Capítulo 21 - Uma revelação do coração

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Um grande dia se iniciava. Finalmente, o tão esperado dia, não só por Anne, mas por Gilbert e todos os outros estudantes da escola de Avonlea: o dia do exame da Queen's.

Enquanto andava em direção ao local da prova, Anne não conseguia pensar em mais nada senão na expressão de Walter quando disse que estava apaixonada por Gilbert. Ele sorriu com empolgação, fato que Anne não entendeu muito bem, haja vista que ele não havia reagido da mesma forma quando ela expressou os sentimentos por Roy. Aliás, havia esquecido completamente dele.

Roy Gardner ainda era seu namorado.

Precisava resolver isso e seria assim que chegasse da prova.

Além disso, outra coisa que não saía de sua cabeça era também a reação de Walter ao saber que Gilbert estava com Winifred. Foi como se uma bomba o tivesse atingido, pois seu rosto saiu da exaltação e alegria pra uma mistura de decepção e choque em segundos. E, de fato, Walter estava transtornado em saber que Gilbert estava namorando com uma menina que não era a sua mãe. Sinceramente, sempre nutriu um amor genuíno e profundo pelo pai, no qual sempre admirou com devoção. Ao ouvir essa novidade, porém, seu sangue correu queimando em suas veias. Sabia que Gilbert não era apaixonado por ninguém senão Anne, não só pelo que ele demonstrara, mas pelo que ele lhe dissera. Por que, afinal, estava namorando uma pessoa que não gostava? E então pensou novamente em Anne, que estava na mesma situação. Seus pais se amavam, mas, por algum motivo, o amor verdadeiro os assustava. É muito o tempo que se passa idealizando um amor de histórias românticas, como as de Shakespeare, que Walter tanto amava. No entanto, quando ele finalmente aparece, é como se o medo de se decepcionar e de se entregar preenchesse todo os nossos corações, restando como única saída simplesmente fugir e deixar a oportunidade de ser feliz ao lado de alguém para trás. E era isso que seus pais estavam fazendo. Eles se amavam genuinamente. Eles sabiam disso. Mas estavam com medo e, por isso, se escondiam em amores falsos. No fundo, os dois sempre souberam do seu amor um pelo outro. Sabiam que, não importando o que acontecesse, quantos anos se passassem e quantas viagens no tempo seus filhos fizessem, nada nunca mudaria.

O coração de Gilbert sempre seria de Anne. O coração de Anne sempre seria de Gilbert.

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Após a prova, Anne foi para casa e Diana a acompanhou. Todos os alunos haviam ido realizar os exames, muito nervosos e ansiosos. Os pensamentos da ruiva oscilavam entre Gilbert e a área de um triângulo retângulo. Seu sonho estava na sua frente, lhe esperando, e ela não conseguia parar de pensar no quão bonita era a Winifred e do quão impossível seria Gilbert abrir mão da loira pra estar com a ruiva. O quê era Anne aos pés de Winnie?

—Diana. —chamou a amiga com um suspiro antes de entrar em casa. —Pode ir até o meu quarto e me esperar lá. Preciso fazer uma coisa antes. É urgente, não posso mais deixar as coisas desse jeito.

Diana assentiu com a cabeça sem entender nada enquanto observava a amiga se afastar. Com um aperto no coração, sabendo que Roy era um menino muito bom e gentil, Anne foi até à casa dos Lynde, onde estavam hospedados os Gardner por mais uma temporada.

—Eu não posso mais fazer isso, Roy. —começou, segurando as lágrimas, assim que ele atendeu a porta. —Você é adorável e um ótimo... amigo. Mas, eu...

—Está apaixonada por outro, não é?

Não havia como mentir e Anne nem tentou.

–Sim. —respondeu já derramando uma lágrima pesada.

Nessas condições, não há quem não fique magoado. Mas Roy levou a vida como podia. Quando a sua parceira não está mais apaixonada por você, lá no fundo já é possível sentir. E Royal já sabia. Já desconfiava até por quem ela poderia estar sonhando. Doía, doía bastante, pois Anne foi seu primeiro grande amor e provavelmente continuaria sendo por um tempo. Não se desapega de um dia pro outro e a admiração pela ruiva continuaria.
A vida seguiria seu rumo e tudo ficaria bem um dia.

—Diana, Walter! —subiu as escadas correndo. Estava com as mãos tampando o rosto já chorando compulsivamente. —Eu sou uma pessoa horrível!

—O quê, Anne? O quê foi que aconteceu? —interrogou Diana, preocupada.

—Diana, eu... simplesmente não poderia mais enganar o Roy. Sabe, não é ele. Não sei como pude, mas agora eu vejo claramente que não é ele. Estava totalmente escuro antes, mas não está mais. Tudo se acendeu, a visão antes turva agora está completamente nítida. Meu coração pertence a Gilbert Blythe. —desembuchou enquanto Walter enxugava os olhos da mãe. —Não sei como não percebi ou se fui teimosa o suficiente pra não enxergar, mas agora eu vejo a verdade.

Um silêncio assustador percorreu o quarto iluminado pela luz do fim de tarde de um dia de primavera. Diana olhava assustada pra Walter enquanto ele encarava o chão, perplexo.

—Eu... eu... Roy ele... é perfeito. Ele nunca me magoou, sempre cuidou muito bem de mim —continuou—, sempre me fez sentir especial, bonita, uma ótima namorada, mas... é aí que está. Ele é ótimo, inteligente, engraçado, bonito, sentimental, educado, romântico, ele é... tudo de bom que há nesse mundo. Eu tenho certeza absoluta que ele nunca me magoaria. Eu reconheço todo o esforço e carinho que ele tinha comigo. Na verdade, eu nem sequer mereço alguém como ele. Royal Gardner é exatamente tudo que eu sonhei. Nenhum príncipe encantado chegaria nem perto do que ele é. Mas... por algum motivo, não é ele. Não sei, eu... acho que gostava da forma que ele me tratava. Eu não o amava de verdade, mas amava a forma que ele me fazia sentir.

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