Capítulo V

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Querida Alex,

Lembra-se da vez em que me perguntou o momento exato em que eu havia me apaixonado por você? Eu disse-lhe que não tinha uma resposta, essa foi uma das poucas vezes que não disse a verdade para você. Eu poderia ter dito que foi no nosso primeiro beijo, quando estávamos vendo o sol poente incendiando as nuvens no horizonte em tons de laranja e vermelho, iluminando seu cabelo trançado que caía pelas costas de seu vestido branco, de uma forma tão maravilhosa que chegava a ofuscar minha visão. Quando nos amamos pela primeira vez e senti nossos corpos e almas se mesclarem em uma dança tão divina que parecia ser composta pelos anjos mais artísticos do paraíso. Ou até mesmo quando fizemos nossa primeira troca de olhares naquele restaurante à beira mar, as ondas azuis quebravam linda e incrivelmente brilhantes na costa, eram grandiosas e arrebatoradoras, como o olhar que você me deu, que inundou meu coração no mesmo segundo. E, por mais que esses momentos tenham sido incríveis, não foi em nenhum deles que me apaixonei por você. Não. Me apaixonei por você em meus sonhos.
Você, Alex, minha querida e doce Alex, foi absolutamente tudo o que eu sempre sonhei em um verdadeiro amor. Eu sonhava com alguém que iluminasse meu coração com um olhar. Que iluminasse minhas noites de pesar. Que me levasse até as estrelas e até mesmo fazer jurias de amor sob o luar. Foi você, apenas você, que me transformou neste poeta apaixonado que hoje sou. Você, apenas você, faz com que eu derrame essas palavras de amor para minha eterna paixão, mesmo sabendo que este pedaço de papel nunca será o suficiente para levar à você todas as palavras cravadas em meu coração. Não posso descrever o que sinto por você, Alex; isto é impossível. Mas posso ao menos acalmar minha alma ao desabafar alguns de meus pensamentos para você.
Eu a amo. Desde os meus sonhos, até nosso encontro, e despedida. E te amarei até que minhas palavras sejam levadas para um mar de esquecimentos e nossos corações parem de bater.

Com Amor, infinitamente Seu.

Pisquei uma, duas, três vezes e fiquei encarando a carta como se fosse o único foco em uma sala escura. Li mais uma vez, depois outra, e só mais uma para ter certeza de que li cada palavra naquele papel. Pousei a carta na cama e só agora percebi como meus batimentos cardíacos estavam loucos. Eu duvidava, seriamente, de que alguma vez em toda a minha vida, havia lido algo tão bonito como aquela carta impressa.
Eu estava lívida diante de tantos sentimentos expressos por palavras tão bonitas e tocantes. Senti meu coração pesar com a intensidade que captei em cada frase daquele escritor. Mordi o meu lábio inferior com força e levantei da cama, olhando para a carta como se ela fosse um enigma. Andei ao redor da cama sem nunca desviar o olhar do meu novo mistério.
Era um engano, isso já estava óbvio para mim. Seja quem for o sujeito perdidamente apaixonado que as escreve, é para Alex. Passei o nome diversas vezes em minha mente. Nunca conheci nenhuma Alex. Não que eu me lembrasse, pelo menos. E como, diabos, a correspondência dessa Alex chegou até mim? Minha mente viajou pelas possibilidades, nenhuma parecendo muito coerente para mim. A única explicação aceitável, era que a carta era para a última moradora do meu apartamento. Talvez ela tivesse se mudado e não atualizado seu amado de sua nova moradia. Eu me perguntava como isso poderia ter acontecido.
Meus pensamentos pularam para a assinatura da carta. Sem um nome. A pessoa que me enviou a carta, decidiu, sabiamente, usar as palavras infinitamente seu, o que era imensamente romântico, mas não me ajudaria em nada no quesito achar o dono dessa carta e dizer que havia ocorrido um engano, que sua amada Alex não morava mais no endereço que ele achava que correspondia a ela.
Quase senti culpa por ler algo tão pessoal, mas está além de meu domínio. Qualquer pessoa em sua sã e curiosa existência teria lido. Isso é óbvio para mim. Eis o que eu sabia: era uma carta impressa de amor anônima, destinada a uma pessoa que eu nunca vi em minha vida, e que aparentemente mudou de endereço. O que eu faria quanto àquilo? Apenas ignorar? O que mais eu poderia fazer além disso? Eu não tinha resposta para nenhuma dessas perguntas.
