32 - O dia em que a Wendy surta

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Passo a mão pelos fios compridos, que insistem em cair nos meus olhos. Encaro a mulher com o rosto vermelho de raiva a minha frente, batendo a ponta do pé incessantemente no chão mal conseguindo conter sua inquietação.

- Noah eu vou te dar um voto de confiança, o último, já que pelo visto você tem me enrolado a um bom tempo -Wendy dispara, em uma falsa calma

- Eu e Cassie acabamos nos pegando algumas vezes -Falo. Não que isso seja mentira

Seu olhar desconfiado cai sobre mim, julgando ate minha última célula se dessa vez eu estou dizendo a verdade.

É bem simples o motivo que não abro o jogo dizendo que as coisas entre nós já passaram desse estado, ela teria um reação horrível, se não morrer de infarte ou desgosto. Se é que isso é possível.

Sei que o que estou fazendo é errado, e que esta virando uma bola de nove. Mas estou me vendo em uma encruzilhada, sem saber o que fazer, ou falar.

Wendy passa a andar de um lado para o outro, me olhando vez ou outra e mantendo uma feição pensativa, imensa em suas ideias que não serão proferidas tão cedo. Observo seu movimento agoniado e impaciente, sua demora em responder esta deixando nítido que coisa boa não ira vir.

- Quero que saiba que você esta me fazendo tomar essa decisão, eu conversei com você antes dela vir, deixei claro e pedi para que não criasse um vínculo além de amizade -Seus olhos encontram com o meu, sérios e determinados

- Mãe eu não consigo controlar as coisas -Me defendo

Seus ombros balançam mostrando sua indiferença ao meu comentário.

- Mesmo que ainda falte um mês para ela voltar vou adiantar sua ida -Ela fala firme, sem vacilar ou com qualquer fagulha de que esteja blefando

Meu corpo trava, e a ideia absurda da mulher ecoa em minha mente, transformando minha calma em desespero.

- O que? -Grito descrente

- Eu vou mandar Cassie embora, por sua culpa Jacob -As palavras saem entre pausas

Começo a rir descontrolado, pensando o quão patética esta sendo a situação que ela está criando.

- Você só pode estar de sacanagem -Falo entre risos ainda sem acreditar

- Olha pra minha cara e vê se eu to brincando

Fito seus olhos sérios, carregados de convicção. Wendy esta certa do seu pensamento e não vai voltar atrás. Ela não vai voltar atrás.

- Qual o seu problema? -Me descontrolo- Como você mesmo falou ela só tem um mês! O que que custa deixar ela ficar aqui?! -Grito desesperado

- Abaixa o seu tom mocinho -Ela me repreende irritada

- Você ao menos escutou o que tu disse? O que papai falou? Ele concorda com isso? -Disparo

Sinto meu corpo entrar em combustão, usando como combustível o medo, raiva e desespero. Giro meu corpo dando as costas para ela atormentado com a notícia. Logo agora que tudo estava bem, estávamos tão bem.

Quando noto minha visão esta borrada pelas lágrimas, escorrendo compulsivamente pelas bochechas. Sentindo o pavor de perder Cassie me dominar, com isso minhas mãos começam a tremer violentamente e preciso apertar a calça de moletom para conter.

- É isso? Você vai mesmo manda-la embora? Sua consideração por ela ficou onde? Deve ter ficado na casa dos Collins -Disparo abatido, encontro seus olhos e apenas consigo encontrar seriedade refletida em sua íris- Espero que fique feliz com isso -Digo por fim

Meu peito dói de uma maneira que nunca havia sentido antes. Meu corpo todo treme e minha visão consiste apenas em borrões.

Encosto a cabeça na porta, culpado o suficiente para não querer encara-la e dar a notícia, ter que ver seu rosto magoado e triste vai me destruir de diversas formas diferentes.

Junto minha coragem, ou o que sobrou dela e entro, fungando e secando as lagrimas com força no punho do moletom. Não preciso erguer muito minha cabeça para encontrar seu corpo encolhido no canto da cama agarrada ao cobertor, seus olhos brilham, mas da forma que nunca gostei de ver.

O brilho vem das lágrimas que caem silenciosamente, o choro ate então contido dispara quando ela nota meu estado. Um soluço escapa da sua garganta e ela desata a chorar. Mordo meu lábio tentando conter o choro, mas como prevejo não da certo.

Corro ate Cassie e a envolvo em meus braços a puxando para o meu colo, espremendo seu corpo contra o meu desejando poder arrancar sua dor, desejando poder falar que tudo vai ficar bem, que nós vamos ficar bem.

Mas de que adianta criar falsas esperanças?

- O que ela disse? -Ela pergunta fraco

Balanço minha cabeça, me negando a sequer repetir a frase. Sentindo meu coração pesar apenas por lembrar, afundo minha cabeça em seu pescoço, fungando mais uma vez e tentando me livrar do nó em minha garganta.

- Noah por favor eu preciso saber -Sua voz falha

Meu queixo é erguido mesmo comigo relutando, me fazendo olhar seus olhos avermelhados e seu rosto levemente inchado.

- Eu não consigo -Murmuro com dor

A pele macia de seus lábios encontram o da minha bochecha, depositando um beijo demorado. Ela se afasta e me olha entristecia, abaixando minha cabeça e beijando minha testa.

Tento gravar a forma que seus olhos tentam me olhar transmitindo segurança, como seu queixo treme quando um sorriso ameaça surgir, ou como seus dedos alisam minha bochecha em um carinho delicado.

Tento gravar a forma que seus olhos brilham quando algo novo chama sua atenção ou apenas quando alguem sugere uma ida a sorveteria, em como seus olhos reviram de forma dramática mesmo que um sorriso esteja estampado em seu rosto, ou como sua risada tem uma melodia doce.

Nossos corpos encaixam tão bem, nossos lábios parecem conhecer um ao outro a séculos e nosso calor trás uma sensação de segurança, de lar.

Com tudo isso consigo apenas chegar a conclusão que eu não posso perder Cassie.

Eu não quero perde-la.

Saio do meu mundo e encaro a realidade, que tem apenas esmurrado meu rosto sem piedade. Procuro as mãos dela e a aperto entre as minhas, entrelaçando nossos dedos em seguida. Levo-as ate meus lábios e deixo um selar carinhoso.

Covarde desvio meus olhos da minha perdição e fito minha guitarra do outro lado o quarto.

- Minha mãe que te mandar de volta -Disparo

Sem coragem para ver sua reação apenas a abraço, voltando para meu pequeno mundo onde nós estamos bem e felizes, e que a ideia da minha mãe não passou de um blefe.

Permanecemos assim, agarrados um ao outro, imersos em nossos pensamentos aflitos. Sendo cobertos pelo silêncio que vez ou outra é quebrado pelo soluço sofrido da francesa, quebrando meu coração banhado em tristeza.

- Me desculpa Noah -Cassie funga- Me desculpa por tudo

Desesperado busco seu rosto a forçando a me encarar, seus olhos tentam fugir mas sempre voltam a mim.

- Cassidy me escuta, nada disso foi sua culpa -Falo firme

Sua cabeça cai afundando em meu pescoço me deixando sem resposta, suspiro pesado e seco minhas lagrimas com força, encostando minha bochecha em sua cabeça, e me permito sumir em meus pensamentos. Me isentando da realidade, a qual não sinto a mínima vontade de estar no momento.

Something On You / Noah Urrea Onde histórias criam vida. Descubra agora