"Eu não posso suportar essa energia terrível." — Control / Halsey
As palavras de Daniel ecoam em minha mente e sei que preciso fazer alguma coisa. A primeira coisa que tenho que fazer é ignorar o machado de lado e soltar os dois prisioneiros que me encaram com diferentes expressões no rosto. Mas me vejo segurar o machado com um aperto mais forte que o anterior. Quem está no controle?
Me aproximo de Bianca e vejo a mesma me direcionar um olhar de pavor. Passo meus dedos pela lâmina do machado que parece bem afiada e Bianca chora. Quero dizer que não farei nada com ela e que ela não precisa ter medo de mim, mas, por Deus, até eu teria medo de mim agora se fosse ela.
Preciso pensar, mas não consigo organizar meus pensamentos. Preciso de um plano, mas não sei o que fazer. Caleb tem razão, eles sabem o que aconteceu comigo. Precisam me contar, não é como se eu fosse fazer algo com eles, porém se eu só pressionar... Não! O que estou pensando? Me perco em pensamentos imaginando maneiras de como eu poderia sair dessa situação. Bianca chora baixinho, baixando a guarda em minha frente. Tão frágil... Daniel continua me olhando e diz algo que não consigo prestar total atenção.
Caleb deve voltar em breve e preciso me decidir. A primeira coisa que eu devo fazer é desamarrar os dois prisioneiros ou tentar convencer Caleb de que não é uma boa ideia o que ele pensa em fazer aqui, mas claro que essa opção está fora de cogitação porque Caleb é um assassino, ele mesmo me confessou o que fez com o pobre pai de Otávio. Ele não pouparia a vida de Daniel e certamente não a de Bianca, porém não sei o que mais eu poderia fazer. É a minha única chance.
— Volto em breve. — É tudo o que digo, largando o machado no chão que faz um estrondo.
Subo as escadas ao som dos protestos de Daniel e do choro de Bianca. Tranco a porta assim que chego fora do porão e encontro Caleb sentado no sofá tomando uma cerveja no gargalo. O cheiro da bebida me atinge e me sinto nauseada.
— Se divertiu muito? — ele questiona, com uma expressão indecifrável no rosto.
— Precisamos conversar.
Sento-me de frente para o rapaz, ele me olha de uma forma que não consigo explicar e sorri. Seu sorriso alcança seus olhos que brilham.
— Sou todo ouvidos, docinho.
— Não me chame assim!
Ouço a risada do rapaz que levanta as mãos em sinal de rendição.
— Você está alimentando eles?
Ele olha para mim com cara de ofendido e então diz:
— Claro que sim, não sou um monstro.
— Você matou alguém e está torturando eles há dias, não iria me surpreender se estivesse deixando-os sem comer esse tempo todo.
Caleb suspira longamente como se não estivesse acreditando no que estou dizendo.
— Tudo que fiz foi por bons motivos. Matei aquele velho filho da puta porque precisava tirar você daquele hospital. Prendi aqueles dois porque eles estão te escondendo a verdade que você tanto deseja saber... Você não entende? — Ele levanta e se aproxima de mim, me fazendo recuar um passo. — Tudo que fiz foi por você, Drisa.
— O que você vai fazer com os dois depois de conseguir o que quer?
Caleb baixa seus olhos como se estivesse envergonhado e volta a se sentar. Me aproximo do mesmo cautelosamente e ajoelho em sua frente.
— Por favor...
— Não posso deixar que eles contem sobre isso a alguém.
— Caleb, isso está... Errado.
— Você precisa de respostas.
Meu Deus, ele realmente acha que está fazendo a coisa certa, posso ver em seus olhos a sinceridade de suas palavras. Oh, céus!
— Por favor, deixe-os viver.
— Não posso, docinho. A não ser que... — ele para de falar repentinamente. — Não, você não poderia...
— Me diga.
O rapaz sorri. Seu sorriso novamente alcançando seus olhos faz um frio surgir em meu estômago.
— A não ser que você vá embora comigo quando tiver as suas respostas.
— Embora com você? — Não entendo, ele só pode estar ficando louco.
Olho para ele a procura de indícios de brincadeira, porém ele ajoelha ao meu lado e aproxima seu rosto do meu. Sem que eu me dê conta do que está acontecendo seus lábios tomam os meus, em um beijo tão inesperado que não consigo emitir nenhuma reação. Estou tão chocada que não consigo me afastar. Ele deve tomar isso como consentimento e abraça meu corpo apertando-me contra ele. Seu corpo é quente. Seus lábios são macios como lã. São poucos segundos, ele enfia sua língua quente entre meus lábios me fazendo acordar do choque inicial. Me afasto imediatamente.
— O que está fazendo?
— Eu pensei que...
— Pensou errado!
Caleb parece magoado com minhas palavras, entretanto logo se recupera e dar uma de suas risadas tão macabramente que me arrepia até os ossos.
— Claro, claro. Me desculpe.
Ele sai da sala e sobe as escadas sem dizer mais nada. Suponho que vá para o quarto, o que acho que seja melhor do que voltar a torturar os prisioneiros no porão. Penso em voltar para lá, no entanto não sei como encarar aqueles rostos. Não sem antes conseguir entregar a esperança que Daniel tanto procura quando me olha. Decido então esperar Caleb aparecer novamente, ao menos assim saberei seus próximos passos.
Sento e espero o retorno do rapaz, todavia os minutos se transformam em horas e ele continua lá em cima. Não sei em que momento isso acontece, mas devo ter adormecido, pois acordo com um sobressalto. Ainda estou no sofá, mas a sala agora está mais escura e ainda em completo silêncio. Não sei que horas são, porém deve ser tarde, minha mãe deve está muito preocupada, mas sei que não posso ir embora ainda, não sem antes garantir que os prisioneiros no porão fiquem em segurança na minha ausência.
Então subo as escadas que levam até o quarto de Caleb. No entanto quando chego em seus aposentos não o encontro. Sinto meu coração acelerar e corro para as escadas sabendo onde certamente ele está, fazendo o inferno com Bianca e Daniel.
Tudo que consigo pensar é que preciso impedir e acabo tropeçando em um degrau quando estou descendo rápido demais. Saio rolando escada abaixo, mas só me dou conta da dor quando já estou no chão. Percebo com um assombro que não consigo me levantar e sinto também minha cabeça girar.
Fecho os olhos uma, duas, três vezes, mas me forço a abri-los de novo. Não posso desmaiar. Não posso ficar tão vulnerável assim. A sensação de paranoia me toma e sinto que estou sendo observada no escuro, isso me apavora. Tento me levantar outra vez, porém sem sucesso. Viro minha cabeça tentando enxergar no escuro da sala, porém não vejo nada. Não consigo controlar meus olhos. Não consigo mantê-los abertos e inevitavelmente os fecho.
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Caleb - Não olhe. Não grite. Não corra.
TerrorNão olhe. Não grite. Não corra. O mal está à espreita. Drisa Torres nunca foi uma das melhores alunas da escola, nem tampouco uma das garotas mais bonitas de sua idade. Extremamente arrogante e de poucos amigos, a garota vive uma vida totalm...