Encarei a segunda carta, e, quando vi, minhas mãos já estavam nela, prontas para rasgar o segundo envelope. Mas me deti a tempo. Eu não sabia sobre a primeira carta, coisa que fazia o fato de eu tê-la aberto não ser tão imperdoável e terrível. Mas se eu abrisse a segunda carta, que obviamente é do mesmo remetente, visto que os lacres eram os mesmos exceto pela cor, não iria me perdoar, pois está na cara que não é certo ler as correspondências alheias, seja que elas tenham vindo até mim por engano, ou não.
Suspiro pesadamente e tomo uma decisão. Não posso fazer nada quanto à correspondência estar errada, mas posso tomar a decisão certa de não ler a carta. Esse novo pensamento fez com que, minutos depois, eu estivesse em pé, na frente da cama, encarando esta e além dela, onde eu havia colocado as duas cartas sob o colchão.
"Escolha certa, escolha certa, escolha..." Fiquei murmurando para mim mesma como um mantra de salvação enquanto vestia minhas roupas, por fim. Me peguei encarando meus olhos atentamente enquanto penteava meu cabelo. O que a carta dizia...? '...como o olhar que você me deu, que inundou meu coração no mesmo segundo...', os olhos dessa Alex deviam ser os mais bonitos e impressionantes para tanto sentimento assim, diferentes de meus olhos amendoados que não se decidiam se queriam ser verdes além das bordas da pupila ou castanhos no resto da íris, se mesclando como se quisessem disputar o maior lugar.
"O que você está fazendo...?" Sussurro para mim mesma, exasperada, quando percebo que meus dedos nervosos estavam fazendo uma trança em meu cabelo. '...iluminando seu cabeço trançado...', desfiz a trança rapidamente, me peguntando se o cabelo de Alex era dourado brilhante como o sol, ou castanho claro sem graça, como o meu. Meneei a cabeça, pensando em, por quê, diabos, eu estava divagando sobre naquilo.
Encarei meu reflexo de jeans e camiseta. Sem querer, meus olhos deslizaram para a cama pelo espelho. Essa Alex era bastante sortuda; nunca, entre os meus três relacionamentos sérios, eu havia recebido uma carta de amor com palavras tão intensas, e me perguntei se um dia receberia. Só agora pude perceber que meu relacionamento com Josh nunca chegou a esse nível de romance. O máximo que havíamos feito foi ir ver um filme - de terror - no cinema, nem ficamos de mãos dadas ou nos beijamos como aqueles casais adolescentes com os hormônios a flor da pele. Não. A verdade é que eu sempre aleguei nunca gostar de romance, mas será que eu falava isso por nunca o ter experimentado?
"Para desistir de uma coisa, primeiramente ela teria de existir." Minhas palavras retumbaram em minha mente, como se zombassem de mim, pisquei. E se, eu nunca tivesse amado o Josh, afinal? E se, o sentimento que senti quando o vi beijando Clarissa era nada mais, nada menos do que raiva por ser traída? E se, nenhum sentimento real já existiu entre nós?
"Você pode estar apaixonada por ele, mas não ama ele." Ouvi a voz de Matt em minha cabeça e nunca a compreendi tanto. Fiz o que eu sabia que não deveria fazer; comparei meu relacionamento e meus sentimentos e emoções com os da pessoa que escrevera a carta. Quando eu tinha pensando em palavras tão bonitas assim? Quando eu me senti nas nuvens apenas por uma troca de olhares? Quando eu senti que poderia me desfazer em pedaços se não tivesse outro alguém ao meu lado? A resposta era curta e clara: nunca.
E só agora percebi, que eu não estava com medo de desabar de dor ao pensar em Josh. Não, eu estava com medo de não sentir nada além de ressentimento por ele ter me traído; pois, acima de tudo, eu queria sentir aquela dor, eu queria sofrer porque eu o amava intensamente e não poderia viver sem ele... Mas, agora, analisando meu coração, eu vi que não havia nada. Josh não era nada, a não ser o cara que me traiu e que eu não sinto absolutamente nada.
