O homem que ia na direção dos jovens carregava consigo um semblante tranquilo, sereno e acolhedor. Possuía cabelos grisalhos cobertos por um chapéu porkpie gasto, que provavelmente viveu muitas aventuras junto desse senhor. Ele vinha na direção de Walter e hesitou bastante antes de falar alguma coisa, como se houvesse algo o bloqueando de fazer.
—Hã... er... você é o... hm... bom... rapazinho que virá comigo hoje? -perguntou para Walter.
—Ah, não, senhor Cuthbert! —exclamou Anne, com alegria, antes mesmo que Walter pudesse pensar em alguma coisa —Bom, acho que o senhor é Matthew Cuthbert, certo? Estive aqui esperando ansiosamente o senhor chegar! Sou Anne Shirley e a senhora Spencer me trouxe aqui. Ela me disse pouco sobre o senhor e sobre sua irmã Marilla, também me contou pouco sobre Green Gables, então isso me deu muito escopo pra imaginar como deve ser seu lindo lar! Ah, será que tem árvores por perto? Sabe, senhor Cuthbert, seria terrível para mim viver num lugar sem árvores. Sem dúvidas seria péssimo! Mas, ah, aposto que há muitas árvores gloriosas em Green Gables! Por falar nisso, fiquei receosa que o senhor não viesse, então imaginei onde iria dormir se isso acontecesse. Olhei para aquela cerejeira e pensei em passar a noite lá, não seria de todo ruim, não é mesmo? Seria adorável dormir em uma cerejeira selvagem, cheia de botões brancos à luz do luar, não seria?
Walter já tinha ouvido falar de Matthew Cuthbert, que foi um verdadeiro pai que Anne nunca tivera, estando vivo no coração dela mesmo depois de décadas de sua morte.
A —futura —mãe do garoto falava e falava sem parar, de forma que Walter não tinha dúvidas que se tratava dela em pessoa na sua frente. Por uns momentos, ele sentia como se não estivesse realmente ali, mas apenas como um espectador, cuja função era somente observar. Mas, afinal, por que ele estava ali, muitos anos atrás, quando a mãe, literalmente, nem sonhava em tê-lo? Nesse exato momento, Anne virou-se para ele:
—Aliás, qual o seu nome?
—Eu me chamo Walter B... Brown, Walter Brown. —gaguejando, o menino quase falou seu sobrenome verdadeiro.
—Ah... bom... então é melhor... hm... irmos. —hesitou Matthew, que parecia totalmente confuso com a situação. Afinal, ele foi até Rio Bright com a finalidade de trazer um menino pra casa. No entanto, eles eram quatro: Matthew, Walter, uma menina muito magra, ruiva e sardenta e a égua Belle, indo em direção a Green Gables, o início de tudo.
Durante todo o trajeto, Anne tagarelava e tagarelava sem parar, falando sobre as árvores, o céu, o Sol, os animais, citando frases e poemas dos quais Walter sabia de cor, falando de sonhos, rios, mares, coisas inimagináveis e óbvio, do seu cabelo ruivo, o grande tormento de sua vida. Enquanto isso, Walter pensava no propósito de sua visita ao passado, o que aquilo queria dizer? Será que ele iria encontrar o seu futuro pai também? Alguma coisa que dissesse poderia mudar toda a sua trajetória? E se ele falasse algo que pudesse mudar tudo, ao ponto de Walter e seus irmãos nem chegarem a nascer? Como evitaria problemas como esse? E como retornaria pros braços da mãe adulta, que logo faria mais um ano de vida? Sua mente girava... e sua cabeça explodia. A dor era intensificada pelo galo enorme da batida da mesa. Tudo parecia confuso, como se houvesse uma lupa aumentando todas as preocupações do menino, afinal, se algo a mais fosse dito, ele nem chegaria a existir! O que faria? Como resolveria? Eram mil perguntas sem resposta alguma...
Do seu lado, porém, havia um sujeito com um único questionamento na cabeça: "O que será que Marilla vai achar disso?"
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Take me back - Leve-me de volta
Fiksi PenggemarCLASSIFICAÇÃO: Livre Além de poeta, Walter Blythe é também um cientista. Em um belo dia, algo dá errado em seu laboratório. Acidentalmente, retorna ao passado, quando seus pais Anne e Gilbert nem namoravam ainda. Porém, interromper a história pode...