"E se eu parecesse perigoso, você ficaria com medo?" — Monster // Imagine Dragons
Quando saio de casa Caleb está encostado na parede. Seu sorriso é novamente tão perturbador quanto da primeira vez que o vi, contudo tento ignorar. Ele assobia baixinho quando passo por ele, e me segue. Ainda estou tonta, mas disse a minha mãe que ficaria bem, que só precisava de um pouco de ar fresco. A verdade é que essa foi a única forma que encontrei para tirar Caleb de nossa casa, prometendo a ele que conversariamos. Estou com medo, e embora tente não transparecer em minha expressão, sinto que minhas mãos estão absurdamente trêmulas. Caleb não diz nada pelo que parece uma eternidade, caminhar ao lado dele em silêncio não é agradável, porém não rompo o silêncio até que ele mesmo o faça.
— Você é uma mulher difícil, Drisa — ele diz. — Felizmente eu sou extremamente paciente.
Gostaria de dizer alguma coisa sarcástica ou de pura ignorância para mascarar o pânico que estou sentindo, mas não sei o que dizer. Estou caminhando com um assassino. Talvez minhas defesas já tenham acabado. Continuo seguindo o rapaz, não me surpreendo quando percebo que estamos indo até sua casa. Ele abre o portão e eu o sigo. Como um animal a caminho do matadouro, sei que não há nada que eu possa fazer para impedir Caleb de fazer o que quer que ele queira fazer comigo.
Sua casa está completamente imersa na escuridão, mas ele não se importa com isso e eu faço o possível para seguir seus passos pelo pouco que me lembro desta casa. Descemos até o porão e, diferente do resto da casa, está iluminado o suficiente para que possamos enxergar cada centímetro do cômodo. Não fico surpresa ao me deparar com uma Bianca totalmente assustada amarrada a uma cadeira, mas meu coração erra uma, duas, até três batidas quando meus olhos encontram os de Daniel. Diferente de Bianca ele não tem uma expressão de medo, só parece curioso ao nos ver entrar. Ele está preso a uma cadeira assim como Bianca. Usa apenas uma cueca preta, mas não parece se importar com isso. O que é relativamente estranho. Considerando que é o mesmo Daniel que fica vermelho até pra falar. Bianca usa um vestido rosa que está rasgado, deixando seu sutiã à mostra. Me pergunto se Caleb fez isso propositadamente ou se Bianca resistiu em algum momento.
— Sua maldita assassina. — A voz de Bianca não parece mais a mesma. Me pergunto há quanto tempo ela está aqui. Se Caleb a trouxe desde a última vez que eu estive com ele, já deve fazer muito tempo.
— Que meiga — diz Caleb, em resposta à garota. Estremeço ao som de sua voz. — Não acha, meu amor? — Ele está se dirigindo a mim agora, suas mãos vão de encontro aos meus ombros e eu ofego.
Diga alguma coisa, droga.
Tento me forçar a falar. Qualquer coisa. Qualquer coisa que me faça parecer menos fraca. Menos vulnerável. Mas não consigo. Todo o sarcasmo que eu ainda poderia ter para Caleb foi substituído pelo medo. Não, medo não. Pânico. Isso é o que sinto agora.
O rapaz parece esperar minha resposta, então apenas me obrigo a assentir. Daniel continua olhando para nós, não consigo decifrar o que seus olhos querem dizer. Esforço-me para lembrar, porém, que Daniel também não se importa comigo.
— Vou deixar minha Drisa com vocês por um momento, a festa vai começar daqui a pouco. — Caleb ri. Mas sei que o que quer que ele tenha planejado não será divertido.
Sua risada causa um arrepio intenso. Sinto minhas mãos tremerem enquanto o rapaz se afasta. Me pergunto se ele pretende me punir também por tê-lo ignorado tanto tempo e o pensamento me apavora, então no momento em que ele sobe as escadas desabo no chão. Não sei se caí ou escorreguei, apenas tenho consciência do chão frio contra minhas pernas. Meu coração é um tambor ensurdecedor dentro de meu peito, sinto que meu corpo está tremendo de modo incontrolável e o frio se intensifica a cada segundo. Em meio ao barulho de meus pensamentos, no entanto, uma voz se sobressai.
— Isa. — É a voz de Daniel, o tom diz que ele já grita a um tempo. — Isa, olha pra mim.
Procuro me concentrar no som de sua voz. Ele está mais alto e... Não, ele não está mais alto. Eu estou no chão, é claro. Não consigo racionalizar o suficiente para me impedir de perguntar:
— Estou morrendo?
— Não, Isa. — A voz de Daniel volta. — É só uma crise, sei que você já passou por isso. Sabe como funciona. Apenas levante e se concentre no som da minha voz.
