Capítulo 16

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Momentos antes...

— Tessa está bem? — Victor perguntou.

— Sim, eu ainda não a vi, mas o médico disse que ela só está com o corpo dolorido pelo impacto. — Eduardo sentou ao lado do irmão. — Você sofreu a maior parte do impacto. — naquela simples frase, estava explícito que Eduardo sabia que seu irmão escolheu se machucar para proteger Tessa. — Por quê? Vocês nem sequer são amigos.

— Eu a admiro. Ela é corajosa e destemida. — Victor sorriu se lembrando de tudo que já viu ela fazer por amor. — Ela também já se machucou demais.

— Você podia ter morrido. — Eduardo murmurou ainda preocupado. — Eu não acreditei quando vi o carro, não quero nem imaginar ... — deixou a frase incompleta.

— Tessa está bem? Ela deve ter ficado preocupada quando desmaiei.

— Cuzco está com ela.

Um silêncio cheio de coisas não ditas ficou entre eles. Antes de tudo, eram irmãos, amigos.

— Paola e mamãe já se preocuparam o bastante. Não preciso que você se culpe. — Victor encarou o irmão.

— Eu não disse nada.

— Eu conheço você. Consigo até ler seus pensamentos. — Victor sorriu e depois fez careta pela dor. — Enquanto todos surtavam e choravam aliviados, você ficou lá fora, não adianta desmentir, Paola me disse. — interrompeu-o quando tentava protestar. — Sei que acha que foi sua culpa. Mas na verdade, a culpa é minha por escolher dirigir com um temporal chegando, imaginei que não aconteceria nada.

Eduardo encarou o irmão despreocupado, Victor sempre fora assim, o tipo de cara que preferia não se preocupar com nada.

— Eu que devia ter ido buscar Tessa, acho que fui covarde. — riu junto com o irmão. — Se ela não quisesse vir comigo, não conseguiria encarar vocês. Que ridículo! Me sinto velho demais para correr atrás do perdão de uma garota.

— Pensou que não precisaria mais utilizar a arte da conquista?! — Se arrependeu assim que terminou a frase, uma sombra passou pelo rosto de Eduardo, a lembrança de Carina. — Me desculpe.

— Que irônico, quase perdi minha segunda esposa em um acidente de carro. — tentou fazer piada, mas ficou triste.

— Como você faria se perdesse ela sem pedir desculpas? — Victor se compareceu do irmão. — Carina conhecia seu amor, e te perdoava sempre por isso. Mas Tessa, ela só recebeu cortesia de você. É uma droga amar alguém que não pode te amar de volta.

Victor tinha razão, se Tessa ficasse gravemente ferida ou morresse, ele não conseguiria se perdoar; conseguiu quebrar todas as promessas que fez à ela e a Cuzco.

— Obrigado. — murmurou.

— Eu não fiz nada demais, somos irmãos, é meu dever te ajudar. Principalmente, ajudá-lo a não ser um idiota e deixar uma garota tão incrível ir embora.

— Seria tão fácil se eu pudesse apenas amá-la. — Suspirou.

— Talvez se você deixar ela entrar — Victor tocou o próprio peito. — Talvez você a ame. Alguém me disse que amor é todo dia.

Carina disse isso, quando ele perguntou por que ela amava Eduardo, ela disse que amor era todo dia. Ele não tinha entendido o que ela quis dizer na época, mas depois entendeu. Todos os dias Eduardo conquistava ela de novo com ações e palavras, todos os dias seu irmão reacendia o sentimento entre eles, foi nisso que ele errou, guardou para si seus sentimentos, até que Eduardo tomou a decisão de conquistá-la, e o fez; e ele, covarde, ficou em silêncio.

— Até que você é um bom conselheiro amoroso. Quanto custa uma seção? Acho que vou precisar de várias.

— Só me perdoe.

Eduardo franziu o cenho.

— Perdoar? Pelo quê?

— Um dia. — Victor garantiu. — Um dia você vai saber.

— Não importa o que seja, eu te perdoo.

O peso dentro do coração de Victor pareceu se dissipar. Mesmo seu irmão não sabendo de seus sentimentos por Carina, ele disse que o perdoaria por qualquer coisa.

— Você nem sabe o que é, como pode me perdoar?

— Eu também te conheço Victor, por isso afirmo, não importa o que você tenha feito, eu estarei ao seu lado, e te perdoarei.

Todos pensavam que Victor era o típico encrenqueiro, o irônico, o divertido, mas tudo aquilo não passava de uma máscara, para esconder seus sentimentos, ele não queria que soubessem que ele era sentimental, não queria que soubessem que amou Carina mais que a si mesmo. Carregou a culpa por amá-la por anos, e ainda não conseguiu se livrar dos sentimentos, na verdade se sentia um hipócrita, por incentivar Eduardo e Tessa, mas ele mesmo permanecia paralisado naquele sentimento.

Deu um sorriso torto para o irmão, e tentou disfarçar novamente seus sentimentos.

— Estou cansado. — murmurou.

Eduardo compreendeu o irmão, e se levantou. Como despedida apenas tocou o ombro de Victor e se retirou do quarto.

Victor encarou o teto do quarto de hospital, perfeitamente branco. Ele se lembrava do primeiro dia que viu Carina, ela estava com amigas em um restaurante, ainda tinha aquele ar de menina travessa, ele não se apaixonou por ela de imediato. Com o tempo eles sempre se encontravam coincidentemente em vários lugares, mas ele nunca se aproximava. Então, um dia, ela foi apresentada à ele, por amigos em comum, ela havia acabado de fazer dezessete, semanas antes de conhecer Eduardo e se apaixonarem. Ela irradiava beleza e carisma. Tinha classe e bom gosto. Mas foi quando ela soltou um palavrão quando escorregou e Victor a segurou que ele se apaixonou. Estava cansado das meninas perfeitas que o rodeavam.

Mas Carina, ela era autêntica. Assim que percebeu que tinha sido indiscreta, ela gargalhou, sua risada era rica e contagiante, e Victor se viu rindo junto com ela. Carina nunca pediu desculpa, ou inventou algo para sua indiscrição, apenas deixou passar.

Ela estava em uma festa, rodeada por mulheres lindas e mais velhas, mas não se desmerecia, era como se soubesse que brilhava mais que qualquer outra. Ela e Victor conversaram o resto da noite, e ele percebeu que aquela jovem garota tinha opiniões fortes, era decidida. Quanto mais tempo passava conversando com ela, mais a admirava, mais se apaixonava. Ela opinava sobre tudo. E não importava o assunto, conversava bem.

Mas Victor foi o único que se apaixonou, Carina apenas gostou da companhia dele, como um amigo.

Com Eduardo foi diferente, no primeiro instante, ela se apaixonou, e ele também; mas ela ainda era jovem, o que não impediu os pais dela de aceitarem ele como futuro genro. E em poço tempo o noivado foi firmado entre famílias. Mas Eduardo esperou por ela, eles não tiveram nenhum contato físico até ela completar dezoito anos, para ele era muito importante manter a integridade dela, entretanto todos sabiam de seu compromisso, e aguardavam o casamento.

Carina havia sido criada para ser uma mulher inteligente e uma ótima anfitriã, a família dela investiu muito em seus estudos e modos. Então, mesmo sendo uma garota jovem, não perdia em nada para moças mais velhas, e ainda contava com uma beleza exuberante. Ela foi a mulher mais elogiada que já conheceu.

Eu NÃO Te AmoOnde histórias criam vida. Descubra agora