO XVI

55 9 111
                                    

Primum oscula: primum choro, nunc primum


Por fim Andrew viu o dia amanhecer, não sabia porque mais ainda estava com o a pequena bolsinha com uma parte do corpo humano ali dentro. Queria saber como aquilo havia ido parar ali. Quem havia feito aquilo não poderia ser alguém de sangue frio. Mas porque logo pra ele? Que fim ele teria que enfrentar? A morte era mais perversa do que ele imaginava.

Clifford foi o segundo a acordar, logo sentindo o cheiro de algo podre invadindo suas narinas, tomando-o com sua putrefação.

— Andrew? Tá sentindo essa catinga? — Perguntou, virando-se para o amigo e vendo-o sentado, de pernas cruzadas, com um pano em mãos. — Ai meu Deus, Andrew, Andrew! — Exclamou, dando um pulo da cama e indo ao encontro de Andrew, que olhava tudo sem nenhuma emoção no rosto.

Stanford encarou Fleenor com olhos secos e sem vida.

— Ganhei isso de aniversário — comentou,  encarando Clifford com a boca escancarada, estava atordoado, não pensava direito e tudo ao seu redor parecia sem sentido.

— Meu Deus, sabe quem te deu? — Recorreu às perguntas, mesmo sabendo que não teria nenhuma resposta. Se houvesse as mesmas, Andrew já as teria dito, com absoluta certeza. Certo que eles haviam se familiarizado fazia pouco tempo, mas ambos se conheciam (quase inteiramente) e fizeram jus de que nunca mentiriam um para o outro.

— Que converseiro é esse? — Questionou Jose Reynolds, um garoto negro, de cabelos de mesma cor, olhando para os dois que conversavam meio que... alto demais.

— Olha...

— Deixa quieto, Clifford — Disse Andrew, encarando o amigo com um ar de autoritário.

Deixar quieto? No mínimo precisam aumentar a proteção da escola!

— Que foi que houve? — Indagou outra pessoa, que acabara de se levantar também.

Nada — Andrew pegou o presente e saiu dormitório a fora, desejando encontrar a paz. Podia ser em qualquer dia, menos no dia do seu aniversario.

Isso não pode estar acontecendo.

Isso não pode estar acontecendo.

“Ora, você é especial, Andrew”. Foi o que um dia o diretor dissera, mas ele não se sentira assim desde então. Se sentia como um azarado que não parava de receber más notícias.

O corredor estava completamente vazio, indicando que quase ninguém estava acordado. Andrew atravessava passagens, dobrava para os lados e não via nada nem ninguém, sequer a saída da escola.

Enquanto andava viu uma grande janela, que revelava o curto amanhecer lá fora. Andrew olhou a paisagem, muito além do que a natureza, lá havia uma pessoa. Uma garota.

Ela estava dançando, seus traços orientais balançando para lá e para cá, os cabelos perfeitamente lisos e a pele branca sendo reluzida pela fraca luz do sol nascente. Não era uma hora muito boa para encontros.

Os pássaros cantavam uma cantiga como Andrew nunca ouvira, parecia que todos queriam vê-la dançar. Uma aura começava a rodear a garota, como se quisesse dançar com ela.  Ela era rosa, com pequenos pingos de amarelo-dourado, que assemelhavam-se a estrelas. Como borda, dançava paralelamente uma aura azul-claro, tudo em perfeita harmonia. As pernas de Mingmei começavam a se movimentar com o corpo, ao som das cantigas dos pássaros e o vento que agora batia na janela onde Andrew a olhava, admirado.

O Outro Lado Da Moeda [CONCLUÍDO] Onde histórias criam vida. Descubra agora