"Eu sou um anjo? Me diga o que quer dizer com isso." — Born without a heart // Faouzia
— O que aconteceu? — Olho para minha mãe à procura de respostas. Ela apenas balança a cabeça negativamente.
O pai de Otávio me olha com lágrimas nos olhos.
— Só me diga onde ele está —diz ele.
Quando não digo nada ele grita. O tom choroso é substituído por um cheio de Fúria. — Me diga onde ele está, vadia!Os policiais seguram o homem pelos braços quando veem ele se alterar.
— Eu não sei de que merda você tá falando! — exclamo. Minha mãe também segura meu braço e me olha assustada.
O homem em minha frente direciona seus olhos para mim e depois para minha mãe, se livra dos policiais que o soltam hesitantes, e então diz:
— Sei o que está pensando, Paula. Acha que estou blefando, não é? Mas acredite em mim quando digo que Drisa mataria você sem ao menos hesitar. É assim que ela é. Você não ver? Eu vejo o demônio nos olhos dela. Ela já fez isso antes. Você sabe. Todos nessa maldita cidade sabem. — Ele volta os olhos para cada um de nós e então seu tom fica baixo, ameaçador. — Ela tem isso de fazer os outros acreditarem que é a mocinha... Mas nessa história, ela é a vilã... E até mesmo você deveria ter medo.
— Não diga besteiras sobre a minha filha, seu velho bêbado! A possibilidade de Drisa envolvida na morte de Caio foi totalmente descartada pela polícia. Se continuar com suas calúnias vou denúncia-lo por falsas acusações. — O tom da minha mãe é autoritário, no entanto hesitante. Ela me olha desconcertada.
— Eu não estou bêbado — diz o homem, depois olha para mim. — A menina Bianca disse que ele esteve com você. Meu filho sempre chega no horário, sempre me liga quando vai se atrasar... Sei que você fez alguma coisa. Sou pai, eu sinto. Ouça o que estou dizendo sua vadia, se meu filho não voltar pra casa ainda hoje eu vou fazer você pagar.
— Já chega! — um dos policiais finalmente se pronuncia. — O senhor precisa ir pra casa agora. Meu colega vai acompanhá-lo, eu assumo daqui.
Os dois homens se afastam. Com o olhar do mais velho queimando em minhas costas antes da porta se fechar eu caminho até o sofá. O policial que ficou é jovem, mas apesar disso me lança um sorriso compreensivo como se entendesse perfeitamente a situação. Minha mãe suspira e faz um gesto para que o policial também se sente. Sentamos todos, eu e minha mãe de frente para o homem, e olho para meus pés.
— Senhorita Drisa sei que é complicado, sei que passou por muita coisa e quero que saiba que não estou acusando você de nada... Só preciso fazer meu trabalho. Essa cidade já foi palco de um crime brutal e não podemos correr esse risco novamente.
— Eu entendo... — respondo.
— Não, não entende — profere minha mãe. — Por que de tantas pessoas estão interrogando a minha filha? Isso já está virando perseguição!
— Acalme-se, senhora. Só estou interrogando as últimas pessoas que tiveram contato com o garoto nas últimas horas. A sua filha apenas foi uma delas.
— Tudo bem — respondo, antes que Paula diga mais alguma coisa. — Eu quero ajudar no que eu puder. O que quer saber?
— Por volta de que horas esteve com o garoto?
— Por volta das 18:00, talvez antes. Na casa da Bianca.
— E depois disso?
— Eu fiquei na rua por um tempo e vim pra casa logo depois...
— Tem alguém que possa confirmar isso?
Minha mãe olha para o policial com fúria no olhar.
— O que está sugerindo? — questiona ela.
— Não estou sugerindo nada, senhora. Apenas estou fazendo o meu trabalho.
— Sim — respondo, olhando para o policial. — Daniel pode confirmar isso. Ele me encontrou na rua ontem.
— Onde eu o encontro?
Pego um caderninho em cima da mesa de centro e escrevo o endereço de Daniel. Entrego para o homem que sorri amigavelmente.