Nem percebi que eu havia sentando na cama até apertar os lençóis nas minhas mãos. Eu deveria estar me sentindo bem por não o amar como achei que amava, por não estar sofrendo. Mas tudo o que eu senti foi um... vazio. Nós estávamos juntos a mais de um ano, um ano que não teve nenhum sentimento real. E se Josh não tivesse feito o que fez, eu ainda acharia que o amava. Então eu, basicamente, dediquei um ano da minha vida a uma pessoa que não valia a pena. Olhei para o colchão e me perguntei se aquelas palavras na carta eram a definição mais próxima de amor. Senti um aperto no peito ao perceber que o que Mathew tinha dito, sutilmente, era verdade. Eu não sei o que é amor.
"Você está chapada?" Jacob me pergunta, docilmente, meia hora depois, na recepção. Barry estava fora de vista, e não me importei em fazer a pergunta que martelava em minha cabeça para Jacob, que agora me encarava de olhos arregalados, como se eu tivesse dito que iria correr nua pela rua. Coloquei meu queixo nas duas mãos, com os cotovelos apoiados no balcão e disse para ele:
"Não é uma pergunta difícil, Jack. Pelo amor de Deus, parece até que eu pedi que você fizesse contas avançadas de Química!"
"Para a sua informação, eu sou ótimo em Química." Reviro os olhos e ele cruza os braços. "Afinal, que droga de pergunta foi essa?"
"Uma pergunta que você aparentemente não sabe a resposta, ou não estaria sendo tão evasivo."
"Não estou sendo evasivo."
"Cala a boca e me responde!"
"Como vou te responder se estarei de boca calada?" Ele pergunta com um sorriso astuto que me faz querer estapea-lo. Engulo minha raiva e dou o meu sorriso mais perigoso e digo na minha voz mais suave:
"Jacob, se você não me der uma resposta agora mesmo, eu vou enfiar minha mão na sua garganta e puxar seu intestino delgado à força." Ele, pelo menos, tem o bom senso de engolir em seco. "Imagino que você se lembre da primeira vez em em que nos conhecemos." O olhar de Jacob viaja assim como o meu, sorrio com a visão de um machado, Jack faz uma careta.
"Você quase me matou." Ele fala melancólico sem olhar para mim. Inclino minha cabeça para o lado.
"Foi um acidente." Digo e é a mais pura verdade.
"Se aquilo foi um acidente eu nem quero saber a maldição que você faria se quisesse machucar alguém para valer." Sorrio para ele de novo.
"Isso mesmo Jack. Você não quer descobrir." A fim de amenizar o clima, completo mais suavemente: "Acredita que já faz um ano?" Ele sorri para mim dessa vez.
"Um ano de amizade e uma quase morte." Fala e sorrio.
"Comigo é dois anos e duas quase mortes." Barry fala saindo a pequenos passos da salinha deles atrás do balcão. "Eu achava que nada mais iria me abalar depois dos setenta, até que essa garota demônio desastrada apareceu." Aponta para mim e faço uma careta.
"Aquilo também foi um acidente, Barry."
"A pistola, ou a escada?"
"Ambos!" Jacob olha para ele.
"Qual foi o pior, vô, a escada ou a pistola?" Ele pergunta e Barry pensa um pouco.
"Os dois foram terríveis. Mais ainda tenho tremeliques pelo som da pistola."
"Será que podemos focar na minha pergunta?" Os dois me encaram e Barry abre um sorriso quase sem dentes, o fuzilo com o olhar; Barry só mostra os dentes - ou a falta deles - quando mencionamos o acidente da escala. É a alfinetada preferida dele.
"Qual a sua pergunta, garota do desastre?" Ele perguntou e fechei os olhos.
"Achei que tínhamos combinado esquecer desse nome."
"Assim como combinamos que você não iria tentar matar meu neto também?" Ele retruca e troco um olhar com Jacob. O miserável está sorrindo. Reprimo uma careta e decido deixar de lado aquela conversa e digo:
"Eu queria saber o que é amor." Olho para o rosto inexpressivo de Barry, ele se aproxima de mim e achei que me contaria o segredo da fecilidade quando disse:
"Você caiu da escada e bateu a cabeça, minha querida?" Ele pergunta e dou um suspiro dramático, ao mesmo tempo que ouvimos as portas do elevador se abrirem.
"Eu ouvi direito? Olyn, você caiu da escada de novo?" Matt se aproxima de nós e me analisa. "Pelo menos não está sangrando dessa vez."
