—Droga! — resmunga Walter enquanto pega a vassoura para limpar os "restos mortais" do que um dia foi um tubo de ensaio.
Era uma calma manhã de outono, e o mundo parecia uma pintura monocromática laranja com um céu nublado que destacava o vermelho intenso das folhas caídas.
—Hoje está uma manhã linda do jeitinho que eu gosto pra escrever. É incrível como o céu cinza claro contrasta com as folhas de forma gloriosa, não acha? Parece uma bela moça com pele cor-de-neve usando um forte batom vermelho, ah!
Do seu lado, estava seu amigo do peito, Carl Meredith, trabalhando duro numa folha de cálculos. Walter amava a ciência, mas a parte de matemática definitivamente não era com ele. Herdara o amor pela poesia e o desgosto pelos cálculos da mãe que passara por tensos momentos com geometria quando mais nova.
—Eu acho que você devaneia muito, Blythe. —disse Carl de forma descontraída, imaginando sua antiga paixão da Queen's de batom vermelho vivo. —Se bem que o papai faz muito isso, então já estou acostumado.
—Sabe Carl, eu gosto muitíssimo da ciência, mas não queria estar fazendo experimentos agora numa manhã tão fascinante como esta —murmurou Walter num tom triste.
—Infelizmente é o que teremos que fazer se quisermos ir pra Redmond em breve.
Rilla Blythe, ou então a chamada Rilla-a-Marilla, entrou de supetão no laboratório —se é que se pode chamar aquele quartinho minúsculo cheio de tranqueiras de laboratório — avisando que Nan e Di tinham chegado com os preparativos para a festa da mamãe. Era de conhecimento de toda Glen St. Mary que a senhora Blythe faria aniversário na próxima quarta-feira. Todos só falavam disso, pois estavam animados pra fazer uma grande surpresa pra ela. O aniversário teria uma forte conexão com a vida de Anne em Green Gables, visto que era uma época de grande importância na sua vida, quando tudo começou a se transformar, e que sentia muita saudade. Nan e Di trouxeram vários arranjos de flores de tons diversos, pois sabiam que a mamãe tinha uma grande paixão pela natureza.
—É incrível como a mamãe já não é mais tão jovem, mas a alma e o espírito dela permanecem como sempre fora! —exclamou o sonhador Walter. —Ah, como eu gostaria de ver a mamãe e o papai naquela época, quando eram ainda crianças!
—E eu gostaria de te ver agindo mais para a festa da mamãe daqui a dois dias! —disse Rilla-a-Marilla, enquanto dava uma meia volta subindo as escadas.
—Acho que preciso deixar você organizar as coisas para sua mãe, Blythe. Amanhã eu volto pra te mostrar os cálculos.
Carl foi embora e levou consigo folhas e folhas de escritos matemáticos que Walter pouco entendia. Pra ele, às vezes, parecia uma outra língua. De fato, precisava pensar mais na surpresa pra sua querida mãe, que sempre foi muito atenciosa com ele. Passava tempo demais escrevendo poesias, estudando e devaneando, vivendo num mundo que era só seu e de mais ninguém. Carl e ele gastavam bastante tempo estudando duro, pois queriam estar em Redmond no próximo verão. Além disso, Walter sabia que precisava estudar lá e dar orgulho para os seus pais, haja vista que eles estudaram lá anos atrás.
Antes de deixar seu laboratório, percebeu uma coisa brilhando no pé da mesa de experimentos. O brilho era ofuscante, chamativo. Abaixou-se para ver, e quando foi se levantar, bateu com muita força na mesa, deixando cair sobre si uma substância que ele tampouco lembrava o que era. Sua cabeça latejava e tudo ao redor girava até a imagem desvanecer e apagar por completo.
Algo deu errado.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Take me back - Leve-me de volta
FanficCLASSIFICAÇÃO: Livre Além de poeta, Walter Blythe é também um cientista. Em um belo dia, algo dá errado em seu laboratório. Acidentalmente, retorna ao passado, quando seus pais Anne e Gilbert nem namoravam ainda. Porém, interromper a história pode...