Capítulo 5

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Seus olhos estão me devorando,
Espelhos começam a sussurrar, sombras começam a cantar... Minha pele está me sufocando, me ajude a achar um jeito de respirar.”  – Sleepwalking // Bring Me The Horizon

    Faz algum tempo que Caleb só me olha, esperando que eu diga alguma coisa. Esperando que eu lhe conte a minha versão do que aconteceu há quase 3 anos atrás. Não sei o que dizer a ele, então o olho e digo o que venho repetindo há meses, embora nada realmente mude.

— Eu gostaria de dizer que não fiz isso — digo, após um longo suspiro. — Mas aquele dia foi apagado da minha mente completamente.

— Apagado? — questiona o rapaz calmamente. Sei que ele entendeu o que eu quis dizer e reconheço sua pergunta como um incentivo para que eu continue.

— Não lembro o que aconteceu. Apenas me disseram que fui encontrada ensanguentada do lado de metade do corpo dele... A parte da... — Respiro fundo e me obrigo a reprimir as lágrimas que ameaçam vir. — A parte da cabeça... Eu não chorava, só olhava pra todo aquele sangue em mim. Tudo que me recordo, no entanto, é de ouvir todos apontando para mim na rua, chamando-me de assassina, de uma canção maldita em um vídeo da Internet, e de ficar presa por um ano em um hospital psiquiátrico, repetindo: “Eu o matei”.

— Se você não lembra então não fez. — Caleb dá de ombros.

— Não é tão simples assim! — exclamo, entretanto, o rapaz não se assusta. — Se eu não o matei por que repetia tanto isso? — Minha voz sai mais calma agora.

— Por que acha que fez isso?

— Porque nossa amizade não estava mais tão sólida, porque eu estava com raiva, porque ele me trocou, porque ele me deixou sozinha... Eu não sei, okay? Talvez eu tenha feito...

— E talvez não tenha. Há inúmeras possibilidades para cada coisa que possa estar pensando, Drisa.

     Caleb se aproxima de mim e senta-se ao meu lado, toca em meus ombros, então começa a apertá-los.

— Você está muito tensa — diz. — Precisa relaxar.

— Eu preciso ir pra casa, isso sim. — Me afasto. — Mas antes quero que me diga o que estava fazendo ao redor do cemitério, porque me levou para casa e, merda, como você sabia onde era minha casa.

     Caleb sorri.

— Sou seu príncipe, você é a minha Bela Adormecida.

     Sinto vontade de socar o rosto de Caleb até que o sangue escorra de seu nariz e seus olhos fiquem roxos, mas afasto esses pensamentos porque a) isso soou muito violento e b) Caleb claramente é mais forte que eu e se ele revidasse não haveria muito que eu pudesse fazer para me defender. Diante disso, mantenho a calma e falo:

— Apenas me diga. Eu te contei sobre mim, eu estou aqui, você me prometeu respostas e agora me deve isso.

     O rapaz suspira, então se senta no tapete entre um sofá e outro.

— Vem cá — chama.

     Reviro os olhos, e com relutância vou até ele e me sento ao seu lado, mas não tão perto.

— Apenas me diga — repito.

    O rapaz ainda me olha por alguns instantes antes de começar:

— Eu não sei o que aconteceu com você no cemitério, não sei porque estava lá... Eu só estava coincidentemente passando, vi você com Bianca, me aproximei e de repente você caiu, te segurei antes que atingisse o chão.

Caleb - Não olhe. Não grite. Não corra. Onde histórias criam vida. Descubra agora