Eu nunca havia observado alguém dormir. E sequer sabia o quão poderia ser interessante e intrigante tal experiência. Pelo menos, até Sidney aparecer com seus sonhos conturbados.
Eu acordei após um cochilo de no máximo dez minutos ao lado dela, apenas para escutá-la murmurar palavras incoerentes que, pelo que parecia, não eram muito agradáveis e educadas.
Sidney se remexia ao meu lado com a frequência de um sono deveras inquieto. Olhei para ela com curiosidade, enquanto tentava descobrir o significado das palavras que saíam de seus lábios.
Era insultos de ódio que eu percebi estarem sendo dirigidos para um alvo feminino. As palavras desgraçada e maldita eram as que Sidney mais repetia. Ela fazia caretas e cerrava os punhos como se estivesse se preparando para bater em alguém. Com força.
Engoli em seco, rezando para que ela não acordasse tão afobada quanto parecia durante o sono; visto que a coisa mais próxima de seu punho agora era o meu rosto que corria um sério risco de ser maculado.
Observei sua fisionomia iuminada pela bruxuleante luz da vela que estava ao lado da cama. Suas feições estavam longe de estarem serenas, mas havia uma beleza arrebatadora em toda aquela raiva contida dela. Uma raiva que me fazia querer sacudi-la e perguntar o que diabos aquela mente brilhantemente gloriosa estava pensando.
Quase engasguei com este último devaneio. Brilhantemente gloriosa? Desde quando o demônio de um poeta iludido havia possuído meu corpo? Desde quando eu pensava em tais palavras? Eu estava, realmente, a ponto de virar um romântico incurável. Se é que eu já não tinha me transformado nessa criatura doentia que é o homem apaixonado.
E lá estava, a concepção tão clara como água cristalina; eu estava apaixonado por Sidney Collins. E que Deus me ajudasse, mas eu não tinha vontade alguma de afirmar o contrário para mim mesmo ou para qualquer outro indivíduo que se dignasse a escutar minhas incoerências românticas.
Maldição. Aquilo era um problema. Eu não podia estar apaixonado por Sidney; porque... ora, porque não, diabo, e ponto final! Não, ponto de exclamação! Uma parte de mim só queria se entregar àquela paixão de corpo e alma, mas a outra parte queira sair gritando do quarto e fugindo de Sidney como o diabo foge da cruz.
Eu imaginava um relacionamento com Sidney como um campo minado, que, a qualquer passo em falso, uma bomba ia me explodir e danar com a minha vida até que eu enlouquecesse.
Eu queria aquilo, mas isso não queria dizer que eu não sentia medo de tantos sentimentos que ela causava em mim.
Quase tive um infarto quando as luzes piscaram ao som de um trovão e retornaram totalmente, ofuscando minha visão por um momento. Sidney acordou com o pulinho que eu dei na cama, e se afastou de mim rapidamente quando percebeu o quão nossos corpos estavam juntos.
Vi um rubor cobrir suas bochechas e reprimi um sorriso malicioso, mesmo sentindo um frio imediato com a sua súbita distância.
"Oi." Foi a única coisa que ela disse, com a voz rouca e um sorriso tímido.
"Olá." Falei e percebi que minha voz estava tão rouca quanto a dela.
De repente, meu olhar não estava mais no rosto de Sidney, e sim em suas vestes de dormir. Céus. Engoli em seco. Quando eu a tomei nos braços fora do quarto, ela estava em um roupão adequado. Mas agora o roupão se fora, para onde, eu não saberia dizer, dando espaço a um lindo conjunto de renda creme... muito fino e quase transparente.
Engoli em seco novamente. Deus, eu estava cego!? Como eu não percebi o corpo de Sidney se moldando ao meu com uma camada de tecido tão fina e provocante como aquela!?
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Cartas Para Alex : O Litoral Do Sol Poente
RomanceO que você faria se recebesse uma carta anônima de amor que sequer deveria ter chegado à você? Foi uma pergunta que Carolyn Darcy fez para si mesma quando se deparou com uma carta de um escritor romântico apaixonado, afastado de sua amada pelo tempo...