Era cedo quando os competidores acordaram. Ariela vestiu uma calça legging, um cropped justo e uma jaqueta impermeável. O cropped era de estampa camuflada, mas o resto da roupa era toda preta. Ela decidiu fazer um rabo de cavalo para seu cabelo não atrapalhar a visão. Os competidores atravessaram juntos o corredor indo em direção ao refeitório. Aquela seria a última refeição deles na dimensão Ômega.
- Estamos todos combinados, então, certo? - murmurou Kilyan aos colegas. - Aarun fará os explosivos, enquanto os outros procurarão recursos de sobrevivência e tentarão descobrir a localização do Troféu. Pandora e Magnelia, vocês ficam com a parte dos recursos, já que Pandora sabe o que é venenoso e o que não é, e eu e Ariela procuraremos o Troféu. Lembrem-se: devemos imediatamente nos encontrar com Pandora ao chegarmos lá, seguindo seu assovio.
- Estamos prontos, Kilyan - disse Ariela, destemida. - Já está na hora de encontrarmos a Comandante na sala de provas para sermos teleportados. Vamos.
Os competidores se levantaram e seguiram, temerosos, até a sala de provas. A sala estava iluminada, e havia cinco demarcações circulares no chão: uma para cada competidor. A Comandante e seus agentes posicionaram os jovens, preparados para abrir as janelas dimensionais. Os braceletes foram presos nos braços de cada um.
- Enfim - disse a Comandante. - Já sabem o que devem fazer. Que vença a melhor dimensão!
As janelas se abriram e de repente Ariela sentiu todo o desconforto de uma viagem Interdimensional novamente, uma dor excruciante, porém menos pior do que a da primeira vez.
Quando Ariela abriu os olhos, estava caída no meio de árvores altas e mortas, a grama acinzentada arranhava suas costas. Olhou ao redor e percebeu que provavelmente estava em uma floresta, pois não conseguia ver ninguém por perto. Deu impulso pra se levantar, porém de forma cautelosa. Não era inteligente chamar muita atenção, nunca se sabe o que se esconde em florestas. Olhou para o céu, porém não conseguiu ver nenhum resquício do Sol. "Melhor já começar a avaliar o território até ouvir o assovio de Pandora. Talvez ela ainda não tenha acordado", pensou a garota. Pegou um galho quebrado de uma árvore para usar como arma caso precisasse e decidiu caminhar rumo ao norte. Porém, primeiramente, não se esqueceu de arrancar o bracelete de seu braço e jogá-lo para longe.
Kilyan estava caído ao lado de um poço de pedras quebradas, cuja água era escura e esverdeada, suja. Olhou para o lado e viu alguns casebres destruídos, com pessoas desnutridas e com uma expressão que as faziam parecer zumbis. Viu um homem de cara emburrada chicotear três crianças pequenas, que choravam descontroladamente. "Que inferno é esse?", assustou-se o garoto, "Espero que Pandora nos chame logo, preciso fugir desse lugar antes que algum brutamontes me extermine". Assim como Ariela, arrancou rapidamente seu bracelete e fugiu para longe do vilarejo.
Quando Aarun acordou, se viu deitado em uma rede de tecido rasgada, num quarto cheio de ratos e cujas paredes estavam repletas de infiltrações e teias. "Onde raios eu estou?!", pensou ele. Quando se levantou, uma idosa banguela, de vestido surrado e fiapos de cabelo espetados em sua cabeça entrou no "quarto".
- Oh, meu querido acordou! Venha, Ehlio, venha com a mamãe!
- Quem é você?! - Aarun se levantou da rede em um salto.
- Senti tanto a sua falta, meu bebê!
Ela agarrou-o e o jogou de volta na rede.
- Eu não sou quem a senhora está pensando! Me solte!
- A mamãe sentiu tanto a sua falta, gorduchinho! Você nunca mais sairá desse quarto, vou te proteger, viu?
A velha começou a agarrar os braços e pernas de Aarun, imobilizando-o. Instintivamente, ele saltou, se desvencilhando dos braços da mulher, e correu para fora do quarto o mais rápido que conseguia. Jogou seu bracelete na porta do casebre, quebrando.
- Não demore, querido Ehlio! - ele ouviu a velha gritar. - A mamãe estará te esperando, para sempre!
Pandora acordou às beiras de um riozinho lamacento e esverdeado. Olhou ao redor e percebeu que estava ao lado do Córrego dos Desfechos, cujo curso colidia com o tão famoso rio Schlange a algumas dezenas de metros à frente. "Então nos mandaram mesmo para o Vale das Sombras", pensou ela, sentindo um calafrio percorrer seu corpo. "Melhor eu chamar logo os outros competidores, antes que algo aconteça com eles". Arrancou seu bracelete e assoviou em alto tom, de modo que o barulho repercutiu em todo o Vale.
Magnelia ouviu o som do assovio quando acordou. Mesmo sem saber, estava na mesma floresta que Ariela, a apenas alguns metros de distância. A garota encarou seu bracelete. A verdade é que se sentia péssima por ter que tirá-lo e participar dessa bobeira toda, mas que outra opção ela teria? Foi então que ela sentiu seu bracelete vibrar. "O que é isso?", pensou ela em choque, quando viu que era uma ligação da dimensão Ômega.
- Magnelia, Alpha - disse a Comandante através do bracelete. - Sabemos o que seus adversários fizeram. Temos uma proposta para você.
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Cinco Dimensões
FantasyO universo está dividido entre cinco dimensões habitadas. A cada certo período de tempo, ocorre uma grande Disputa entre jovens para definir qual a melhor e a pior dimensão, afim de tornar a vencedora prestigiada. Ariela era uma garota amargurada, c...