“Se você ousar se levantar, Carolyn James, eu vou amarrar a sua língua na cama!” Matt esbravejou quando eu estava quase escapulindo do meu lugar na cama de meu quarto.
“Acho que este ato não é possível de ser posto em ação.” Sam disse, deitado perto de meus pés, nos encarando. Matt sentou ao meu lado e respondeu:
“É o que veremos.” Ele disse ameaçadoramente. “Já vi isso ocorrer em um desenho animado.”
“Que droga de desenho animado era esse?” Perguntei, fingindo horror. Matt deu de ombros.
“Não lembro o nome, mas era de uma princesa garçonete e um sapo.” Ele disse e Sam apoiou o queixo nas mãos enquanto os cotovelos descansavam na cama.
“Como a princesa era da realeza e uma garçonete ao mesmo tempo?” Sam perguntou, e foi a vez de Matt ficar horrorizado.
“Você nunca… que tipo de criança você é?” Meu melhor amigo perguntou. Dei um sorriso e apoiei minhas costas nos travesseiros que Matt arrumara cuidadosamente para mim.
“Uma criança da nova geração que não assiste desenhos velhos.” Ele respondeu, petulante.
Interrompi seja lá infernos o que ia sair da boca infantil de Matt quando disse:
“Você não pode me forçar a ficar aqui. Eu quero ir ao jantar com vocês.”
Ele respirou fundo e me encarou.
“Tem razão, não posso obrigá-la. Mas eu posso jurar que vou matá-la caso faça essa bobalhada.”
Fiz uma careta e Sam falou:
“Mais uma palavra para o Dicionário do Matt?”
Mathew o encarou com aprovação.
“Muito bem.” Ele disse.
“Não seja pateta.” Eu disse e ele voltou a atenção para mim. “Você está fazendo uma tempestade no copo d'água. Não estou doente como você afirma.”
“Ah, não!?”
“Não.”
“Está ardendo em febre, tossindo como um cão rouco, espirrando como se fosse alérgica ao ar, e pálida como um cadáver. Se isso não é uma doença alguém pode enfiar uma estaca de prata no meu coração nesse exato minuto!”
“Infelizmente” Sam disse, momentos depois da dramatização. “, acho que não há muitas estacas de prata em Portland para empalá-lo.”
“Graças à Deus por isso, seu assassino cruel.”
Sam deu risada diante daquilo e fez um gesto no pescoço com o dedo, como se passasse una faca no local em questão e caiu de costas na cama de olhos fechados e boca aberta, simulando um suicídio.
“Você não vai ao jantar hoje.” Matt falou, severamente, para mim.
“Eu prometi para Sidney mais cedo.”
Ela havia ido no nosso quarto nos convidar e eu até havia fingido surpresa como Fabrício me alertara. Ela ficou radiante, como eu esperava.
“Sidney vai entender quando ver que você está doente como o diabo!” Ele retrucou e suspirei pesadamente.
“Meu Deus, como você é enfadonho.” Eu disse e cruzei os braços.
“Tapada.”
“Abestalhado.”
“Teimosa.”
“Mandão imprestável.”
“Irrequieta.”
“Dramático.”
“Ignorante.”
“Pacóvio.”
Ele abriu a boca, mas nada de inteligente pareceu vir.
“Sua… bocó!” Ele falou.
“Tarde demais.” Sam disse e nos encarou. “Ela venceu, você demorou e, pelo o que eu sei, pacóvio é mais ou menos um sinônimo de bocó.”
Olhei para ele, surpresa.
“Como você sabe?” Perguntei e ele deu um sorriso diabólico.
“Fui agraciado com um amplo vocabulário graças à minha mãe. Ela não ousava chamar impropérios pesados na minha frente, então apelava para os menos conhecidos.” Explicou e Matt sorriu.
“E a sábia acha que você não ten acesso à um dicionário.” Matt comentou.
“Muitos me subestimam.”
“Lembre-me de jamais fazer isso e… Olyn!” Matt exclamou quando eu atingi o chão com força.
“Mas que diabos…” Murmurei, sem entender como tropecei daquela maneira, e encarei Matt com raiva quando vi que ele havia amarrado um de meus tornozelos à cama com o lençol.
