"Eu conheço muito bem os vilões que moram na minha cama. Eles me imploram para escrever sobre eles para que eles não morram quando eu morrer." — Halsey // Control
A noite está mais fria quando caminho de volta para casa. O vento sopra em meus cabelos e eu caminho no modo automático. Não sei o que estou pensando, minha mente é um borrão. Em todo o percurso sinto que estou sendo observada. É uma sensação de paranoia que agora não posso ignorar. Há muito tempo Caleb esteve me observando, não posso me dar o luxo de fingir que ele não faria isso de novo, por isso me forço a caminhar enquanto mantenho os pensamentos escondidos no fundo de minha mente. Enterro-os tão fundo que duvido que os encontre com facilidade.
Quando chego diante da porta da minha casa seguro a vontade de olhar para trás, pois tenho medo do que vou encontrar no escuro. Talvez eu não encontre nada, talvez eu só esteja paranoica, contudo não decido arriscar essa noite e entro em casa segurando a respiração.
Minha casa está completamente imersa na escuridão e o silêncio sepulcral me assusta um pouco, mas ainda assim encontro a porta do meu quarto sem dificuldade. Acendo a lâmpada assim que entro e fecho a porta atrás de mim.
Minha mãe, aparentemente, está dormindo. Ainda não vi nenhum dos meus irmãos, mas nada disso importa. Não pretendo sair do meu quarto, nem mesmo para vê-los.
Desbloqueio meu celular e fito o relógio que marca 23h53m. Desligo o aparelho e o jogo dentro de uma gaveta. Olho para a única janela do cômodo e me certifico se ela está devidamente fechada. Depois disso, procuro em cada canto por qualquer coisa que possa se esconder aqui, como não há nada, caminho até minha escrivaninha e encontro meus medicamentos postos em fileira na madeira fria. Suspiro baixinho. No entanto, me forço a engolir o comprimido noturno. Sem água, pois agora que estou aqui não tenho certeza se consigo sair e caminhar pela casa. Deito na cama e fico pensando pelo que parece uma eternidade até que sou tomada pelo sono e minha mente é envolta em total escuridão.
Os dias se seguem assim. Meu celular continua desligado e eu continuo tomando meus remédios. Vez ou outra saio do quarto para comer alguma coisa e ir no banheiro. Raramente vejo meus irmãos, mas minha mãe sempre está atenta a tudo que faço. Sei que ela sabe que há dias não tomo banho de verdade, mas parece não se importar. Os dias são monótonos e não tenho muitas notícias de nada que acontece lá fora, estou completamente desligada e na verdade não me incomodo com isso. Também não vou à escola. Sei que deveria, mas me recuso a sair. Minha mãe também não me obriga, nem sequer conversamos sobre isso. Ainda estou magoada com ela por tudo que aconteceu, então eu apenas durmo metade do tempo e quando não durmo ainda estou medicada o suficiente para não pensar muito. Às vezes, no entanto, penso em Caleb. Gostaria de saber se ele já se encontrou com a Bianca. Se ele está lá fora me observando ou em seu porão fazendo Deus sabe o quê. Se ele sabe que o estou ignorando de propósito porque tenho medo demais para enfrentá-lo outra vez ou imagina outra coisa.
Minha curiosidade não dura muito, porém. Deve ter se passado duas semanas desde a última vez que o vi, três no máximo, quando acordo com vozes vindas do corredor. Meus irmãos também estão na sala, parecem eufóricos. Isso não é incomum, mas o tom alterado de minha mãe me faz caminhar até a sala.
Ainda levemente dopada, o corpo coberto de suor e os cabelos desgrenhados mostram claramente que estou em um estado que visitas não deveriam ser bem-vindas, mas é claro que Caleb não é o tipo de pessoa que se importaria com isso.
