XIII. Tô ansiosa pra te ver a sós

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POV Rafa Kalimann

Depois que almoçamos, Gizelly olhava para Mel, como se esperando que ela falasse algo.

- Mel, você quer começar a falar? - Gizelly perguntou e minha filha respirou fundo.

- Mamãe, por que o papai não gosta da gente? - disse enquanto encarava as próprias mãos e eu congelei com a pergunta, olhei pra Gizelly que tava com olhar sereno.

- Não filha, seu pai gosta de você sim - tentei falar, mas sabia que minha filha não era boba.

- Ele nem me deu bom dia hoje - falou triste ainda sem me olhar.

- Ele tá passando por problemas no trabalho, tem andado muito estressado, mas ele ama você, Mel, não tem como não amar! - falava nervosa.

- Eu sinto saudades de quando ele brincava comigo, de quando saíamos pra passear, de ficar deitada no sofá vendo desenho com ele - minha filha desabafou e eu não soube o que falar, olhei pra Gizelly pra que ela me ajudasse.

- Mel, deixa eu te falar uma coisa - Gizelly chamou a atenção dela - às vezes, quando coisas vão mal no trabalho, nós adultos tendemos a descontar em quem não tem culpa, apesar disso ser errado. Seu pai só precisa de um tempo pra organizar as ideias dele - se ela soubesse...

- E como ele fará isso? - Mel perguntou.

- Hm, boa pergunta! Mas não posso responder isso por ele, cada pessoa leva seu próprio tempo, e algumas precisam de ajuda pra isso. É por isso que a minha profissão existe - ela foi leve e serena com minha filha

- Então o papai pode ir se consultar com a senhora? - ela perguntou.

- Eu acho que agora não seria uma boa ideia ele vir se consultar comigo - falou.

- Por que? - Mel perguntou curiosa.

- Porque eu sou sua psicóloga e acredito que já já tenho que deixar de ser, porque tô quase te considerando uma amiga e eu não posso atender aos meus amigos - ela sorriu e Mel sorriu com ela.

- Verdade que eu sou quase sua amiga? - minha filha pergunto animada.

- Verdade sim - falou.

- Mas cê vai parar de me atender? Eu não quero que isso aconteça, eu gosto de conversar com você! - minha filha falou isso mesmo depois de duas consultas apenas.

- Mas você pode conversar comigo sempre que quiser - Gizelly segurou sua mão.

- Mas enquanto eu não me torno sua amiga, posso continuar indo me consultar com você? - falou.

- Pode sim, só sua mãe marcar as consultas. É bom fechar um pacote longo, que eu sei que a cada consulta eu vou me tornar mais amiga dessa menina, viu Rafaella - sorriu pra mim e eu apenas assenti.

Era incrível como Mel ficava a vontade com Gizelly, e eu adorava ser espectadora das conversas das duas.

- Gi, fala sobre aquilo - ouvi Mel sussurrando pra Gizelly.

- Mel, posso falar a sós com sua mãe? Que tal cê ir brincar com aquelas crianças ali? - ela assentiu e foi em direção às crianças.

- Viu só? Sou uma péssima mãe - disse colocando uma mão sobre meu rosto e senti Gizelly segurando a que repousava na mesa.

- Ei, não é não, Mel falou sobre o pai, não sobre você. Ela tá preocupada com você, Rafaella, disse que cês andam brigando e ela não quer que você brigue com ele - ela falou calma, apesar de ter raiva em seu olhar e eu a entendia.

- Ela sabe das brigas? - perguntei.

- Crianças sabem de muitas coisas. Mas ela pediu pra que eu falasse com você pra não ir brigar com seu marido por causa disso - eu ia interromper sua fala, mas ela não deixou - faz isso por ela, tá bom? Pelo menos por hoje, não fala nada com ele. Espera até ela não tá em casa, pra não presenciar mais uma briga, pode ser?

Não sei parar de te olharOnde histórias criam vida. Descubra agora