Take me back - Leve-me de volta

Capítulo 4 - Uma chegada inesperada

Ao chegar em Green Gables, havia uma mulher na porta com um olhar assustado, que obviamente só poderia ser Marilla Cuthbert. Ela se aproximou de Walter e de sua futura mãe e logo se virou para Matthew.

—Ora, Matthew, quem é essa menina?

—Sou Anne Shirley, senhorita Cuthbert! É um imenso prazer conhecê-la! Não sabe o quanto eu ansiei por estar aqui! Sua Green Gables é esplêndida! Oh, senhorita Cuthbert, o que é aquilo? Que árvore fascinante, parece uma grande e gloriosa rainha das neves!

—Matthew Cuthbert, eu te peço um menino e você me traz um casal de crianças? —bufou Marilla. —Ora, menina, pare de falar coisas estranhas, não vamos ficar com você!

Walter já tinha ouvido falar muitas vezes do quão fria a tia Marilla fora com Anne, mas não entendia como aquela doce senhora, que era futuro, poderia ter sido tão cruel com sua mãe anos atrás. A situação trouxe lágrimas aos olhos do menino e até uma certa raiva da senhorita Cuthbert ao seu coração, que detestava ver a mãe sofrer, seja ela criança ou adulta.

—Ora, não chorem, não chorem, crianças! Veremos o que vamos fazer, se comportem! Não suporto crianças choronas!

Entraram na residência dos Cuthbert, o lugar adorável que Walter visitara várias e várias vezes no futuro (ou no passado?). Viajar no tempo sem dúvidas tinha deixado inúmeras interrogações na cabeça do menino que já era praticamente homem, mas sua tia Marilla insistia em chamar de criança. Ele a informou sobre a sua dor na nuca, e ela providenciou algumas loções e um pouco de gelo para sarar. Walter quase acreditou que Marilla fosse ficar com Anne depois disso.

No fim da tarde, porém, a senhorita Cuthbert foi com a menina até a casa da senhora Spencer, afinal, ela pediu um menino e não um casal! Se já tinha sido difícil chegar à conclusão de adotar uma criança, imagina duas? O pequeno —não tão pequeno— Blythe estava aflito com a possibilidade de sua chegada mudar tudo. O que aconteceria se sua mãe não fosse adotada pelos Cuthbert? O que aconteceria se ela nunca conhecesse Gilbert? Oh, céus! Como aquele menino estava perturbado! Aliás, cadê elas que nunca voltavam??? Já havia se passado 4 longas horas desde que as duas tinham saído! O Sol já tinha se posto no horizonte, mas ele não tinha vontade alguma de contemplá-lo, estava aflito demais para isso. Será que Marilla tinha deixado sua pobre mãe na casa da senhora Spencer?

Quando a Lua já estava quase no seu ápice, Walter viu as duas passarem pelo portão de Green Gables! Ah, a alegria tomou conta do coração dele! No entanto, ele não sentiria a sensação no dia seguinte, haja vista que Marilla era ainda muito teimosa, e não tinha se convencido de adotar uma menina também. Que utilidades ela lhe traria? Sabia plantar, carregar peso, trabalhar no celeiro? Ah, o que a senhora Lynde ia pensar? Quando ela descobrisse... toda a Avonlea iria saber que a solteirona da Marilla Cuthbert tinha adotado um casal, cuja menina era magricela, ruiva e sardenta, além de ter uma língua afiada, pois não conseguia ficar 10 minutos sem falar. Onde é que tinha se metido? Por que tinha abraçado a ideia de Matthew? Aliás, por que ele não a deixou na estação de trem?

Todos jantaram sobre a mesa de madeira, e depois Anne tagarelou com seu filho (que ela ainda não sabia que teria) até Marilla obrigá-los a dormir. Ela preparou uma cama e um colchão para eles, e Walter resolveu dormir no segundo. Eles se aconchegaram nos seus respectivos lugares, e o quarto parecia transbordar de tranquilidade. A luz do luar inundava aquele pequeno cômodo, abençoando a primeira noite de Anne Shirley, —que logo se tornaria uma Cuthbert e, mais pra frente, uma Blythe— em Green Gables, situação totalmente diferente do que acontecera quando Walter não tinha visitado o passado.

—Boa noite, querida mamãe —suspirou baixinho.

Mas a mãe não respondeu, pois já estava num sono profundo, despreocupado, cheio de sonhos encantadores com o futuro.