— O que exatamente você pretende fazer comigo? - Perguntei atraindo sua atenção do prato de comida para mim. Ele sorriu de lado e voltou a levar a colher cheia até sua boca. Suspirei.
— E então?
Derrubou as talheres expressando sua irritação e me fuzilou com os olhos. Ele não tinha paciência alguma. Mais uma vez permaneceu calado. Me levantei da cadeira onde estava, me sentei na mais próxima a ele e o encarei sem piscar.
— Você vai me contar ou não? - A resposta já era evidente mas eu iria insistir. Necessitava saber se o que tivemos foi apenas uma vez, se meu destino nas mãos dele é apenas para o dinheiro ou se ele pretende me matar, embora não acredite que a última opção seja considerável, nunca se sabe.
— Não. E pare de me encher! - Arrastou sua cadeira abruptamente e foi-se para a sala deixando o prato para trás. O jeito marrento que ele possuía me atraía de certo modo. Eu estava completamente maluco.
Já imaginei a possibilidade de tudo ser apenas um de meus sonhos malucos e totalmente desprendidos da realidade. Mas por quê eu não acordava?
Segui seus passos até o sofá e novamente sentei ao seu lado lhe encarando mais ainda. Ele não ligou, nem fez questão de me olhar de volta. Apenas se preocupou em encarar o nada. Eu já havia notado algumas manias típicas dele. Ele tinha diversos cortes que eu percebi na noite em que transamos, alguns pareciam ter sido feitos por faca.
— Olha...Eu só quero saber o que vai acontecer com "a gente" depois disso tudo - Elevei minha mão a altura da sua e as uni. Ele automaticamente devolveu o olhar.
— Eu confio em você - Disse me deixando sem entender nada. Franzi o cenho.
— O que quer dizer ? - Aproximou-se dos meus lábios e me beijou.
—Você vai entender - Indagou se retirando mais uma vez.
Que droga!
Passamos a amanhã inteira sem dizer nada um para o outro e isso me incomodava bastante.
Se ele havia percebido algo na noite anterior, eu não tinha certeza. Mas a mudança em seu comportamento foi indiscutível. Ele sempre foi marrento e um tanto rude mas no momento ele estava sendo o dobro. Não dirigiu uma palavra a mim ainda e não respondeu minhas chamadas de hora em hora. Eu precisava saber o que se passava naquela cabeça.
Se ele desconfiasse do que eu tinha feito provavelmente as consequências seriam severas... Passei a mão sobre a cicatriz no meu braço lembrando de seus castigos. Mas esse não era, de fato, o que me incomodava. Eu estava chateado pelo gelo que ele estava me dando.
— Hey! - Chamei sua atenção. Ele subia as escadas e ao ouvir minha voz parou por uns segundos e voltou a subir.
Parecia ser pior que a tortura que ele aplicava fisicamente. Estaria eu me apaixonando pelo meu sequestrador? Síndrome de Estocolmo é uma opção que eu estou passando a cogitar. Não só cogitar como também estava passando a aceitar.
Sentei no sofá e fiquei lá esperando ele descer, observando o nada como sempre. E se ele estiver no quarto onde eu quebrei o vidro do retrato?
Me apavorei. Me levantei do sofá e suspirei pesadamente subindo as escadas. Minha mão deslizava sobre o corrimão. Olhei as portas respectivamente e vi uma entreaberta, a do meu quarto. Abri devagar fazendo um barulho rangedor típico de portas e vi seu corpo estirado sobre a cama.
A respiração acelerada dele fazia com que sua barriga subisse e descesse, no meio de suas pernas um volume recheado chamava a atenção. Seu torso despido brilhando de suor passava a me excitar. A imagem a frente era um deleite, mas não sabia se poderia me deliciar.
Me deitei ao seu lado e virei o rosto para poder encara-lo. Ele devia está dormindo, ou talvez me evitando.
Coloquei minha não no seu peito e percorri todo o caminho para a aba de sua cueca e subi de volta fazendo movimentos circulares. Foi perceptível ao meu toque o aceleramento de seu coração, fazendo o meu acelerar automaticamente e me deixando mais feliz.
Me aproximei e encostei a cabeça em seu ombro aspirando o cheiro intoxicante que ele tinha.
A excitação havia passado e tudo que senti depois foi uma calmaria. Algo bom, uma sensação de paz. Fechei os olhos e o puxei para mais perto de mim.
(...)
Ah não, não, não, não!
Eu não acredito! Que merda tá acontecendo? Onde eu tô dessa vez? Por que não consigo mexer meus braços e nem abrir os olhos?
Revisado
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O Último Sequestro
Mystery / Thriller[Completa] [Em Reconstrução] O que fazer quando se é sequestrado por um sádico psicopata? (Suspense/Romance/Gay) #05 Em mistério/suspense #01 Em Gay #08 Em LGBT [+18]