O Último Sequestro

Capítulo 15 - Peças Soltas

"Você não entende"

"Você vai entender é uma pessoa inteligente"

Um enigma? Ou uma conversa confusa que não me levaria a lugar algum senão gastar meus neurônios e me deixar mais confuso. De qualquer forma, não importava, pelo menos não no momento em que todos estão reunidos na sala - incluindo a mim - esperando pelo tal chefe daquela "organização".

Não sei ao certo em qual posição eu estava, mas sentia corpos me pressionando dos dois lados então provavelmente eu estava no meio. Ninguém dizia nada, a situação me agoniava.

— Que horas você disse que ele vem?

— Eu não disse - Ouvir sua voz me fez sorrir, ainda mais por sentir que ele estava do meu lado.

— Por que a bichinha tá sorrindo? Vou tirar o sorriso dessa boquinha - O sorriso morreu ao ouvir a voz do outro. Até abaixei a cabeça tentando não ser o centro das atenções.

— Deixa o cara - Meu sequestrador disse.

— Não é você que decide o que fazer com ele.

— E nem você! Então fica quieto e espera o 14 chegar pra decidir - Retrucou irritado. Eu conhecia os limites da sua paciência e poderia dizer sem problema algum que eram até curtos demais. O espanto maior foi pelo "14", era assim que chamavam ele?

O outro cara se calou depois de soltar um sonoro "rum!" Na minha direção e eventualmente na direção dele.

O tempo de espera foi de 15 minutos mais ou menos até que a porta fosse escancarada com seu som típico.

— Até que enfim, 14. Que demora hein - Alguém do meu lado disse.

— Silêncio, e o que ele faz aqui? - A voz do homem me era estranhamente familiar, entretanto, minhas lembranças não me traziam nada.

— Achamos que fosse querer vê-lo antes de tudo - O cara das gracinhas respondeu.

— Já vi o bastante. Alguém o leve de volta e certifique-se de que ele não ouça nada - Senti duas mãos de pessoas diferentes encostando em mim e sobressaltei.

— Eu levo, sem problemas - Meu sequestrador disse ao outro que pareceu concordar. Logo estava sendo arrastado dali com brutalidade. Encenação? Talvez, mas não devemos descartar que o cara com quem estou lidando é um sádico. Aliás, todos são.

— Não faça nada que me prejudique ou pior que prejudique você - Me colocou sentando de volta sobre a cadeira e disse em sussurro novamente. Achei suas palavras fofas embora eu estivesse amedrontado.

Tampou meus ouvidos com fone e saiu.

Mesmo que não demonstrasse, eu estava quase pirando internamente. Eu queria gritar e poder dizer o quanto eu estava com medo... Mas pra quem? Havia umas 5 pessoas naquela sala discutindo meu possível futuro e eu não podia participar, ou pelo menos ficar sabendo se viveria ou não.

Não conseguia entender o porquê daquilo. Se era dinheiro então por que não pediam logo? Bastava um telefonema, meu pai atenderia.

No mesmo instante bateu a saudades de tudo que não via a meses. Talvez eu fosse chorar.

(...)

Escuridão, primeira coisa que notei ao abrir os olhos novamente. Que lugar era esse? Diferente do anterior. Quanto quartos ou porões essa casa deve ter? O mais importante é que estava sem vendas e desamarrado.

— A única coisa que você faz é se questionar desde quando chegou aqui - a voz dele me fez pular de susto de onde estava.

— O que quer dizer ?

— Seus olhos dizem quando está confuso, não devia deixar isso acontecer.

— Onde estão os outros? - Ele abriu a janela enquanto eu perguntava. Dia.

— Isso importa ?

— Então o que importa ?

— Me diz você. O que quer saber ?

Fiquei um tempo olhando em silêncio pro seu rosto.

— Por que eu ?

— Seu pai tem uma dívida com 14, ele só tá cobrando - Sentei de volta no chão com a informação. Como assim?

— Confuso de novo, não é pra menos.

— Em dívida pelo que?

— Pelo que ele tirou do 14.

— E o que ele tirou dele?

— A felicidade, nada mais justo do que 14 tirar a dele, na cabeça dele ao menos - Se sentou ao meu lado.

— E como isso termina?

— Eu não vou deixar terminar.

— O que quer dizer ?

Se levantou e saiu do quarto passando a chave na porta e me deixando sem reposta. Uma pequena luz vermelha que antes não estava agora me chamava a atenção, uma câmera, ótimo. Andei até a janela e olhei pra onde dava. Era alto demais e além disso, havia um buraco cavado em toda aquela extensão. Estávamos no meio da floresta e de longe percebia - se algumas montanhas e um enorme paredão de pedra.

Escapar não dá.

Revisado