Capítulo 7 - Andorinha-azul

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O mundo amanheceu diferente: era o início do outono naquela nova realidade em que Walter se encontrava. Desde aquele dia em que Anne havia sido levada de volta pro orfanato e, depois Matthew havia ido buscá-la, a ruiva e o menino desenvolveram uma bonita e sincera amizade. Ambos tinham as personalidades muitíssimo semelhantes, haja vista que Walter havia puxado a aparência do pai e o romantismo e lealdade da mãe. Suas conversas eram profundas, e eles aproveitavam juntos aquelas tardes deliciosas em Green Gables. Quando retornou à casa dos Cuthbert, o clima entre Anne e Marilla não estava muito agradável, e a jovem tinha a clara sensação de que a senhorita Cuthbert nunca iria amá-la. De fato, Marilla sempre foi muito fechada, mas agora, fazia um mês desde que Anne havia retornado para ficar pra sempre, e o coração da mulher se rendia cada vez mais aos encantos que só aquela menina tinha. Em um dia, Marilla e Matthew se reuniram para tornar Anne e Walter verdadeiros Cuthbert's. Assim, eles, de agora em diante, seriam Anne Shirley Cuthbert e Walter Cuthbert. Mais tarde, a ruiva estava sentada sobre um galho baixo de uma árvore próxima à Lagoa das Águas Brilhantes, enquanto Walter estava na grama.

—Ah, Walter, eu nunca pensei que um dia seria amada! Ainda não acredito que fui oficialmente adotada! Oh, olhe que esplêndida aquela andorinha-azul! Que tom de azul mais deslumbrante! Ah, Walter, eu gostaria de ser uma andorinha-azul por um dia, exibir lindas asas turquesas  e voar livremente sobre os bosques. Mas, ah, hoje estou contente em ser a Anne de Green Gables. Anne Shirley Cuthbert! —exclamou a sonhadora Anne, enfatizando seu novo sobrenome. —Você também está contente em saber que agora nós verdadeiramente pertencemos à uma família? Eu via isso nos meus mais doces sonhos de outrora, mas não imaginava que fossem se concretizar.

Assim que Anne se silenciou por um momento, admirando as folhas cor-de-laranja despencarem das árvores, uma moça muito bonita passou, usando um vestido de cetim verde-oliva.

—Ah, eu acho que conheço você! —ela disse com empolgação na direção de Walter. —Eu lembro de você na cidade uns dias atrás recitando e vendendo poemas. Como é bom te ver!

—Olá! —cumprimentou, totalmente sem jeito. —Como é bom te ver também! Por que não se senta aqui e assiste o pôr do sol conosco?

A jovem dama se sentou, e os três conversaram até depois do Sol ter dado lugar à Lua. Descobriram que o nome dela era Elizabeth, e ela era uma verdadeira alma-gêmea! Possuía cabelos loiros tão claros e esplendentes de forma que Walter nunca vira. Também possuía olhos castanhos claros e uma feição harmônica, com um sorriso acolhedor. Anne, fascinada pelo romance, soube de cara que eles já eram predestinados, mas, sabiamente, nada comentou. Quando retornaram para Green Gables, depois de se despedirem da nova amiga do peito, eles conversaram, saboreando o ar fresco que o outono os presenteava.

—O que te levou à cidade? —interrogou Anne, se referindo ao dia em que Walter conheceu Elizabeth.

—Ah, eu fui tentar ganhar algum dinheiro.

—Por quê?

—Para comprar um broche ametista pra Marilla.

—Vo-você... comprou um novo broche pra Marilla... por mim?... Digo... pra ela me... trazer se volta?

—Sim.

—Ah, Walter! —Anne abraçou o menino já com os olhos transbordando de água e felicidade. —Obrigada! Não sabe o que passei no trem de volta à Hopetown. Mas, oh, quando eu vi Matthew, eu não soube o que sentir. De início eu fiquei brava, porque não queria criar expectativas e ser expulsa novamente. No entanto, eu pude sentir o amor pelo mundo novamente! Quando cheguei, até as flores pareciam me dar as boas vindas!

Os dois sonhadores se deitaram naquela noite, no mesmo quarto banhado pela luz prateada e indecifrável da Lua. Quando Walter estava quase adormecendo, Anne o chamou:

—Walter? Está acordado?

—Diga-me, Anne.

—Queria dizer que eu acho o seu nome bastante admirável! Prometo que, se eu me casar algum dia, meu futuro filho se chamará Walter.

Take me back - Leve-me de volta Onde histórias criam vida. Descubra agora