"Acha que ele não estaria desmaiado no chão ao menor sinal de sangue?" Barry brincou apontando para um Jacob com um sorrisinho nos lábios. "Sentem-se, minhas crianças, irei contar uma história para vocês." Barry disse com um ar de historiador e me animei. Jacob havia trazido três bancos altos para nós, sentei entre Matt e Jacob e esperei Barry sentar na nossa frente do outro lado do balcão no maior dos bancos.
"Amor..." Barry começa e vejo como seu rosto parece brilhar à simples menção da palavra. Seus olhos cinzas se tornaram ternos e vi como se pudesse lê-los, o momento exato em que ele deslocou a alma para uma outra época, outra lugar, a muito tempo atrás, bem longe de nós. "O amor é uma das coisas mais inesperadas da vida. As pessoas cometem o erro de procurar o príncipe ou princesa de contos de fadas em cada esquina. Acham que o amor vai bater em suas portas a qualquer segundo, e aguardam quase que eternamente. Mas mal sabem eles, que amor muitas vezes chega devagar, ou pelas costas, ou no exato momento em que ninguém mais esperava. Não importa qual seja a idade, ele sempre dá um jeito de chegar de surpresa. Foi assim comigo, e com minha querida Aubrey." Como se possível, seus olhos brilharam ainda mais com o nome de sua amada. Vi as mãos de Jacob se fecharem, era a avó dele.
"Nos conhecemos nas férias de verão. Eu tinha ido acampar com meus amigos em uma casa que ficava na beira de um lago no meio da floresta. Todos éramos solteiros e convidamos várias meninas para irem conosco naquele verão. O único dos meus amigos que tinha uma namorada era o Tom, ele estava perdidamente apaixonado por ela, até a levou para a casa com todos nós! Eu via o jeito que eles se encaravam, aquilo era amor verdadeiro. Tínhamos apenas dezoito anos e eu nunca havia visto algo tão sincero em minha vida jovem. Mas eu também percebi como eles mantinham os corações vulneráveis, eu não queria isso para mim. Era jovem e tolo, não queria nada além de festas e garotas. Foi quando a vi pela primeira vez. Ela era a melhor amiga da namorada de Tom. Por um momento achei que era apenas desejo, Aubrey era lindíssima. Mas eu percebi, que depois de olhar para ela e para seus olhos, aqueles olhos incríveis e brilhantes, todas as garotas da casa perderam seu brilho para mim. Eu não me imaginava com mais ninguém, e também sequer queria me imaginar com outra pessoa que não fosse ela. Como o bom adolescente tapado que eu era, me confortei dizendo a mim mesmo que era apenas uma aventura de verão, e com o tempo ela iria perder a graça para mim."
"Ainda lembro de como nos encaramos ao mesmo tempo. Me senti nas nuvens com aquele olhar que ela me dirigiu. Ela sentiu algo por mim, eu havia sentido nos meus ossos. Naquela noite, combinamos de nos encontrar e fizemos algo que eu não vou dizer porque vocês provavelmente já entenderam, caso contrário não estariam com essas caras pálidas. Eu ainda continuava mentindo para mim, dizendo que era só desejo e eu iria me cansar logo, logo. Mas continuamos nos encontrando, e algo foi crescendo no meu peito aos poucos, como se um monstro dentro de mim estivesse sendo alimentado com cada troca de olhares, cada toque, cada palavra que trocávamos em segredo. Até que eu não pude mais ignorar esse monstro. Eu sabia que estava perdidamente apaixonado, não apenas pelas nossas noites de amor... Matt, se você vai vomitar, se afaste de meu balcão. Mas também pelas nossas conversas, eu conheci o seu verdadeiro eu, conheci minha Aubrey por dentro e por fora, e fiquei imensamente encantado por ambos."
"Mas Aubrey era quase como eu, ela tinha medo de se entregar muito a uma coisa que poderia ser apena um simples amor de verão, foi nesse momento que dediquei, todos os dias, a conquistá-la e mostrar a ela que eu não a queria por um mero verão. Que a queria para a vida toda. Foi nesse verão que nos conhecemos, nos apaixonamos... e nos casamos. Não façam essas caras horrorizadas, pode ter sido prematuro mas foi mágico. De cem casamentos prematuros desse jeito, apenas dez dão realmente certo, e eu fui abençoado por Deus ao fazer parte desses dez por cento. Percebemos que o casamento sequer importava para nós dois, só queríamos ficar juntos. Até que a morte os separe." Barry olhou para as mãos enrugadas e só agora percebi que ele acariciava com o polegar um anel dourado, enquanto a outra mão brincava com uma pulseira em seu pulso direito.
