"Você acha que acabou, mas acabou de começar." — A Little Piece of Heaven // Avenged Sevenfold
Caleb entra por uma porta no final de um longo corredor e descemos escadas. O cômodo é escuro, sinto-me claustrofóbica por não saber a dimensão desse lugar, porém no momento em que Caleb acende as luzes sinto meu corpo relaxar. O porão não é lá grande coisa, mas também não é minúsculo. É muito bem arrumado e limpo. Muito limpo. Há um sofá grande de couro preto no meio do cômodo, um pouco longe das escadas que nos trouxeram até aqui. Uma mesa com algumas cadeiras e uma mesa de jogos. Mais uma vez tudo limpo. Enquanto observo tudo não posso deixar que um pensamento surja em minha mente. Não há ratos aqui.
Viro meu corpo para o rapaz atrás de mim e encontro seu sorriso. Seus olhos fitam meu rosto de maneira curiosa.
— O que foi? — questiono.
— Grite — ele diz, ainda sorrindo.
Franzo a testa, esperando uma explicação de Caleb, mas ao invés disso ele começa a gritar. Alto. É um grito que soa quase como se ele estivesse com dor ou horrorizado, contudo ele ri após isso.
— Que merda você está fazendo? — pergunto, claramente assustada.
— Isso é só pra você ver que ninguém lá de cima vai te ouvir gritar daqui.
— Meu Deus... — seguro um suspiro de medo, mas Caleb parece não notar.
— Me diga, Drisa, como acha que decidiram te tirar do hospital?
— Eu... Não sei. Minha mãe disse que aconteceu outro assassinato. — Sento-me no chão. Está tão frio que tenho que me autocontrolar para não encolher. — É verdade?
— Sim. Tinha pedaços do velho em cada rua. — Caleb ri como se fosse engraçado e eu tento ignorar, embora seja algo praticamente impossível. Ele se senta no sofá e pensa por um momento. — O pai do Otávio, aliás.
— Meu Deus...
— Foi até poético. O sangue dele literalmente foi usado pra escrever em um muro — Caleb não ri dessa vez, porém seus olhos trazem um brilho de admiração perturbador. E antes que ele termine já deduzi suas próximas palavras. — Estava escrito "Ainda estou aqui". Eu queria escrever algo como "ainda estou aqui babacas, chupem o meu pau", mas aí a polícia iria procurar um homem específicamente e isso perderia toda a graça da coisa, entende?
— Por que fez isso? — indago, em um fio de voz. Caleb continua onde está e eu fico feliz por isso, se ele se aproximar vou entrar em pânico.
— Fiz por você, Drisa. Porque você precisava de mim. Eu não queria que ficasse naquele lugar, você não é louca.
— Mas você é. — Apoio minhas mãos no chão e me pergunto se consigo levantar e correr antes que Caleb perceba. Estou com tanto medo dele que sinto meu estômago embrulhar. Mas fui eu quem começou isso, afinal.
— Então — diz ele, ignorando o que acabei de dizer. — Com quem você quer começar?
Olho para ele sem entender. Ele parece levemente aborrecido, mas logo assume sua expressão divertida outra vez.
— De quem você quer se vingar primeiro? — explica.
Não digo nada por um momento, embora eu saiba que ele realmente está falando sério, não sei como responder a isso. Ele, no entanto, não espera tanto tempo por minha resposta. Ao invés disso, ele sorri e diz:
— Bianca? Algum professor que te deu nota baixa injustamente? Um colega que te chamou de louca ou falou de você pelas costas? Sei que são muitos, podemos fazer em ordem alfabética. O que acha de Daniel? — ele anda um pouco pelo cômodo, como se estivesse pensando. Eu arfo em cada passo que ele dá, mas ele finge não notar. — Oh, não. Que tal sua mãe?
Tento encontrar minhas palavras, mas estou assustada demais com a perspectiva maior do que eu concordei há poucos minutos atrás. Meu coração está disparado e sinto que o ar está me faltando. Não quero demonstrar o quanto estou com medo, mas enquanto mais Caleb me olha com seus olhos castanhos avermelhados, mais meu coração parece se esquecer do seu ritmo normal.
— M-minha mãe? — gaguejo.
— É claro, Drisa. Ela te trancou naquele lugar, te deixou sozinha por dias, sem notícias, sem esperanças...
— Ela... Ela fez pro meu bem.
— Pro seu bem? — Ele finalmente levanta e se aproxima, me levanto o mais rápido possível. Ficamos de frente um para o outro. O rapaz parece furioso. — Eu trabalhei incansavelmente todas as noites pra te tirar de lá enquanto a sua querida mãe se divertia com seus outros filhos esquecendo que você existia.
— Isso não é verdade!
Caleb ri, sua risada é tão fria que me sinto encolher. Seu humor acabou de mudar novamente. Gostaria de entender como ele consegue fazer isso tão rápido.
— É verdade sim, docinho. E sabe o quê mais? Ela estava feliz sem você. Somente eu senti sua falta.
Sinto meu sangue ferver, sinto que vou desmoronar, mas me recuso a chorar na frente de Caleb. Ao invés disso uso toda a minha força e começo a bater em seu peito. Ele não reage, continuo esmurrando seu peito, mas ele só fica parado no mesmo lugar. Isso me deixa com mais raiva, tanta raiva que não consigo me conter. Mudo o foco dos socos e atinjo seu rosto, então finalmente ele reage. Segura meus braços e me aperta contra si. Sinto seu corpo contra o meu e de repente sinto as lágrimas inundarem meus olhos sem que eu possa controlar. É totalmente desesperador sentir toda essa solidão, mas é ainda pior saber que a única pessoa com quem eu posso contar está bem na minha frente. E me dá medo.
— Escolha, amor. — A voz dele é só um sussurro em meu ouvido. — Ou eu escolho por você.
Tenho medo do que suas palavras significam. Tenho medo que ele faça algo com minha mãe, então faço a única coisa que me parece sensata.
— Bianca — digo, com meu coração denunciando meu medo quase desesperado. — Eu escolho a Bianca.
Não pergunto o que vamos fazer com ela, por um momento não quero detalhes de nada. E quando Caleb me abraça e sinto o calor do seu corpo inundar o meu, tento contar os batimentos do meu coração e não entrar em pânico, mas estou abraçada com um psicopata em um porão totalmente limpo e a prova de gritos. Não entrar em pânico não é uma tarefa fácil.
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Caleb - Não olhe. Não grite. Não corra.
TerrorNão olhe. Não grite. Não corra. O mal está à espreita. Drisa Torres nunca foi uma das melhores alunas da escola, nem tampouco uma das garotas mais bonitas de sua idade. Extremamente arrogante e de poucos amigos, a garota vive uma vida totalm...