Por que?
Eu realmente não entendia. Depois de tudo que fizemos, depois de tudo que eu fiz ele continuava o mesmo. Não sei se ficava com ódio ou se chorava desesperadamente. Milhões de teorias e paranóias surgiam na minha mente junto de um turbilhão de sensações e nenhuma delas me trazia a reposta desejada. Ele fez o que fez.
Noite ou dia, eu não não ligava mais pra isso. Acho que a sensação era de coração quebrado, mas antes de qualquer conclusão precipitada ou inusitada, eu esperaria uma resposta.
O som rangedor da porta se abrindo me fez voltar do mergulho de paranóias, encarei de onde vinha a luz percebida através da venda e ouvi seus passos para mais perto.
— Por que? - Eu perguntei quase chorando. Ele colocou uma mão sobre meus cabelos afagando-os de leve e rapidamente pra depois da uns "tapinhas".
— Me solta! - Me esquivei. O toque era diferente, uma mão mais pesada e grande. Logo estranhei.
— Abre a boca - A ficha caiu. Era outro cara, outra pessoa. É claro, ele não podia deixar seus "amigos" me verem solto pela casa e ainda por cima transando com o meu sequestrador. Mas por que ele não me disse nada?
— O que você quer ?
— Olha, você tá afim de comer ou não? - Wow. A voz dele era extremamente grossa.
— Não quero, pode ir embora - Recusei.
— Você não tá em condições de recusar nada não e a julgar por esses cortes no seu braço você já sabe que meu amigão não tem paciência nenhuma pra rebeldia de adolescente - A vontade de rir era grande, e se ele soubesse o que eu e seu "amigão" fizemos aqui nessa casa? Será que ele ainda ia ter essa moral toda?
— Então manda ele vir me obrigar! - Desafiei sorridente. Eu não podia ver seu rosto mais com certeza estava com dúvidas.
— Olha só, quer dizer que você vai querer brincar? - Retrucou sorrindo e acertando mais de seus tapinhas no meu rosto. Ele tinha uma necessidade estranha de me insultar em cada fala terminada.
—Vou! E aí, vai chamar ele ou vai continuar discutindo comigo? - Demonstrar à ele que eu não dava a mínima aos seus rótulos o tirava do sério pelo que percebi.
Passos, mais passos e mais passos, agora haviam duas pessoas comigo.
— Por que a demora ? Ele já vai chegar pra discutir o plano - Reconheci a voz dele. Sorri instintivamente.
— Sua donzela se recusa a comer. Dá um jeito nisso! - Os passos seguiram de volta até a entrada eu creio e pararam mais uma vez.
— Ah e pode usar a faca se quiser, ele tem uma língua afiada - Completou antes de seus passos se tornarem inaudíveis.
— Por que não disse pra mim? - Ouvi a porta se fechar e ele tirou minha venda com brutalidade.
— Te dizer o que ?
— Que estavam chegando mais, eu aceitaria que você me colocasse aqui numa boa, era só ter dito - Olhava pra mim desatando minhas mãos enquanto eu falava.
— Você não entende, é complicado demais, você tá complicando tudo - Me libertou e pôs o prato sobre minhas pernas.
— Eu? Como eu posso estar complicando tudo?
— Explicar eu não posso, mas vai entender... É inteligente, eu sei que é - Se abaixou a altura de meus joelhos e continuou a me olhar.
— Só me diz que você não vai me largar e sumir da minha vida.
— Eu preciso... - Ele não demonstrava emoção nenhuma ao dizer aquilo ou qualquer outra vez que ele abriu a boca. Tocou minha coxa e prosseguiu;
— Você vai ficar bem, eu não deixo ninguém te machucar, prometo - Se levantou cruzando os braços e fez um sinal olhando pro meu prato. Era uma ordem.
Comecei a comer enquanto ele me assistia, a conversa não foi tão satisfatória, mas se ele prometeu não deixar ninguém me machucar então eu acreditava nele. Mas e enquanto a alguém machucá-lo pelo que ele está fazendo?
Assim que terminei ele retirou o prato de mim colocando em cima de uma pequena cômoda e voltou a amarrar minhas mãos.
— Não responda ele de novo. Já vi o que ele faz com pessoas como você que o desobedecem - Alertou.
— Pessoas como eu? Como assim? - A curiosidade voltou a falar mais alto.
— Sua sexualidade... Ele diz que acha garotos gays mais frágeis que qualquer outro e por isso ele sente prazer em torturar - Raiva e medo insistiam em brigar pelo espaço na minha consciência novamente.
— Que cara idiota!
— Eu sei, mas ele não, e não vai gostar de saber - Nisso começou a me vendar.
— Por que você não foge comigo ?
— Daniel, você não entendeu... Isso é muito maior do que você pensa - E saiu.
Um nó, era a descrição perfeita para a situação. Tudo bem, eu sou inteligente, eu consigo ligar os fatos ou pelo menos tentar. Bom, eu tinha tempo de sobra pra trabalhar isso e com "sorte" ninguém me atrapalharia.
(...)
— Acorda, hora do banho! - Senti um balde de água gelada sendo jogado em mim. De susto eu cai pra trás com a cadeira, ouvi risos vindos à frente.
— Dormiu bem? - Era aquele panaca.
— Tá na hora de trocar de roupa - Ele puxou minha venda e me desamarrou. Eu estava com tanto ódio que não me segurei e dei um soco em seu estômago.
Ele segurou meu braço e torceu para trás me imobilizando.
— Hey! Nada de rebeldia comigo, precisamos de você vivo, mas não inteiro - Sussurrou me prendendo o bastante pra me fazer parar de me debater.
— O chefe tá vindo aí e aí gente quer você apresentável pra ele, qualquer palhaçada ou tentativa de fulga da sua parte, vai terminar com você ensopado de sangue e gritando muito.
Revisado
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O Último Sequestro
Mystery / Thriller[Completa] [Em Reconstrução] O que fazer quando se é sequestrado por um sádico psicopata? (Suspense/Romance/Gay) #05 Em mistério/suspense #01 Em Gay #08 Em LGBT [+18]