“Bem feito.” O desgraçado disse enquanto me colocava na cama novamante. “Eu falei para não sair da cama. Mas a ignorante me escuta? Claro que não.” Ele resmungou de uma forma que parecia estar a monologar.
“Eu só ia pegar água.” Eu disse. Ou irromper pela porta e gritar por ajuda.
“Se prestasse mais atenção, iria perceber que eu deixei uma jarra de água bem na sua mesinha de cabeceira.” Ele disse e apontou para o local em questão. Comprimi os lábios e olhei para o relógio de pulso, passava das oito, perto do horário que Sidney nos dera para o jantar.
“É melhor vocês irem se arrumar agora, então. Ou vão de atrasar.” Eu disse e Matt encarou Sam de braços cruzados, parecendo um médico que não tem mais esperanças em salvar um paciente.
“Estamos falando com uma bobalhona que não entende nada do que falamos?” Ele perguntou para o menino que, para meu horror, assentiu.
“Provavelmente.” Ele respondeu. Fiquei enraivecida quando Matt se virou para mim, e disse devagar:
“Ninguém vai para o jantar, Olyn. Você está doente e precisa de companhia. Está louca? Pare de negar isso. Não vamos deixar você de forma alguma.” Ele falou e reenconstou a costa na cabeceira da cama também.
“Mas vocês queriam tanto ir.”
E era verdade, eles ficaram mais felizes do que eu poderia descrever quando descobriram que alguém iria encher seus estômagos gratuitamente. Matt deu uma risadinha antes de dizer:
“É verdade. Mas nenhuma comida ou jantar chique no mundo chega sequer aos pés da companhia de minha melhor amiga.” Sua voz era carregada da mais pura sinceridade, que fez eu ter vontade de agradecer para qualquer ser superior que estivesse me ouvindo por ter colocado aquele ser humano na minha vida. Apertei a sua mão, ele apertou a minha de volta.
“Eu daria um abraço em vocês.” Sam falou, nos olhando, parecendo bastante interessado no desenrolar da conversa. “Mas você está muito catarrenta para o meu gosto.”
Ele riu quando eu joguei um travesseiro nele, mas não devolveu o golpe, será que eles achavam que eu ia quebrar por um simples resfriado?
“Sam, cuide para ela não sair da cama, vou tomar um banho.” Matt falou, momentos depois, e saiu do quarto enquanto eu arremessava adagas invisíveis em sua costas. Fiquei conversando com Sam por alguns minutos, ele parecia bastante animado em me contar sobre sua experiência na praia que Sidney os levara. Me senti, subitamente, muito feliz de tê-lo trazido naquela viagem novamente. A felicidade de Sam era tão avassaladora que me atingia com uma força magnífica, como se partisse inteiramente de mim. Eu queria que ele passasse um tempo legal enquanto estivesse comigo, e aquilo estava de fato se realizando na frente de meus olhos.
Quase não ouvimos a batida na porta da sala de comunicação enquanto gargalhávamos. Sam me disse para esperar enquanto corria para fora do quarto. Esperei menos de dez segundos até ele aparecer na porta e me chamar com o dedo. Sorri com sua maneira de desobedecer Mathew sem sequer hesitar e o segui. Quando entramos na sala de comunicação, meu queixo caiu. Lá estava Sidney, mas ela estava em um lindo vestido preto de gala, saltos altos prateados, com uma maquigem leve e um penteado elegante, muito diferente do seu visual diário. Ela abriu um imenso sorriso quando me viu e me deu abraço acalorado, mesmo que tivéssemos nos visto a algumas horas atrás.
“Você está doente, querida?” Ela perguntou, com o semblante animado sendo substituído por genuína preocupação.
“Um leve resfriado.” Eu disse e dei-lhe um sorriso sincero. “Está linda Sidney.”
“Obrigada.” Ela ficou em silêncio e mordeu os lábios. Escondi uma risada e pedi para ela se sentar.
“É claro que não precisa dizer o mesmo para mim. Estou acabada.” Eu disse e me joguei no sofá, bocejando. Sidney riu.
