Capítulo XIX

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“Em terceiro lugar: uma mulher que estava fazendo compras e ficou doida porque um bebê não parava de gritar no ouvido dela, como se fosse um enjeitado; em segundo lugar: um homem no parque que a Olyn salvou a vida, por não permitir que ele engasgasse, mas acabou morrendo, o coitado; e em primeiríssimo lugar…”
“Sam, eu realmente não estou interessada em saber quais foram os melhores desmaios que você já presenciou na vida.” Eu disse, o interrompendo e massageando minhas têmporas doloridas.
“Shh!” Matt falou em minha direção e pôs um dedo sobre os próprios lábios para enfatizar sua necessidade por silêncio. “Eu quero escutar quem está em primeiro lugar.”
“Pobre azarado.” Sidney disse, ao meu lado, no banco do motorista de seu caminhão parado, encarando Sam com curiosidade e expectativa. “Sua lista é peculiar, mas estimulante.”
“Concordo.” Matt disse sorrindo para ela.
“Estou em um carro cheio de psicopatas.” Resmunguei e encostei minha cabeça no vidro da janela do meu lugar, mas decidi apoiá-la no assento quando senti uma pontada terrível de dor. Com certeza aquilo ficaria um belo hematoma para me lembrar daquela situação infernal.
“Quem está em primeiro lugar?” Matt perguntou e suspirei pesadamente.
“Isso depende. Como foi o desmaio de Olyn?” Sam perguntou.
“Bom, aconteceu tudo aquilo com os papéis como eu disse, eu não tive nada a ver com aquilo, foi essa endiabrada aqui.” Ele disse, delicadamente, e quase senti ele apontando o dedo para mim, fechei os olhos, desejando um entorpecente para dormir de imediato. “Ficamos uns dois minutos juntando as cartas e, quando eu chamei ela, Olyn se levantou e estava com o rosto tão pálido que achei que tinha visto alguma alma assombrada naquela casa, coisa que não me surpreenderia, para falar a verdade. E, de repente, a menina doida fechou os olhos e caiu no chão, como um saco de batatas e ainda bateu a cabeça com força!”
Sam e Sidney fizeram barulhos de quem estava escutando à uma história de batalhas travadas entre heróis e dragões, e Matt fosse o contador de mitologia grega mais talentoso que eles já viram. Deus, me ajude.
“Está decidido.” Sam falou, segundos depois. “Olyn está em primeiro lugar na lista de desmaios.”
“O que você acha que causou isso?” Sidney perguntou, ao mesmo tempo em que ligava o caminhão. Dei uma olhada em Sam e Matt pelo retrovisor do caminhão. Mesmo tentando disfarçar ao máximo, eles estavam com semblantes de exagerada preocupação em relação à mim, assim como Sidney, que, mesmo que tenhamos nos conhecido apenas algumas horas atrás, pareceu ter feito uma base sólida de amizade para nós duas e o resto do grupo.
Eu sabia exatamente o que havia causado aquele desmaio. Sequer sei se posso denominar tal acontecimento como desmaio, eu simplesmente perdi as força corporais e mentais em um momento de genuína e extrema surpresa por ver algo que eu achava que nunca veria na vida. Agora eu não duvidava mais, era Damyen quem havia escrito aquele envio de pensamento, e não gostei muito do que li no papel, acompanhado de seu nome. Aquilo poderia se tornar ou um problema, ou o fim de todo o mistério. Esse fato me deixou absorta por apenas alguns segundos, até eu acordar pela segunda vez e dar de cara com três rostos morrendo de preocupação, me encarando. Sam literalmente gritara para Matt que o mesmo deveria me carregar até o carro ou ele o esfolaria vivo ali mesmo, naquele posto na beira da estrada. Mas depois de quase meia hora assegurando que eu estava bem, eles finalmente pareceram relaxar mais, mas a preocupação ainda estava ali, espreitando pela borda de seus olhos.
Olhei para Sidney, voltando para a realidade atual e disse:
“Se existe alguma coisa como desmaios pós traumáticos, eu sugiro que foi isso.”
Ela focou sua atenção na estrada ao mesmo tempo em que me respondia:
“Parece aceitável.” Disse ela. “O importante é que você está bem agora.”
“Sim.” Digo suavemente e dou um forçado sorriso. E, mesmo sem querer, me surpreendi com o talento que adquirimos com o tempo em fingir que está tudo bem, mas, atrás do mesmo sorriso que colamos na cara, está um verdadeiro furacão de sentimentos e pensamentos conflitantes; está tudo, menos bem.
Reprimi a vontade de olhar pelo retrovisor, pois sabia, apenas sabia, que Matt estava me olhando.

Cartas Para Alex : O Litoral Do Sol PoenteOnde histórias criam vida. Descubra agora