CAPÍTULO XXXII

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Daeumonun instinctu corpus meus exhausit


E o dia amanheceu como um predador na floresta: silencioso e frio. Os dias não estavam os melhores para ninguém, nem mesmo o frescor de um café da manhã estava sendo bom dessa vez.

Andrew comeu um pouco das frutas que Melvin conseguira colher aos arredores da caverna, mas a todo momento ele desejava que pudesse estar saboreando alguma deliciosa sopa da sua querida escola; Clifford comia com gosto tudo o que tinham, o garoto estava ansioso para calar a boca do bruxo que agora ele mais odiava. Se havia uma coisa que o garoto odiasse mais do que a Merlin, seria o dia em que se deixara enganar por uma pessoa que poderia, facilmente, ter sido evitada. Isso fazia com que o garoto se martirizasse todos os dias por conta de sua má decisão; Melvin, por outro lado, apenas guardava um rancor sobrecomum de acabar com tudo aquilo e enfim, vingar a morte de todos aqueles que morreram em seu nome nessa maldita guerra. Nunca iria se perdoar por ter traído quem mais confiava nele. Ele tinha sido praticamente tudo para aquelas pessoas.

— Bem... terminamos. — Melvin se levantou de onde estava e começou a caminhar em direção à claridade. Queria poder ver a luz do sol pelo menos uma última vez...

— Que horas o Estatuto abre? — Questionou Clifford, já pensando na melhor emboscada para poderem entrar no local sem serem notados. Se Merlin e seus homens estivessem lá, teriam que manter seus disfarces a todo custo.

— Eu sei que você está ansioso, Clifford — Disse Melvin, fazendo o garoto dar um pé atrás —, mas você têm que saber que essa ansiedade toda pode fazer nosso plano ir ladeira abaixo. Entendeu, Andrew? — Ele se  referia ao outro porque sabia que o garoto não batia bem da cabeça quando a emoção o dominava, e por esse motivo temia que o plano todo pudesse ruir.

— Eu fiz o quê?! 

— Você é o bruxo mais perigoso por aqui. — O professor voltou a olhar para o céu que agora começava a adquirir um tom alaranjado com traços de rosa. — Temos que ser cuidadosos... quem está pronto? — Ele se virou para os seus alunos com um sorriso no rosto, mentalizando que tudo iria dar certo. Não podia ser pessimista, não agora.

— Eu estou — respondeu Clifford, sentindo o sangue pulsar dentro das veias como cargas elétricas. O seu olhar não negava: ele não perdia por esperar. — Accio... — Em poucos segundos, a sua arma dourada estava em mãos.

— Mas que lindas, quem as deu? — Melvin se arrependeu de ter perguntando aquilo quando obteve a resposta.

— Rowell nos dera eles no dia em que ele morreu... — Andrew riu fraco. — Irônico, não? Parece até que ele sabia que iria morrer... — a frase ficou solta no ar com um quê de curiosidade e suspense.

— Na verdade... acho que ele sabia — A voz de Melvin saiu como um sussurro de sua boca, inebriante aos ouvidos dos demais.

— O quê? Como assim ele sabia? — Inquiriu Andrew, os olhos se arregalando somente com a suposição do diretor saber o momento de sua morte e nunca tê-los avisado.

— Por isso que ele estava falando metáforas sobre a morte para nós... — se viu pensando Clifford, relembrando mentalmente sobre as palavras que Rowell dissera antes de eles entrarem no castelo da escola.

— Mas... como? Seria possível ele saber? — Melvin respirou fundo, se culpando mais uma vez por ter traído os seus.

— Em um certo dia logo depois que eu me tornei professor da escola, eu o vira gritando em seus aposentos, enquanto falava algumas coisas que eu não consegui entender — Melvin olhou de relance para o lado, se lembrando daquele dia. — A voz dele parecia... diferente. Era como se não fosse a voz natural dele mas, sim, de outra pessoa...

O Outro Lado Da Moeda [CONCLUÍDO] Onde histórias criam vida. Descubra agora