“Espero que melhore logo. Espere! Isso quer dizer que vocês não poderão ir ao jantar!?” Ela exclamou e troquei um olhar com Sam que respondeu sua pergunta. “Oh, não! Julian vai ficar arrasado. Mas vai entender, não se preocupe; não é culpa sua.”
Ela parecia cheia de tristeza, mas mesmo assim forçou um sorriso. Fiz um gesto discreto para Sam fechar as cortinas, antes que Sidney se deparasse com um raio do lado de fora de onde estávamos, onde a chuva ainda caía em seu auge. Ela percebeu o gesto e fez um aceno de agradecimento com a cabeça para nós.
“Sua saúde em primero lugar.” Ela asseverou com convicção e comprimiu os lábios, pensando. “Podemos marcar para outro dia. Vou mandar um médico vir examiná-la e eu posso comprar todos os remédios que você precisar. Ah, sem contar que você vai ser agraciada com os três melhores enfermeiros do mundo.”
Ela encarou Sam com um sorriso que ele retribuiu de imediato.
“Imagino que eu sou o melhor enfermeiro.” Ele falou.
“Claro que sim, na verdade, você é o doutor.” Ela falou e ele sorriu mais amplamente ainda.
Se ainda havia alguma dúvida de que eu realmente gostava de Sidney como integrante do meu círculo de amizade, ela esvaiu-se naquele exato momento. Ela era uma pessoa que simplesmente não se podia deixar de gostar, mesmo que em pouco tempo de amizade. Tomei uma decisão e me levantei.
“Mathew vai com você.” Eu afirmei e ela me encarou de supetão. “Não vai querer estragar essa noite que tem tudo para ser maravilhosa, não é? Venha Sam, vamos avisá-lo de que você já está aqui.”
Fui com o meu sorriso amável até o quarto de Matt e Sam, com este último ao meu lado, e fechei a porta. Eu e Sam nos sentamos lado a lado na cama, ouvindo o barulho abafado do chuveiro a alguns metros de nós.
“Matt vai ficar furioso com você.” Sam disse, calmamente, olhando para a porta fechada do banheiro.
“Você não parece muito preocupado com esta certeza.”
“A culpa é dele, nunca vi alguém tão engraçado quando se está com os nervos à flor da pele.” Ele disse e abafei uma risada. “Com exceção a você.”
Minha risada sumiu na hora.
“O que quer dizer?”
“Se você pudesse se ver quando está brava, não falaria nada.”
Abri a boca para responder, mas fui interrompida pela voz sonora de Matt, vinda do banheiro.
“Não acredito, ele está cantando!?” Sam parecia estar perdido entre divertimento e perplexidade.
“Esse é o Matt.” Eu disse e ele sorriu para mim.
Saber a música que Matt estava cantando era um mistérios que não podíamos solucionar. Mas, como uma fiel plateia, escutamos tudo até o fim e levantamos para aplaudir o cantor quanto ele saiu do banheiro.
“Bravo! Bravo!” Eu exclamei enquanto batia balmas e Sam deu assobios agudos.
Matt, por sua vez, deu um grito tão alto que achei que iria ficar roxo e desmair em um ataque de nervos bem na nossa frente, na porta do banheiro, mas ele, felizmente, só colocou a mão no peito já coberto por uma camisa para desacelerar seus batimentos cardíacos.
“Cristo amado da eternidade!" Ele disse e fechou os olhos com força. "Se vocês querem me matar, porque não me fazem de refém e me jogam de um penhasco de uma vez, como mães passarinho?” Ele exclamou, consternado.
“Você tem cada conversa estranha Matt.” Eu disse, quase impressionada.
“Que história é essa de mães passarinho e penhascos?” Sam decidiu perguntar. Matt deu de ombros.
“Uma vez eu vi um vídeo de uma jogando os filhotes de um penhasco para aprenderem a voar e…”
“Isso não interessa!” Exclamei e fui até a guarda roupa de Matt.
“Sua… coisa, eu mandei você ficar na cama.” Matt disse, com o rosto vermelho de raiva contida.