— Obrigado, Drisa.
Afirmo com a cabeça. Sem emitir som, ele diz: "Desculpe.", e é conduzido para fora por minha mãe. Ela fecha a porta e fica parada de costas para mim.
— Mamãe? — ela vira-se devagar. Seus olhos sugerem medo. Medo de quê?
— Tenho muita coisa pra fazer. O bebê já vai chegar e seus irmãos também.
Então ela se afasta e vai em direção à cozinha, me deixando sozinha com meus pensamentos.
📖📖📖
Todos estão me olhando agora. É extremamente desconfortável ter trinta pares de olhos focados em mim. Daniel também me olha, mas disfarça sempre que pode. Caleb ainda não apareceu na sala e ninguém realmente parece se importar. Tento me concentrar no que o professor diz sobre como a polícia está fazendo o possível para encontrar Otávio que já está desaparecido a mais de 24 horas, no entanto não consigo prestar atenção.
Todos continuam olhando descaradamente para mim, meus olhos encontram os de Bianca e vejo ela mexer os lábios com a palavra "assassina". E então não quero mais ficar aqui. A sala de aula parece abafada demais, embora os dois ventiladores estejam ligados e as janelas abertas.
Levanto-me de minha cadeira e a atenção do professor se volta para mim também. O certo seria eu pedir para sair, mas não quero dizer nada agora. Não confio em minha voz para dizer qualquer coisa. Saio da sala em meio ao silêncio de todos e vou até o banheiro. Fecho meus olhos diante do espelho, enquanto tento segurar as lágrimas que querem surgir. Não sei porque quero chorar, acho que apenas quero. Meus sentimentos estão confusos.
— Apenas mais alguns meses, Drisa. — digo para mim mesma, ainda de olhos fechados. — Apenas mais alguns meses então você se manda daqui.
— Não sabia que falava sozinha. — A voz atrás de mim é masculina e familiar, não me assusto com ela pois já havia sentido alguém atrás de mim, contudo não deixo de ficar surpresa.
– Aqui é o banheiro das meninas, Caleb — digo, virando-me para o rapaz. Quero perguntar o porquê dele não responder minhas mensagens, mas desisto. — Não devia está aqui.
— Eu não devia está em muitos lugares, Drisa. Mas não faço o que devo, faço o que quero. — Ele sorri triunfante e de repente só quero tirar esse sorrisinho do rosto perfeito dele.
— É sério, melhor você sair. Acho meio que uma falta de respeito você está aqui.
O rapaz dar de ombros e se aproxima de mim, toca em meu rosto me fazendo recuar um único passo já que não há espaço atrás de mim. Ele tenta tocar em mim novamente e bato em sua mão, obrigando-o a se afastar.
— Merda, não me toque!
Ele me lança um sorriso sarcástico e ergue as mãos em sinal de rendição.
— Tudo bem — diz.
Fico em silêncio sem saber o que dizer. Ele também continua em silêncio, olhando para mim.
— Que merda você quer comigo? — indago irritada. O rapaz em minha frente dá de ombros mais uma vez como se não tivesse uma resposta. — Sério, tem muitas garotas interessantes nessa escola pra você perseguir.
Caleb dar um suspiro quase sedutor e se aproxima de mim novamente, toca em meus lábios e passeia dois dedos por ele. Olho para ele assustada, afinal estamos sozinhos. Ele aproxima seus lábios do meu ouvido e sussurra baixinho:
— Nenhuma é chamada de assassina.
— Você é doente! — Empurro o corpo do rapaz para longe e saio do banheiro, ele não vem atrás de mim, mas ouço sua risada estranha e rouca se perder no banheiro enquanto me afasto.
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Caleb - Não olhe. Não grite. Não corra.
TerrorNão olhe. Não grite. Não corra. O mal está à espreita. Drisa Torres nunca foi uma das melhores alunas da escola, nem tampouco uma das garotas mais bonitas de sua idade. Extremamente arrogante e de poucos amigos, a garota vive uma vida totalm...