"E você sempre fala enigmaticamente... Eu devia saber que você não era bom para mim." — Hot n cold // Katy Perry
Quando entramos em casa sou tomada pela exaustão. Minha mãe está o tempo todo perguntando como estou me sentindo ou se quero comer alguma coisa. Parece feliz e quando me olha não mais parece está com medo de mim. Seu sorriso é tão sereno que me pergunto se não percebe o quanto estou magoada com ela. Me pergunto se ao menos imagina o quanto estou quebrada e destruída pelo que ela me fez passar.
— Você me deixou lá sozinha. — Quando finalmente deixo as palavras escaparem por minha boca não consigo e não quero controlar a acusação em minha voz. — Eu nunca me senti tão sozinha em toda minha vida.
— Está tudo bem agora, querida. — diz ela, mas seu sorriso vacila. — Está tudo bem agora — repete.
— Não, não está! — grito, sem me importar com o quanto isso irá machucá-la dessa vez. Lágrimas brotam dos meus olhos e não me importo de reprimi-las. — Você já tinha feito isso antes, mas dessa vez foi diferente porque nem ao menos foi me ver. Ninguém me dizia nada e me tratavam como se eu fosse uma criminosa e você não estava lá para mim!
— Meu amor, estava acontecendo uma investigação. Para... Para preservar você seu nome não foi divulgado, mas você sabe que era uma suspeita e não estava muito bem, mas agora acabou. Um novo crime aconteceu e você estava distante de tudo isso. Tiveram que retirar as acusações e agora você está livre de tudo isso e eu estou tão...
Acho que ela diz feliz, mas não estou mais ouvindo. Ela está falando muito rápido. A culpa parte suas palavras ao meio e todas saem um pouco erradas, mas seus pedidos de desculpas não anulam os dias que passei trancada naquele lugar.
Preciso de um banho, acho que digo isso a ela e depois do banho preciso dormir e quando eu estiver bem vou ver Caleb. Essa última parte é a que não digo pra ela porque parece uma coisa idiota, mas é a parte mais racional que sinto que devo fazer, as outras envolvem morte e vingança e dor e envolvem minha mãe morta. E eu não quero isso.
▪️▪️▪️
Sinto o ar me faltar. Meu coração bate tão forte que sinto como se fosse saltar do meu peito. O ar frio bate em meu rosto e o vento forte me impulsiona um pouco para trás, como se estivesse tentando me dizer o quão errado isso vai dar. Mas ignoro. Ignoro o ar me faltando a cada passo que dou em direção ao enorme portão, ignoro o vento forte e as batidas frenéticas do meu maldito coração, e então bato no portão. Bato forte e espero.
Caleb aparece com seu sorriso doentio e abre o portão, fazendo um gesto para que eu entre sem questionar a minha presença ali.
— Sabia que eu viria? — digo, mas não soa como uma pergunta. Caleb não diz nada até que estejamos dentro de sua casa que parece tão sombria quanto a primeira vez em que eu estive aqui.
— Não era tão difícil de adivinhar — responde com um dar de ombros. — Está tudo bem? Você está mais magra do que da outra vez em que... — Ele parece notar meu olhar, por isso interrompe sua fala e diz: — Não importa, você é perfeita de todas as formas possíveis neste mundo.
— Está flertando comigo? — questiono, não olhando para ele, mas para as coisas ao meu redor. Tudo parece igual, mas ao mesmo tempo fora do lugar.
— Docinho, sempre estou flertando com você.
Sinto um arrepio passar por meu braço e me surpreendo ao notar que Caleb me tocou de leve.
— N-não, não me toque.
Ele afasta a mão.
— Desculpe. Quer comer alguma coisa? — sorri.
— Não, sabe que não.
— Beber, talvez? — Ergue a sobrancelha.
— Não quero nada de você.
— Ah, não quer? — Ele parece consideravelmente ofendido. — Estranho porque, sabe, você está aqui.
— Eu...
Quero dizer algo, mas não consigo encontrar as palavras certas.
— Na verdade, preciso saber tudo que aconteceu enquanto eu... Enquanto eu não estava aqui. Você é o único que sei que me diria alguma coisa.
Caleb sorri, parecendo gostar de minha confissão.
— Te contarei muito mais do que quer saber, Drisa. Se você me permitir, esta noite te mostrarei uma parte de mim que jamais mostrei a ninguém.
— E por que você faria isso? — Passo minhas mãos pelos braços para esquenta-los do frio que surgiu de repente e observo os lábios de Caleb se curvarem em um sorriso que faz o frio se intensificar, apesar de minhas tentativas de afastá-lo.
— Porque eu gosto de você, Drisa. Realmente gosto. E eu iria até o inferno por você se fosse preciso. — Ele se aproxima de mim. Dou um passo para trás, mas apenas isso. Ele se aproxima mais até seu corpo tocar o meu e sinto seu perfume. — Não ligo se parece precipitado — completa.
— Por que está dizendo isso? — Encontro minha voz em um poço frio e não consigo deixar de soar toda essa frieza em minhas palavras.
Caleb solta uma de suas risadas e fecho meus olhos apreciando a familiaridade depois de tanto tempo. Sinto a mão do rapaz acariciar meu cabelo e não abro meus olhos. Percebo que estou com medo de encontrar os olhos dele, pois sei que estão fitados em mim neste momento.
— Me deixe ser o que você precisa — ele pede, ignorando minha pergunta. — Eu ficaria feliz em machucar todos que já te machucaram. Todos. Um por um. Das formas mais dolorosas possíveis. Eu faria qualquer coisa... Eu iria até onde você quisesse que eu fosse.
— Por quê? — pergunto, finalmente abrindo meus olhos para encarar os dele.
— Porque você é como eu. E como ela. Mas acima de tudo não consigo achar o motivo certo dentro de mim, porém sei que, se você me pedisse, eu incendiaria toda essa cidade por você. Dançaria no meio do fogo segurando a sua mão e não te soltaria mesmo que isso significasse a minha própria destruição.
— Você é doente. — Tremo.
— Mas rimou, não rimou? — Ele solta uma gargalhada. — Você já me disse isso, docinho.
Ele fica sério novamente. E abro minha boca para dizer qualquer coisa, mas ele fala primeiro:
— Todas as minhas palavras são verdadeiras, caso esteja se perguntando. Agora me diga o que realmente quer me dizer.
— Sim — respondo. Meu coração está disparado e sei que Caleb entende a minha resposta quando ele sorri.
O rapaz aproxima sua boca do meu ouvido como já fez outra vez e todos os pelos do meu corpo se eriçam quando ele sussurra tão baixo que mal consigo escutar:
— Considere feito, Drisa.
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Caleb - Não olhe. Não grite. Não corra.
TerrorNão olhe. Não grite. Não corra. O mal está à espreita. Drisa Torres nunca foi uma das melhores alunas da escola, nem tampouco uma das garotas mais bonitas de sua idade. Extremamente arrogante e de poucos amigos, a garota vive uma vida totalm...