Capítulo 12

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"Você pode fechar as janelas, trancar as portas, sim. Mas você não pode mais lavar essa merda das suas mãos..." — Parasite Eve // Bring Me The Horizon

      O dia amanhece chuvoso na cidade, e quando acordo me arrasto para o banho sentindo todo o meu corpo arrepiar-se com o frio que a chuva trouxe. Prendo meu cabelo em um coque e entro debaixo do chuveiro, desejando continuar na cama.

       Enquanto a água escorre por meu corpo, passo meus dedos por minha cabeça onde já posso sentir o machucado causado pela pancada cicatrizando. Penso por longos minutos que eu deveria ir à polícia e registrar uma ocorrência. Falar as coisas que me lembro, do que suspeito que Bianca tenha feito e de como ela fez eu me sentir. Contudo, deixo todos esses pensamentos de lado quando lembro que a minha palavra contra a da patricinha da escola não valeria nada. Imagino minha mãe testemunhando contra mim e pedindo desculpas por eu ter bebido tanto ao ponto de bater a cabeça e alucinar tudo isso.

       Após terminar meu banho vou até meu quarto onde a encontro sentada em um canto da cama, ela tem um olhar perdido e não nota de imediato a minha presença no cômodo. Somente quando abro o guarda-roupa é que ela parece sair do transe e se levanta devagar.

— Precisamos conversar.

      Tento ignorar o tom sério de minha mãe e respiro fundo. Escolho uma calça jeans e um moletom preto para vestir, enquanto minha mãe me olha esperando que eu diga alguma coisa.

— Precisa ser agora? — questiono, baixinho.

      Minha mãe suspira e sai do quarto sem dizer nada. Não sei o que ela está pensando, talvez ache que fazer eu me sentir mal seja a sua melhor escolha ou talvez nem se dê conta de que essa sua atitude me machuca, no entanto o fato dela ter saído talvez indique que ela entendeu que não quero falar sobre meu surto do dia anterior agora e eu agradeço por isso.

    Estou completamente vestida agora e pronta para fazer qualquer coisa até que meu celular vibra em algum lugar do quarto e me assusto. Encontro-o embaixo do meu travesseiro e franzo a testa ao constatar o número que não está salvo, mas já sei de quem é.

— O que você quer, Caleb? — Ignoro a sensação incômoda de estar usando meu celular pra falar com alguém e não apenas para ouvir música e espero a resposta do rapaz.

— Bom dia pra você também, docinho. — Pelo seu tom de voz parece sorrir.

— Que merda de apelido é esse?

— Não importa. Venha para fora. Quero te ver.

— Quê? Como assim? — Falo rápido demais, o que faz o rapaz do outro lado da linha soltar uma de suas risadas roucas. — Onde você está, seu doente?

— Sabe, eu adoro a forma como você me trata. As outras meninas geralmente ficam aos meus pés. — Ele ri outra vez. — Estou do outro da rua. É só você sair.

— Está chovendo, Caleb — digo, virando-me para a janela que continua fechada desde quando acordei. O som da chuva é estridente batendo no vidro da janela e no telhado da casa.

— Eu tenho um guarda-chuva, apenas saia.

— E por que eu deveria?

— Por que não deveria? — retruca o rapaz.

— Quer que eu liste os motivos por ordem alfabética?

— Tenho uma coisa pra você — diz ele. — Você vai querer ver.

— O que é? — questiono, enquanto olho instintivamente para a janela.

— Se você não sair nunca vai saber. Tem cinco minutos.

Caleb - Não olhe. Não grite. Não corra. Onde histórias criam vida. Descubra agora