III. O jeito como ela me olhou

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POV Rafa Kalimann

Eu fiquei sem acreditar que aquela mulher que tava jogando o jogo preferido da minha filha era a psicóloga dela, em alguns minutos com Mel ela conseguiu fazer minha filha ter uma conversa e interagir com uma completa estranha, fez até ela querer voltar.

Em seu consultório, Gizelly Bicalho me mostrou os horários disponíveis, havia um pra daqui a dois dias.

- Pode ser na sexta? - apontei pra data na tela de seu computador.

- Claro. Qual o melhor horário para vocês? - ela perguntou, mas só havia um horário livre.

- Só tem um horário livre aí - a olhei e dei um sorriso meio sem jeito.

- E eu tô perguntando o melhor horário para você - retribuiu o olhar e eu confesso que fiquei um pouco envergonhada com o olhar daquela mulher sobre mim, parecia que seu olhar estava me despindo de qualquer proteção que usava para me manter forte.

- Na verdade no final da tarde seria muito bom. Tenho uma entrevista de emprego e como moro longe daqui acabaria perdendo se viesse às 8h - falei sincera.

- E o seu marido não pode trazê-la? - ela perguntou como quem não queria nada.

- É complicado, ele trabalha.

- Tudo bem. - ela pegou o telefone - Fê, remarca o horário do Caio pra sexta de manhã, às 8h, por favor. E coloca a senhora Ferretti no lugar dele... Isso... Se ele não puder diga que encontraremos um outro horário para ele e que ele receberá um desconto por isso - ela olhava pra tela do seu computador - Certo, muito obrigado Fê! E a garota, ainda jogando?... Ótimo, acabamos já aqui, tchau! - desligou - Pronto, tudo certo. Nos vemos sexta às 16h30min.

- Não precisava fazer isso - falei.

- Eu sei - ela me olhou nos olhos - mas eu quis! - sorriu e saiu de trás da mesa andando até meu lado fazendo um gesto para que eu me levantasse e eu me levantei, caminhamos até a porta de seu escritório, ela parou e tocou meu ombro - Isso pode ser só uma fase, não fica se culpando por isso - como ela sabia que eu tava me culpando?

- Como você... - respirei.

- Olha, aproveita esses dias que ela estará em casa e façam alguns programas juntas, tentem fazer algo com o pai dela também, isso vai ser bom pra ela - ah se ela soubesse o que acontece naquela casa, que ele nunca tem tempo pra nós duas, ela jamais sugeriria isso...

- Tudo bem - me contive em responder.

Ela desceu sua mão do ombro pelo meu braço até desfazer o contato, eu me arrepiei com o toque e eu soltei um sorriso envergonhado para a mulher ao meu lado, que abriu a porta, me esperou sair e me acompanhou até a sala de espera.

- Vamos Mel - falei - devolve o jogo da doutora Bicalho.

- Tá aqui doutora Bicalho, muito obrigado por me deixar jogar, depois do que fiz não sei quando meu pai vai me deixar jogar no meu de novo - o olhar da minha filha ficou triste.

- De nada Mel, mas me chama de Gizelly, ou de Gi, se preferir - ela sorriu pra minha filha - posso te dar um abraço?

- Pode sim - Mel respondeu e Gizelly se abaixou para abraçá-la.

- Nos vemos sexta tá? Tenho uma ótima ideia sobre o que vamos fazer - ela disse ao desfazer o contato, ela se levantou e me olhou, me deixando um pouco desconfortável - tchau senhora Ferretti - revirei meus olhos e ela pareceu entender - senhora Rafaella - sorriu para mim e o sorriso dela era maravilhoso, seus olhos se encontraram com os meus, me fazendo encará-los. 

Não sei parar de te olharOnde histórias criam vida. Descubra agora