Não sei parar de te olhar

XLIX. Duas mães

POV Gizelly Bicalho

Confesso que ouvir Mel falando aquelas coisas me fez sentir um espanto, misturado com um aquecer de coração. Quando ela falou que a mãe dela precisava de alguém como eu, acabei me engasgando. Tossi mais do que gostaria.

A conversa se estendeu um pouquinho mais e Rafa me olhava, mas eu, assim como a loira, não sabia muito bem o que falar, ficando a cargo de Mel quebrar o silêncio que se instaurou naquele lugar...

- Sabe, mamãe... - a garota disse encarando uma Rafaella sem jeito - lá na minha escola tem um menino, do quinto ano, que tem duas mães. - falava enquanto comia - Eu conheci ele esses dias, porque ele chegou na escola recentemente, ele veio de outro estado. Ele é bem legal. - seguiu falando - Deve ser legal ter duas mães, não é? - perguntou.

- Como? - foi tudo que Rafa conseguiu falar.

- Ter duas mães, mamãe. Ter uma já é bom, imagina duas. - fez uma cara de quem tava pensativa - Eu não perguntei pra ele, mas fiquei pensando... - pausou sua fala - E o pai dele? Será que ele é legal? E como funciona isso? O pai dele tem duas esposas? - sua cara estava carregada de dúvidas.

Rafaella ficou sem saber o que responder, ela parecia não conhecer esse garoto e muito menos saber que ele tinha duas mães, ela apenas ficou calada tentando encontrar palavras para responder a filha.

- Bom Mel, às vezes, duas pessoas iguais podem ter um filho, não necessariamente precisa ter um outro diferente. - tentei ser racional, mas acho que falhei um pouquinho - Digo... Ele pode ter duas mães que estão juntas, sem precisar ter um pai presente - tá, estava um pouco nervosa com essa conversa.

- Então as duas mães dele tiveram ele sozinhas? - Mel perguntou confusa.

- Isso eu não posso afirmar, Mel. - falei sincera - Mas é uma possibilidade sim.

- Duas mulheres podem fazer isso? - perguntou espantada e seguiu me olhando confusa, dessa vez, alternou o olhar entre mim e Rafaella.

- Pode sim, Mel. Claro que pode - falei soando o mais natural possível.

- E elas podem ser... - fez uma pausa - Um casal?

Vi Rafaella ficar ainda mais sem jeito, então sabia que teria que continuar minha conversa com Mel sem a ajuda da loira.

- Pode sim. - falei e segui explicando - As pessoas tem todo o direito de amar quem elas quiserem. De serem felizes como um casal com quem elas quiserem. Se duas pessoas se gostam não é errado viver isso, não é mesmo?

- É, não é... - Mel respondeu - Hm... - ela me encarava como quem formulasse uma pergunta, até que a proferiu - Então, basta duas pessoas se gostarem pra poderem ser um casal?

- Isso, Mel. Basicamente é isso aí - eu disse e olhei pra Rafaella, pra que ela falasse algo, mas sem sucesso.

Ficamos em silêncio. Mel ficou pensativa e não puxou mais assunto nenhum, assim, eu e Rafa seguimos a pequena e também permanecemos caladas. Terminamos o jantar e nada mais foi conversado. Fomos pra sala e nos sentamos no sofá, Mel foi se sentar no chão.

- Querem assistir a um filme? - Rafa perguntou, quebrando o silêncio que ainda se fazia presente naquele lugar.

Mel apenas assentiu que não e eu fiz o mesmo. A menina seguia com uma cara reflexiva.

- Por que está com essa carinha? - decidi perguntar e Mel me encarou.

- Tô pensando, Gi - foi sua resposta.

- Sobre o que conversamos no jantar? - ela apenas assentiu - Isso te incomodou? - ela negou com a cabeça e eu olhei pra Rafaella - Hm... - me resumi em falar.