Capítulo 2

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"Estou acordando, eu sinto isso em meus ossos, o suficiente para fazer meu sistema explodir.
Bem-vindo à nova era, à nova era.
Bem-vindo à nova era, à nova era." - Radioactive // Imagine Dragons

Acordo no escuro. Não sei onde estou, mas o cheiro não é agradável. Cheira a flores e velas baratas. Por Deus, onde estou? Fecho meus olhos, instintivamente é assim que reajo a qualquer situação que me assuste como agora. Minha cabeça dói, ponho minha mão e sinto... sangue? Sim, sim. Sangue fresco, meu sangue.

Tento me recordar do que aconteceu, como cheguei até aqui e, o mais importante, onde é aqui? De repente a sensação de medo me paralisa, mas ainda assim abro meus olhos novamente, numa tentativa frustrada de enxergar algo, mas está realmente muito escuro.

Tento me concentrar em me manter calma, isso não dá muito certo. Sinto o fôlego preso, não consigo respirar. Nem sei onde estou, talvez esteja tudo bem. Preciso me manter calma. Me forço a levantar mesmo no escuro. Tem espaço, pelo menos isso. Estou tonta, como se tivesse bebido muito, mas se bem me lembro não bebi nada. Procuro meu celular no bolso da calça e só então me lembro de que não estou usando uma, quando noto o tecido do vestido que minha mãe me deu. De repente o medo é substituído por um sentimento mais forte e já tão conhecido por mim. Raiva.

- Não tem graça, seus animais! - grito, no escuro. A raiva é evidente em minha voz.

Ouço um barulho de algo se quebrando um pouco atrás de mim e em seguida risadas, mas não consigo ver ninguém na escuridão.

- Eu tô dizendo pra parar com essa merda logo, eu tô ficando irritada.

Eu quero dizer assustada, mas eu não posso admitir isso em voz alta. Mais sons de risadas e passos no escuro alcançam os meus ouvidos.

- Qual é, gente? - digo, dessa vez com menos raiva, pois o medo está voltando novamente. - Tantas pessoas pra vocês zoarem e escolheram logo eu? Eu nem queria vir pra essa droga de festa. - Sinto vontade de chorar, mas não irei fazer isso. Não quando imagino que seja isso que meus malditos colegas querem. Ver a garota durona chorar.

Caminho no escuro, tomando cuidado para não cair, pois além de não haver luz, estou realmente muito bêbada ou... Drogada. Tropeço em meus próprios pés, e alguns segundos depois sinto algo tocar em meu braço. Grito de susto e ouço mais risadas. Nesse momento luzes são acesas e após algum tempo consigo me acostumar com a luz e finalmente enxergar onde estou.

Recordo-me muito bem desse lugar. É uma pequena capela. Fica dentro do cemitério, foi exatamente aqui que velaram meu melhor amigo. Isso não é engraçado. Quando eles vão aprender? Sinto as lágrimas que tanto reprimi surgirem em meus olhos e os fecho para impedir que elas caiam. Não adianta muito.

- Isso não tem graça nenhuma, seus idiotas! - grito, com a voz embargada pelo choro.

- Drisa! - A voz de Daniel traz de volta a raiva dentro de mim, então limpo as lágrimas ao vê-lo entrando na capela. - Você tá bem?

Empurro-o antes que ele possa me tocar e ele me olha magoado. Procuro os outros malditos pelos arredores, mas só vejo velas queimadas e flores mortas em jarros. Não há mais ninguém, além de mim e Daniel.

- Acha isso engraçado? Me acertaram na cabeça e me trouxeram pra esse lugar. O que vocês pensam que estão fazendo?

- Eu... Eu não fiz nada, Isa... Eu só não te encontrava em lugar nenhum e um menino disse que te trouxeram pra cá, eu fiquei louco... Vim correndo te encontrar.

- Ah, claro! Porque você é meu herói...

- Isa... Não debocha, por favor... Eu fiquei preocupado. Você tá sangrando? - Ele tenta encostar em mim novamente, mas bato em sua mão sem delicadeza alguma.

Caleb - Não olhe. Não grite. Não corra. Onde histórias criam vida. Descubra agora