“E eu já lhe mandei muitas vezes para ir para o inferno, e olha só você aqui. Estamos quites.” Falei, de costas para ele, e arregalei os olhos com o que vi no armário. Me virei para Matt. “Você trouxe um terno de gala!”
“Um cavalheiro sempre está pronto.” Ele falou, apenas e cruzou os braços. Aparentendo falar à contragosto.
“Isso é perfeito!” Eu disse e dei o terno para ele.
“Que droga está querendo, mulher!?”
“Que você coloque esse terno, fique gato e vá para o jantar com Sidney.” Eu falei apressadamente, e quando ele estava pronto para negar, e o interrompi ao colocar o dedo na cara do mesmo. “Escute aqui, ela está na sala neste exato momento arrumada para você ir jantar com ela e, caso você não for, eu vou sair agora mesmo desse quarto e vou dançar na chuva que ainda está caindo lá fora.”
Apontei para as janelas idênticas das do meu quarto e as gordas gotas de chuva além delas, que eram açoitadas pelo vento e atingiam o vidro com violência.
Matt olhou para mim, depois para Sam, para o terno e por último, para a porta.
“Sim.” Eu ronronei e apertei o terno na mão dele. “Você sabe que você quer isso.”
Ele deu um suspiro e me encarou, aborrecido.
“Pare de me seduzir com este terno.” Ele disse e mordi o lábio inferior.
“Isso é um sim?”
“Isso é um você é uma insuportável, e vou aceitar para você não se matar de uma vez, sua descarada.” Ele resmungou e me virei para Sam.
“E ele perdeu o senso de perigo.” Falei e dei um espirro que não contribuiu em nada com minha ameaça tácita.
“Saúde.” Disseram em uníssono.
“Ele perdeu esse senso a muito tempo.” Sam falou enquanto nos dirigíamos à porta. Mas eu parei a fim de olhar para trás quando Mathew me chamou.
“Tem certeza de que vai ficar bem?” Ele perguntou, arrancando um sorriso genuíno de meus lábios outrora rosados.
“Preocupe-se apenas com você mesmo essa noite.” Eu disse, e escorreguei meu corpo para fora do quarto, ao lado de Sam, mas não sem antes escutar um:
“Você deveria seguir os próprios conselhos de vez em quando.”
Mesmo me sentindo um lixo amassado internamente, eu fiquei fazendo companhia à Sidney enquanto Matt se aprontava no quarto. Sidney alternava o olhar entre mim, a porta e eu relógio, sempre com um pequeno sorriso, devia estar debando consigo mesma a troca de papéis; era Matt quem deveria estar no sofá esperando que sua dama se arrumasse com calma e, no caso, com uma vagareza mais do que o desnecessária. O que eu poderia dizer? Matt era mais perfeccionista do que muitas mulheres. Mas percebi que, minutos depois, quando ele saiu do quarto, toda aquela demora valera a pena.
Sidney resfoleou quando a porta do quarto dos meninos se abriu e Matt saiu de lá, arrumando uma das mangas do terno impecável como um perfeito cavalheiro; seus cabelos castanhos estavam penteados de uma forma graciosa para o lado, criando uma onda perfeita; sua pele bronzeada ficou corada quando seus olhos recaíram em Sidney. Ele emanava elegância e uma beleza que eu não pude deixar de nomear como etérea. E, quando abriu um sorriso brilhante na direção de sua acompanhante, foi como se os próprios anjos tivessem parado para olhar aquele acontecimento de um de seus semelhantes que havia, por engano, caído na Terra.
Sidney se levantou e ele se aprumou ainda mais, se é que isto é possível.
“Oi.” Sidney disse, e pigarreou quando percebeu que sua vez estava rouca. Tentando novamente: “Oi.”
“Olá.” Matt falou, e eles ficaram se encarando por um tempo desconcertante. “Você está linda.” Ele balbuciou. As bochechas de Sidney ficaram rubras.
“Você também.”
Ela pareceu se engasgar com o próprio comentário.
“Hum… você também não está mal.” Ela disse.
“Obrigado.” Ele respondeu.
“Nunca vi um par mais piegas.” Sam sussurrou para mim.
“Divirtam-se!” Eu disse ao me levantar, e os arrastei para a porta. “Espero que aproveitem a noite! Nos vemos mais tarde.”