"Nós não tínhamos dinheiro para alianças, minha avó, que ficou maravilhada com nosso romance, deu as alianças dela e de meu avô. E a bisa avó de Aubrey, deu a ela as duas pulseiras que ela dividia com seu amado. Então ficamos ligamos pelas pulseiras e pelos anéis." Ele abriu um leve sorriso sem desviar o olhar das jóias. "Aubrey estava louca para ter filhos, aos vinte anos, tivemos o tio de Jacob, e aos vinte e cinco tivemos seu pai, Jacob. Dois lindos meninos, Aubrey sempre os amou imensamente, mesmo eu sabendo em meu interior que ela desejava com todo o seu coração uma menina. Foi quando tentamos outra vez, pelo o que parecia, dessa vez iria ser uma menina, até que o dia do parto chegou."
"Eu não sei o que aconteceu... talves Aubrey tivesse com a saúde frágil, ou fraca demais... eu não sei... Mas eu me vi em um impasse. Ela me implorou, ela suplicou que eu escolhesse a nossa filha à vida dela. Ela chorou como nunca e disse que nunca iria me perdoar se eu a escolhesse. Mas eu não podia, não podia fazer isso, eu era tão egoísta. Escolhi Aubrey, e quando ela acordou, sentindo o vazio dentro dela, ela soube. Vi o exato momento em que a luz escapou de seus olhos, o a primeira vez que vi um lampejo de ódio dirigido... dirigido à mim. Eu não a culpava, eu me odiava também, mas não conseguia me arrepender de minha escolha. Eu não podia, simplesmente não podia perdê-la."
"Um ano se passou. Um ano sem trocarmos uma palavra sequer, um ano que eu queria ter dado a minha, e não a vida de nossa filha por Aubrey. Eu queria estar morto, mas eu tinha... nós tínhamos de aguentar pelos nossos filhos. Aubrey pediu divórcio, e eu não neguei. Meus filhos foram passar o verão com ela, eu não tinha nada para fazer, então por quê não tocar na ferida até fazê-la sangrar? Fui para a casa de lago e quase desabei quando vi meus filhos rindo com suas namoradas e se divertindo. Entrei na casa, Aubrey estava sentanda no mesmo banco em que a vi pela primeira vez. Ela me olhou e eu não pude me mecher, foi como se tivéssemos voltado para outra vida, uma outra época. E ela fez o que fez na primeira vez que nos encaramos, e realmente... foi como se fosse a primeira vez. Ela sorriu." Ele limpou as lágrimas com um pequeno lenço antes de continuar:
"Vimos nossos filhos se casarem e terem nossos netos. Aubrey ficou radiante quando sua irmã nasceu Jacob, e logo em seguida você. Me atrevo a dizer que Aubrey viveu lindamente. Sempre iluminando nossos dias pelo simples fato de existir." Barry deu uma risada sem humor. "O destino pode ser cruel as vezes. Conheci Aubrey em um lindo dia de sol, Deus colocou ela em um dia brilhante e maravilhoso... e a tirou com uma tempestade terrível." A essa altura eu já sentia Matt e Jacob sacudindo o corpo ao meu lado em soluços, não tirei os olhos das lágrimas que brilhavam nas bochechas de Barry.
"Então essa é minha resposta para sua pergunta, garota desastre. Amor é reconhecer. Amor é escolher. Amor é perdoar. É se apaixonar pela pessoa um pouco mais todos os dias. É saber que mesmo depois de partir, a pessoa continuará aqui." Ele colocou a mão no peito. "Amor é uma benção e uma maldição, tudo de bom e tudo de ruim. E acima de tudo, amor é o inesperado mais esperado de nossas vidas." Meus olhos estavam ardendo de uma forma que não ardiam a anos. Eu iria chorar? Pela primeira vez em muito tempo não me importei de sentir as lágrimas caindo pelas minhas bochechas, me preparei para elas quando Mathew disse, com a voz embargada:
"Então as nuvens vêm primeiro que as ondas?" Sem querer, comecei a rir. Jacob também riu, e Barry, nos olhando como se fôssemos loucos, começou a rir também. Repassei cada palavra de Barry em minha cabeça, e me perguntei se amor era realmente uma dose alta de loucura.

Cartas Para Alex : O Litoral Do Sol PoenteOnde histórias criam vida. Descubra agora