“Eu sou cada pesadelo que você já teve. Eu sou o seu pior sonho se tornando realidade. Eu sou tudo o que você sempre teve medo” – It – A Coisa
Sorrio para a diretora e digo um obrigada abafado por seja lá o que for que estou sentindo agora e saio da sala, minha mãe vem logo atrás.
— Você disse que sua câmera estava quebrada, Drisa!
E está, mamãe. Em algum lugar dessa merda de escola.
— Eu me enganei, desculpe.
Minha mãe me olha de maneira preocupada, depois suspira e segura meu braço devagar.
— O que você não está me contando, Isa? — indaga. Desvio meus olhos dos seus e prendo a respiração por dois segundos.
— Você não iria acreditar. — Meus olhos estão marejados e sinto os de minha mãe pesarem sobre mim.
— Você me conta e eu decido se acredito ou não.
— Você não vai. — Levanto meus olhos e observo as pessoas ao meu redor evitando o olhar da mulher em minha frente.
— Filha, eu quero te ajudar, mas pra isso você precisa me contar o que está acontecendo. Aquele rapaz que encontrou sua câmera é o mesmo que te levou pra casa naquele dia...
— Eu sei, ele me disse... — digo, baixinho. Apesar disso minha mãe escuta e me olha com uma expressão que não sei identificar. — O que foi? — indago.
— Não gostei dele. — Minha mãe solta meu braço, percebendo que ainda me segurava.
— Por que?
Os corredores começam a ficar movimentados no momento em que o sinal é tocado. Olho para minha mãe, esperando sua resposta que não vem. Ela apenas suspira, beija minha testa e diz:
— Conversamos em casa. Só não se atrase pra aula.
Afirmo com a cabeça de maneira hesitante e a vejo se perder em meio aos alunos. Vou até algumas estantes com troféus e medalhas da escola, e espero atrás de uma delas. Assim que os corredores ficam quase vazios ouço os passos de Caleb. Antes que ele passe, atravesso em sua frente. O rapaz para sem parecer surpreso, como se já suspeitasse de minhas ações desde o início.
— Olá, Drisa. — Seu tom é mais rouco do que o habitual. Chega a soar sedutora a forma que ele pronuncia meu nome. — No que posso ajudar?
— Você sabe muito bem, não se faça de idiota. — Entrego a câmera novamente embrulhada ao rapaz, ele a segura com relutância.
— Ora, ora. É assim que você trata seus amigos?
— Não somos amigos
— Ah, não? — Ele põe a palma de sua mão livre no peito, para parecer ofendido. — Achei que fôssemos, até te comprei um presente.
— Eu não pedi nada a você!
Caleb ri, parece se divertir sempre que consegue me deixar fora de mim.
— Amigos não precisam pedir presentes...
— Por que comprou a merda de uma câmera nova? Como sabia que a minha quebrou, e por Deus, por que você tá fazendo isso comigo? — Este seria um bom momento para eu me trancar no banheiro e chorar até não poder mais, contudo me controlo.
Caleb suspira e assume uma postura impaciente.
— Você faz perguntas demais.
Ele tenta passar por mim, mas me ponho diante dele novamente e seguro seus braços que não estão tensos embaixo das mangas de sua camisa vermelha. Estranhamente ele parece totalmente relaxado. Me olha atentamente, sei que deveria dizer alguma coisa, mas me perco momentaneamente em seus olhos castanhos, misteriosos e profundos, como um rio. Um rio que poderia me trazer extrema beleza ou extremo horror.
— Eu sei que você está escondendo alguma coisa de mim, sei que sabe mais do quê está me dizendo — finalmente digo, tentando não soar tão desesperada. — Se não pode me dizer, apenas pare de fazer esses joguinhos comigo. Eu não sou a droga do seu brinquedo.
Me afasto dele e dou-lhe as costas. Ouço ele chamar meu nome, porém ignoro. Vou até a sala de aula. Alguns minutos depois ele também entra, mais atrasado do que eu.
📖📖📖
Bianca não veio à aula hoje, e não cruzei com ela nos corredores. Então decido ir até sua casa no fim das aulas, pois ela ainda me deve respostas. Pego meu celular com seu Jorge e dou-lhe um sorriso fraco quando ele me diz para ir com cuidado.
A casa da garota não é das maiores, mas também não é tão pequena quanto a minha. Paro diante da casa antes das 18h00 e apesar de já ter passado muitas vezes por aqui, percebo que nunca entrei dentro da casa da garota.
O portão está aberto, então não chamo ninguém. Apenas entro. Sinto um arrepio passar pelo meu corpo no momento em que piso o pé no pequeno batente que conduz até a porta. Sinto que estou sendo observada, porém ao olhar para todos os lados não vejo ninguém. Respiro fundo, estou cada vez mais paranoica.
Bato na porta. Uma, duas, três vezes, e nada. Observo a pequena janelinha de vidro na porta e penso ter visto a silhueta de alguém. Bato novamente, mas, seja lá quem for que esteja do outro lado, não se mexe.
— Bianca, abra a porta. Sei que está em casa, preciso falar com você. — Bato de novo, dessa vez mais forte. — Bianca, sei que está aí. Por favor, abra a porta.
— Vai embora! — A silhueta finalmente se move, a voz da garota sai abafada pelas paredes que nos separam.
— Você precisa conversar comigo, você me deve isso. — Tento observar o interior da casa, mas não há muita claridade dentro dela.
— Vai embora, Drisa. Vai embora! — A urgência na voz dela me deixa alarmada, sinto novamente um arrepio e a sensação de está sendo observada me invade mais uma vez.
— Bianca — começo baixinho, como se algo pudesse me ouvir e me quebrar. — Por favor, abra. Está ficando tarde.
— Então vá pra casa — diz a garota, em um tom aborrecido. — Aqui não é seguro pra você.
— Por que não é seguro? — Bianca abre a porta devagar, apenas o suficiente para que eu possa vê-la. Seguro um gemido de horror ao olhar para sua face, manchada de lágrimas e... sangue?
— Olha o que ele fez comigo.
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Caleb - Não olhe. Não grite. Não corra.
HororNão olhe. Não grite. Não corra. O mal está à espreita. Drisa Torres nunca foi uma das melhores alunas da escola, nem tampouco uma das garotas mais bonitas de sua idade. Extremamente arrogante e de poucos amigos, a garota vive uma vida totalm...