Capítulo 5 - Não vou voltar atrás

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No dia seguinte, a pequena Anne se levantou junto com o Sol.

—Bom dia, querida rainha das neves!

Ela arrumou a cama, dobrou as roupas, saiu silenciosamente do quarto e foi direto para a cozinha. Preparou pães e ovos, fez chá e pegou uma compota de framboesa da despensa de Marilla. Tudo arrumado! Ela convenceria a senhorita Cuthbert a adotá-la! Mostraria a ela que Anne Shirley era sim útil, aliás, por que só um homem seria e ela não? Ela poderia ser muito mais útil que um homem! Poderia fazer de tudo e mais um pouco.

Subiu as escadas correndo e logo lembrou-se de que precisava fazer silêncio, pois todos ainda estavam dormindo. Então, foi calmamente ao cômodo ao lado de seu quarto, cuja janela era bem maior. Apreciou a sua já tão amada Green Gables e suspirou:

—Querido mundo, por favor, deixe-me ficar aqui, pois nunca na minha vida senti essa sensação extasiante de pertencer à uma família.

Como resposta, porém, alguma coisa estava refletindo o Sol da manhã, gerando um intenso brilho.

—Oh, mas que broche impecável! Parece uma lágrima de uma princesa, uma mulher com vestes esplendentes de ouro de Ofir! Ah, que magnífico!

Sentou-se na cadeira de balanço na frente da casa, e após um momento sozinha contemplando o broche, Walter apareceu.

—Bom dia!

—Bom dia, Walter! Olhe este broche resplandecente que eu achei lá em cima. Não é glorioso? Ah, como eu queria ser bonita como ele! —desejou. —Ah, preciso colher umas flores! Uma mesa de café da manhã não é uma mesa perfeita sem flores! Vou colocar essa preciosidade lá em cima antes!

Anne subiu as escadas com pressa, pois sabia que precisava das flores urgentemente, já que os Cuthbert logo logo iriam acordar. O Sol já estava sinalizando presença no horizonte, mas Walter não conseguia se concentrar nele, pois estava distraído pensando na sua mãe e na grande semelhança entre os dois. Ela colheu lírios, margaridas, amores-perfeitos e tulipas. Pegou também um dente-de-leão.

—Desejo permanecer em Green Gables. —falou avidamente.

Neste momento, no entanto, Marilla surgiu na porta e não parecia muito contente com a "surpresa" de Anne.

—Ora, menina o que é isto? Flores selvagens na mesa, ora, garotinha, você não tem modos? Compota de framboesa, elas são para visitas especiais! E o que é isto na sua cabeça?

—Uma coroa de flores que eu acabei de fazer, a senhorita gostou? —perguntou com os olhos brilhantes e sonhadores.

—Claro que não, menina! Tire isto já! Não vou participar dessa festa de vocês, tenho uma reunião no clube de Avonlea hoje e preciso que vocês se comportem enquanto eu estiver fora.

—Ah, senhorita Cuthbert, por que não usa o seu broche com este vestido? Iria ficar deslumbrante!

Marilla pensou por um momento e concordou em pegar o broche, de fato causaria uma melhor impressão. Mas, chegar ao quarto, vasculhou todas as gavetas e nada encontrou. Só poderia ser culpa daquela garotinha inútil, que além de bagunçar sua mesa, agora sumiu com sua herança de família!

—Anne Shirley! Onde está o meu broche? —ela urrou. —Quem te deu autorização para mexer nas minhas coisas e perder uma herança de família?

Anne correu escada acima à procura da relíquia. Ah, havia estragado tudo! Não achava em lugar nenhum!

—Senhorita Cuthbert, a Anne não perdeu o seu broche. Eu a vi subindo para guardá-lo, eu garanto que ela não perdeu nada, está em algum lugar!—interveio Walter.

Mas não estava. Marilla, Anne, Walter e até o pobre Matthew olharam em todos os lugares, mas não conseguiram achar.

—Quando retornar da reunião, eu mesma a levarei para a estação de trem, não vou ficar com uma garotinha mentirosa em minha casa! E não vou voltar atrás!

Naquela tarde, Marilla colocou a sela no cavalo e levou a pobre órfã de volta à estação de trem de Rio Bright. Walter olhava e nada dizia, seu coração estava estilhaçado.

Take me back - Leve-me de volta Onde histórias criam vida. Descubra agora