Capítulo 8 - Uma amiga do peito

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Anne estava esquentando água para o chá enquanto Marilla retirava o bolo do forno. Matthew estava com Walter no celeiro alimentando os cavalos. Era um início de manhã agradável em Green Gables, e o ar estava repleto de ansiedade e entusiasmo: a volta às aulas aconteceria no dia seguinte na escola de Avonlea. A mente de Anne imaginava e criava histórias pra contar para os seus futuros colegas de classe.

—Ah, Marilla! Nem acredito que já é amanhã que eu vou à escola, não é esplêndido? Eu amo estudar, sabe, e também amo fazer amizades, apesar de não ter tido muitos amigos no orfanato de Hopetown... as meninas não gostavam de mim porque eu falava demais, mas a senhora acha que é um defeito? Eu acho que é uma belíssima virtude! Oh, será que farei alguma amizade verdadeira? Tipo uma amiga do peito, a quem você pode sempre recorrer nas horas difíceis? Ah, seria magnífico, senhorita Cuthbert! Seria um sonho sendo realizado!

—Você pode fazer uma visita à Orchard Slope comigo hoje, Anne. —sugeriu Marilla. —A filha dos Barry se chama "Diana", tem a sua idade e é uma menina muito adorável. Talvez vocês possam ser boas amigas.

—Ah, Marilla! Será? Estou tão entusiasmada com a possibilidade de ter uma verdadeira amiga do peito que nem consigo respirar! A única amiga que tive se chamava Kate. Nunca mais a vi, senhorita Cuthbert. Ela não era, digamos... real. Mas ainda carrego a fidelidade de uma boa amizade que tivemos. Nunca me esquecerei dela!

—Bom, então talvez hoje seja a sua chance de fazer uma boa amizade, com uma pessoa de carne e osso, Anne. Isso é, se você se comportar!

Então, após o almoço, lá foram Anne Shirley e Marilla em direção à casa do Barry. Walter também havia sido convidado, mas preferiu não ir, dando a desculpa de que iria ajudar Matthew no celeiro. A principal razão, no entanto, era que o menino queria se manter distante em momentos decisivos da história, como o surgimento da amizade entre a mãe e a tia Diana. Chegando lá, uma menina de cabelo castanho-escuro, com maçãs do rosto bem rosadas e acentuadas, e pele que mais parecia porcelana, abriu a porta para recebê-las: era a filha mais velha dos Barry. Marilla havia sugerido que Anne se comportasse, evitando falar a todo momento, e assim o fez. A senhorita Cuthbert entrou na residência enquanto Diana e Anne foram para o quintal. A senhora Barry não entendia exatamente onde os Cuthbert estavam com a cabeça em adotar uma menina pálida, magérrima e ruiva como aquela, mas ficou feliz com a possibilidade da filha fazer amizades ao invés de ficar o dia inteiro com a cara nos livros.

—Então, você é Diana Barry? Ah, Diana, como você é bonita! Eu gostaria de ter ao menos 1% da sua beleza, mas tenho esses cabelos ruivos horrendos. Ah, Diana, você não se importaria de ser amiga de uma menina feia como eu, não é?

—Claro que não... —assustou-se Diana com o falatório da ruiva.

—Ah, que bom! Oh, o que você acha de jurarmos sermos amigas para sempre? Eu sempre quis ter uma amiga do peito, Diana!

—Ah, Anne... não sei se posso prometer...

Mas antes que pudesse recuar, a menina também acabou se rendendo aos encantos de Anne Shirley. Foi naquele dia, ao som do riacho e dos sapos coaxando, com a presença da doce brisa de outono e do cheiro de amores-perfeitos que Anne e Diana selaram seu laço de amizade.

—Eu digo e você repete, está bem?

—Certo.

—Eu, Anne Shirley, juro solenemente ser fiel à minha amiga do peito, Diana Barry, enquanto o sol e a lua existirem.

—Eu, Diana Barry, juro solenemente ser fiel à minha amiga do peito, Anne Shirley, enquanto o sol e a lua existirem.

E então se abraçaram, conversaram e riram as amigas ao som da doce música da infância, uma época leve e singela, a qual ambas as meninas sentiriam muita falta no futuro. Quando uma amizade nasce, nada no mundo pode quebrá-la a não ser uma das integrantes. E o laço fraterno entre Anne e Diana, sendo inquebrável, duraria até o fim de suas vidas.

Take me back - Leve-me de volta Onde histórias criam vida. Descubra agora