Ele está parado no meio da sala. Minha mãe está diante dele. Ela é muito mais baixa que o rapaz, mas sua postura a faz parecer maior. Ela não sorri, mas Caleb tem um sorriso que alcança seus olhos enquanto observa minha mãe dizer insultos que não devia dizer na frente dos meus irmãos. Ela não percebe que Caleb não vai revidar. Não percebe que ele não se importa. Não percebe que ele é frio demais para se mostrar abalado diante das palavras dela. Na verdade, duvido até mesmo que ele de fato possa ser abalado por quase qualquer coisa nesse mundo. É isso que me assusta no rapaz. Se nada pode abala-lo, então nada pode pará-lo também.
Quando ele me ver seu sorriso se alarga.
— Meu amor! — Ele vem até mim, minha mãe fica tão confusa que por um momento não esboça reação. Caleb me alcança antes que eu possa sequer me mover. Seus braços me envolvem em um abraço frio que me atinge até os ossos. Por sorte não dura muito. — Senti sua falta. Como você desapareceu resolvi fazer uma visita. — Ele dá uma risada, mas não parece achar meu sumiço engraçado. — Trouxe um presente pros seus irmãos.
Olho para onde estão meus irmãos. Estão comendo alguma coisa. Meus olhos se arregalam quando vejo que este deve ser o presente. Minha mãe devia está ocupada demais discutindo para impedir que as crianças abrissem o presente. Chocolates. Ainda estou tonta, mas consigo ir até eles e arrancar-lhes a caixa de chocolates.— Não comam isso! —grito. O mais novo começa a chorar quando eu literalmente faço-o cuspir o doce. Minha mãe me olha assustada e vem até mim. Segura meu braço e me dirige um olhar que deve dizer "qual o seu problema?" Olho para Caleb, seu sorriso não desapareceu.
— Leve seu presente! — esbravejo.
— Drisa! Por favor, está assustando seus irmãos.
— Leve seu presente e vá embora!
Caleb continua sorrindo. Parece debochar de mim, na verdade tenho certeza que é exatamente o que está fazendo.
— Pelo amor de Deus, Drisa — diz ele. — São só crianças.
Ele se aproxima de meu irmão menor, que continua chorando. Ajoelha-se ao lado dele e de alguma forma consegue esboçar um sorriso menos assustador do que esboça para mim. Fico em alerta, minha mãe parece está da mesma maneira, como se a qualquer instante Caleb fosse abrir a boca e engolir meu irmão.
— Não precisa chorar, garotinho — ele diz. — Você é um rapazinho sortudo por ter uma irmã que se importa tanto com você, sabia?
O rosto do meu irmão está encharcado de lágrimas, mas sua expressão se suaviza. Caleb pega um dos chocolates e o põe na própria boca. Oferece outro para meu irmão que sorri. Não faço nada, apenas observo dessa vez. Meus irmãos se empanturrando de chocolate enquanto brincam com Caleb. Isso mesmo. Enquanto brincam com ele.
Observo paralisada. Minha mãe em algum momento murmura alguma coisa e sai da sala. Eu continuo observando enquanto meus irmãos brincam com o rapaz. Observo que, nesse momento, Caleb não parece o mesmo Caleb que pintou um muro com o sangue de um homem. Eles nunca parecem, uma voz sussurra em minha mente. É por isso que são tão perigosos.
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Ufa, me pergunto se tô ficando tão perturbada quanto a Drisa. Kkkk ontem eu tava de boa, voltando da cozinha e pensei ter visto Caleb no corredor. Acho que a música citada aqui nunca fez tanto sentido como fez agora. Hahaha
Brincadeiras à parte, gente, ontem fiquei com uma baita vontade de escrever. Caleb tava tão nítido na minha mente que acabei imaginando coisas. De qualquer forma, ele é o meu vilão e, mesmo que não more embaixo da minha cama porque é limpinho demais pra isso, ainda preciso escrever sobre ele para que ele nunca morra quando eu morrer.Sei que quase ninguém vai ler isso, mas obrigada. Por tudo. Eu não seria uma escritora se não fosse vocês.
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Caleb - Não olhe. Não grite. Não corra.
HorrorNão olhe. Não grite. Não corra. O mal está à espreita. Drisa Torres nunca foi uma das melhores alunas da escola, nem tampouco uma das garotas mais bonitas de sua idade. Extremamente arrogante e de poucos amigos, a garota vive uma vida totalm...