Ela se remexeu no sofá, tinha que tirar aquele vestido, nem sabia porque usava ele. Ela podia ter ficado mais velha, mas continuava praticamente igual a quando era adolescente, seu corpo permaneceu no mesmo formato, não ousou fazer um corte de cabelo diferente, continuava igual. A única diferença é que não usava vestidos mais, ela os odiava. Quando adolescente só vestia vestidos e saias, tentando mostrar para Eduardo que tinha classe, mas depois da frustação ela resolveu andar confortavelmente. Seu “uniforme” diário consistia em calça jeans e alguma camiseta, e costumava calçar tênis, era prático e confortável.Aquele vestido tinha um corpete que se ajustava ao seu busto com um zíper atrás, foi um sacrifício vestir ele sozinha, depois a saia caía aberta e esvoaçante ao redor das suas pernas, o formato coração do decote tomara que caia dava um charme ao seu colo, e a cor creme a fazia parecer uma noiva. Tinha que admitir que era bonito, mas não se parecia com ela, afinal Maria que o tinha escolhido. Os saltos eram sapatos delicados na mesma cor, mas naquele momento estavam jogados no canto.
Ela tentou puxar o zíper, porém não o alcançava. Ela pensou em pegar uma tesoura depois de várias tentativas frustradas, suspirou cansada, teria que pedir ajuda a alguma vizinha. Ela estava quase tomando coragem para ligar para uma de suas vizinhas quando a campainha começou a tocar. Pelo olho mágico viu que era um homem de terno, mas não conseguia ver o rosto.
Eduardo estava indo embora quando Cuzco pediu que ele fosse ao apartamento de Tessa lhe entregar a bolsa que ela tinha esquecido, ele podia ter negado, mas já que eram noivos, deviam tentar ser amigos, no mínimo. Ele apertou a campainha de novo. Ela ainda usava o vestido de festa mas estava descalça, tinha esquecido que ela era pequena, Carina era alta. Ela o encarou.
— Você esqueceu isto — Ele mostrou a carteira feminina. Ela ficou chocada, por isso odiava vestidos, não tinha lugar para guardar o celular, e fazia necessário o uso de bolsas, algo que ela sempre esquecia por falta de costume com elas.
— Obrigada — disse pegando a carteira das mãos dele. Eduardo permaneceu lá parado. Que droga de clima estranho! — Quer entrar? — Ela abriu mais a porta deixando um espaço para ele passar.
Eduardo pensou em negar, mas acabou aceitando. Uma variação de cores o recebeu, o apartamento era colorido. Tudo perfeitamente no lugar, tirando os sapatos que provavelmente ela tinha acabado de tirar. Ele se sentou no sofá, abrindo alguns botões do paletó.
— Aceita água? Café? — Ela não recebia muitas visitas.— Você mora sozinha? — Ele perguntou. Não havia fotos de família na sala, o que o fez lembrar que ela muito provavelmente iria querer que ele retirasse a foto de Carina da sala da casa.
— Desde que fui embora de Michigan — Ela respondeu se sentando no sofá.
— Ah, claro; quando sua mãe faleceu — Sua voz ganhou um tom compreensivo. Ela afirmou.
Sem saber o que conversar com ele, Tessa achou que seria melhor serem diretos. Ela não tinha assunto para uma conversa longa, eles não eram amigos, nem sequer tinham alguma ligação.
— Você quer conversar sobre algo específico? — sondou.
— Não conversamos a mais de uma década, nem nos vimos nesse meio tempo — Ele encarou ela. — Você apenas aceitou o acordo que seu pai me ofereceu. Por quê? O que espera desse casamento? — Ele estava curioso sobre os motivos dela.
Nem a própria Tessa sabia o que esperava.
— Não espero nada — Ela murmurou. — É apenas um papel, um contrato.
Será que ela devia dizer à ele que já não acreditava mais em contos de fadas e amor romântico? Pensou.
— Você sabe porque aceitei, certo? — Ele queria saber se ela tinha noção que ele ainda amava Carina.
— Sim, eu sei — ela relaxou no sofá. — Não me importo, não é como se eu te amasse ainda. Pode ficar tranquilo. Nem sei porque aceitei, acho que foi porque papai estava ficando triste e preocupado por eu ainda ser solteira, e a oportunidade surgiu. Eu não te amo mais Eduardo, então não precisa ficar preocupada com futuras cobranças, elas não vão acontecer — Ela garantiu sem desviar os olhos dele. — Sei que ama Carina, e por mim pode continuar a amá-la.
— Então podia ser qualquer um? — Ele buscava sua confirmação completa.
— Talvez, mas pelo menos você é conhecido — Deu de ombros.
— Ótimo — Ele se pôs de pé. — Não poderei te encontrar antes do casamento, tenho uma viagem de negócios e depois buscarei Melina na casa dos avós maternos dela.
Tessa aceitou.— Então, até o casamento Tessa — Ele a cumprimentou com a cabeça e começou a sair.
— Espera! — Ela não sabia porque disse aquilo. Mas queria muito tomar um banho, e não conseguia descer o zíper sozinha, ele já estava ali mesmo, era o destino! — Pode me ajudar? — Eduardo encarou ela de forma interrogativa. Tessa virou as costas e indicou o zíper. — Não consigo abrir. — Se preparou para ouvir uma resposta fria, mas se assustou ao ver que ele apenas caminhou até ela e desceu o zíper, se não tivesse segurado a frente do vestido, ele teria caído no chão. — Obrigada — murmurou envergonhada daquela situação.
— Você o vestiu sozinha antes?
— É mais fácil vestir do que tirar — Ela respondeu se virando. Ele apenas concordou e saiu sem dizer nada.
Não era como se tivesse tentando seduzir ele como antigamente. Ela se julgava incapaz de tentar qualquer coisa que fez no passado, agora. Sentia vergonha só de lembrar. Alguém devia ter tentado impedi-la de passar tanto vexame. Tessa sacudiu a cabeça tentando apagar as lembranças. Segurou o vestido com força ao redor do corpo e caminhou até o quarto, deixou o vestido cair no chão assim que atravessou a porta, em casa ela adorava andar com pouca roupa, teria que perder esse costume. Ela correu para o banheiro e dentrou o box ansiosa por uma ducha, começou a relaxar ao receber os jatos de água.
Mais tarde, vestida de seu usual pijama ela aproveitou os últimos minutos de paz que teria. Por mais que tivesse alunos jovens na aula de arco e flecha, ela sabia que Melina talvez não gostasse de ter uma madrasta, ainda mais uma que perseguiu seu pai quando ele era noivo da mãe dela. Ela pensou na sua classe avançada de tiro, o clube com certeza a presentearia com uma licença para sua “lua de mel”, que infelizmente será um tempo desnecessário.
Ela teria que arranjar alguma coisa para passar o tempo.
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Eu NÃO Te Amo
RomanceTessa Ridley se apaixonou por Eduardo Sorelli treze anos atrás, mas não foi correspondida. Viu seu primeiro amor amar, casar e ser feliz com outra mulher, destruindo totalmente suas esperanças de um dia ser amada por ele. Agora o homem que ela amou...