Tento me levantar, mas ainda estou tremendo e meus pulmões gritam desesperadamente por ar como se eu fosse morrer. Mas sei que não vou. Daniel tem razão. Isso já aconteceu antes, só preciso me convencer de que vai passar. Olho para o rapaz. Seus lábios se curvam em um sorriso pequeno, tão pequeno que parece triste. Bianca me olha assustada, não diz nada.
Após alguns instantes sinto que estou me acalmando. Sei que Caleb não nos deixou aqui por coincidência. Sei que preciso entender porque estamos todos aqui, então me forço a sentar. Não olho para Bianca, seu olhar me dá medo. Ou pena. Talvez os dois. Me concentro apenas em Daniel.— Como vieram parar aqui? — questiono. Imagino como, mas só preciso começar por algum lugar. Meu corpo ainda está tremendo, então as palavras soam distantes e o som da minha voz não me parece familiar. Bianca fala primeiro. Mas continuo olhando para Daniel como se ela não estivesse aqui.
— Pergunta ao seu namorado — É o que ela diz. Ignoro a vontade de dizer que Caleb não é meu namorado, pois sei que ela sabe. Só está tentando me irritar. É impressionante como até mesmo em sua condição ela continua despertando o pior de mim.
— É uma história longa, Isa. Mas no fim de tudo se resume a Caleb me atraindo pra uma armadilha. Ele me disse que você queria falar comigo, então eu vim. Não é como se ele fosse digno de toda confiança, mas eu passei os últimos dias tão preocupado que quando ele me disse eu simplesmente tive que vir. Isso já faz dois dias, se minhas contas estiverem certas. — Ele parece pensativo por um momento. Então vira a cabeça para Bianca. — Ela já estava aqui quando eu cheguei e não falou uma palavra até que viu você. Não sei o que se passa na mente dela, mas deve ser sombrio.
— Ele me trouxe por sua causa — diz Bianca, olhando para mim, ignorando Daniel. Seu olhar me atinge em cheio, mas tenho de me esforçar para fingir que não me afeta. — Ele disse que vai me cortar em pedaços e jogar para os porcos... Disse que só faria isso quando você estivesse aqui para lhe dizer o que ele deveria cortar primeiro.
— Eu...
— Estou aqui há dias. Toda noite ele me disse a mesma coisa até Daniel chegar. Todos os dias eu esperava que você chegasse para dizer a ele. Era uma tortura e agora você está aqui.
— Não vou...
Caleb volta quando menos esperamos e apenas sua presença me silencia. Ele tem um machado nas mãos. O olhar de Bianca passa de mim para o rapaz. Seus olhos esbugalhados, a respiração ofegante e o corpo trêmulo denunciam o pânico que ela está sentindo. Os olhos de Caleb se demoram na garota e seus lábios curvam-se em um sorriso sem dentes. Daniel não esboça reação, me pergunto se é tão corajoso ou apenas esconde suas emoções muito bem. Bianca porém, grita. Grita tão desesperadamente que sinto meu coração apertar. Por um momento consigo esquecer que esta é a garota que tornou a minha vida um inferno. Enquanto assisto a cena paralisada, exceto pelos tremores involuntários do meu corpo, não deixo de pensar que ninguém vai ouvi-la gritar daqui. Caleb sabe disso, então apenas ri. Sua risada me arrepia até os ossos. E tudo é minha culpa porque eu concordei com isso. Eu escolhi a Bianca, então ela é minha responsabilidade. Assim como Daniel que eu sequer sei porque está aqui também.
Como se lesse meus pensamentos os olhos de Caleb se voltam para mim. Meu coração bate tão forte que consigo ouvir a pulsação em meus ouvidos. O rapaz estende a mão que não está segurando o machado para mim. Hesito, ele ergue as sobrancelhas de maneira sugestiva e sei que não posso dizer não. Minha mão treme quando estendo para pegar a sua.
— Eu prometi que te traria respostas, docinho. E aqui estão as pessoas que pode dá-las a você. — Ele alisa o machado como se estivesse fazendo carinho em um gato e levanta o objeto um pouco para que possamos vê-lo claramente. Como se fosse possível, Bianca grita mais alto. O que arranca mais uma risada de Caleb. — E aqui está o que vai te ajudar a consegui-las.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Caleb - Não olhe. Não grite. Não corra.
TerrorNão olhe. Não grite. Não corra. O mal está à espreita. Drisa Torres nunca foi uma das melhores alunas da escola, nem tampouco uma das garotas mais bonitas de sua idade. Extremamente arrogante e de poucos amigos, a garota vive uma vida totalm...