Caleb - Não olhe. Não grite. Não corra.

Capítulo 1

"E você está com raiva, e deveria estar, isso não é justo." - One More Light // Linkin Park

Hoje já são 5 dias... 5 dias que não tomo um banho, esqueço-me também de escovar os dentes e pentear o meu cabelo. Estou cansada, embora passe o tempo todo deitada aqui nesta cama. Meu corpo dói e anseia por uma reação. Uma reação que não vou dar. Hoje está consideravelmente quente e sinto minha testa pingar um líquido pegajoso. Estou suando. Eca. Preciso fazer xixi, mas não quero levantar agora para ir ao banheiro. Agora não...

A casa está em total silêncio. Estão todos dormindo. A essa hora é o único momento em que tenho paz, só ouço o silêncio e eventualmente algum carro na rua. Quem diabos dirige de madrugada? De qualquer forma, acho que estou com medo. Medo do silêncio. Medo de ficar sozinha. Que merda, isso nem faz sentido considerando o fato de que passei o dia todo ansiando por este momento.

Estão todos em seus mais profundos sonhos (ou pesadelos). Minha mãe, meus três irmãos e o bebê. Esse último é filho de uma amiga da minha mãe, que se tornou uma espécie de babá do menino. A mãe dele fica no plantão do hospital, bom pelo menos é o que ela diz. Talvez seja médica ou enfermeira, porém se não for, então é prostituta. Isso explicaria ficar a noite toda fora. Ora! Que bobagem, é claro que há outras razões para a mulher ficar a fora durante a noite. E eu sei disso, mas ainda assim estou julgando... Que direito eu tenho de fazer isso? Exatamente, nenhum, então me forço a parar de pensar sobre isso.

No entanto, é complicado porque minha mente não para. Está sempre acelerada, como se estivesse em uma competição, embora eu não saiba pelo quê ela compete. Tudo que sei é que estou acordada. Acordada porque meu cérebro simplesmente não me deixa dormir.

Envie comandos para o meu corpo, merda. Preciso dormir.

Mas ele não me obedece... Eu não controlo mais minha mente. Você deve achar que sou louca. Acredite, às vezes eu também acho que sou. Preciso reagir, preciso levantar, preciso fazer xixi, preciso tomar banho, preciso pentear o cabelo, preciso, preciso, preciso... Caramba, e como eu preciso! Então por que não levanto?

Vamos, Drisa! Levante, por favor!

Mas não consigo.

Vamos, não faça isso com você.

Mas continuo fazendo.

Fecho os olhos, então os abro novamente. Está tão escuro... Imagino que há algo me observando na escuridão do quarto, e sinto meu coração bater um pouco mais forte.
Há quanto tempo estou aqui? Me forço a levantar, piso meus pés no chão frio e praguejo baixinho, ignorando a sensação de estar sendo observada. Não consigo manter meu corpo ereto, estou com as mãos apertando minha barriga que dói pelo tempo consideravelmente longo que passei sem fazer minhas necessidades fisiológicas.

Vou até o banheiro com o corpo curvado e finalmente faço xixi. É quente como o inferno. Faço uma nota mental de nunca mais prender tanto o xixi, mas sei que vou fazer isso de novo. É sempre assim. Prometo e logo depois faço exatamente o contrário do que prometi. É, sou uma fiel quebradora de promessas.

Levanto e volto a me vestir. Olho para o chuveiro e gemo baixinho. Sei que preciso tomar banho, entretanto não consigo me mover até lá. Sou tão nojenta. Caminho de volta para minha cama, ainda sinto o incômodo pelo tempo relativamente grande que passei sem ir ao banheiro, porém sei que ficarei bem. Deito de bruços e fecho meus olhos. O tão esperado sono finalmente chega.

📖📖📖

Acordo com o sol entrando pelas frestas da minha janela e praguejo alto o suficiente para ouvir a resposta da minha mãe em seguida, me mandando ter cuidado com a boca. Todo dia é a mesma coisa.