Matt se virou para me encarar no vão da porta e me deu um sorrisinho.
“Cuidem-se, vocês dois.” Ele acenou para Sam e apertou a minha mão. Encarei sua costas enquanto eles sumiam no corredor e entravam no elevador. Senti uma sensação estranha no estômago, mas não dei muita atenção, considerando meu estado em si.
Escutei um pigarreio dentro do quarto e fechei a porta apenas para dar de cara com Sam, segurando duas canecas de porcelana azuis com o conteúdo que esfumava em ambas.
“Um leite para a doentinha.” Ele falou enquanto nos sentávamos no café cama da sala de comunicação.
“Obrigada.” Eu disse, cortês, e deixei que Sam jogasse um cobertor sobre mim e arrumasse travesseiros na minha costa.
“Nós poderíamos tomar brandy, mas um leite se encaixa mais em suas necessidades.” Ele falou, e encarou a própria caneca enquanto sentava-se ao meu lado.
“Quanta consideração de sua parte.”
“É uma boa qualidade de seres adoráveis como eu.”
“Logo depois da amabilidade.”
“Certamente.”
Sorrimos enquanto fazíamos um brinde com as canecas quase transbordando leite e bebemos um pouco. Antes que pudéssemos afundar em devaneios sobre os acontecimentos do dia, o meu telefone tocou e me virei para olhar a tela. Sam se levantou e trancou-se no seu quarto para falar com a mãe, e fiquei encolhida em meu lugar no sofá, encarando a tempestade que se seguia do lado de fora, através da janela, com as cortinas já abertas.
As ondas rugiam entre si, sendo embaladas freneticamente pelos ventos violentos da noite, um raio tocava o mar em determinados momentos, iluminando toda a paisagem devastadoramente bonita, trovões soavam incessantemente. Fechei os olhos por um momento, sentindo todos aqueles sons fluirem pelo meu corpo como se fossem notas mescladas e enviadas pelo vento, uma sinfonia que gritava destruição, mas ao mesmo tempo uma beleza pura e sublime, que tocava meus ouvidos como se fosse uma música celestial tocada por seres divinos. Era bom me sentir em paz daquele jeito, como se todos os problemas houvessem desaparecido. Fiquei alguns minutos naquela paz imperturbável, até que...
Escutei uma fungada ao meu lado e abri imediatamente os olhos. Sam sentou-se ao meu lado e me entregou o telefone. Olhei mais atentamente para ele, suas bochechas estavam coradas e seus olhos vermelhos. Ele esfregou o nariz e sorriu fracamente.
“O leite está muito quente.” Disse, com a voz embargada, e apontou para a caneca que ele havia pousado na mesa à nossa frente. Fiz o mesmo com a minha. Puxei Sam para um suave abraço, ele não se mecheu por um tempo, mas enfim jogou os braços no meu pescoço e desatou em soluços tão fortes que pareciam abafar até o mesmo o barulho da chuva torrencial que se seguia à nossa frente como um espetáculo.
“Ela nem disse que me amava, Olyn.” Ele disse baixinho no meu ombro e passei os dedos no seu pequeno ombro, para acalmar os violentos tremores que se apossavam de seu corpo pelos soluços.
Embalei Sam na mesma música que minha mãe sempre cantava para mim, cuja tarefa foi passada para a minha avó atualmente. Quando senti que ele parou de chorar, o deitei cuidadosamente no sofá e o cobri com o cobertor até o ombro.
Não me preocupei com comida, Sam disse que havia se empaturrado no passeio. E acho que, caso tentasse colocar alguma coisa na minha boca, ela iria virar chumbo mesmo antes de chegar ao meu estômago.
Senti meu rosto esquentar e uma vontade terrível de chorar, mas não consegui derramar uma lágrima sequer. Era como se mesmo que elas pudessem chegar aos meus olhos, não ousassem derramar-se em meu rosto. Fechei os olhos e acordei, um tempo depois, com um sobressalto, passei a mão no rosto e nos lábios, procurando hematomas ou até mesmo sangue, mas não os senti. Deitei de novo ao lado de Sam e senti calafrios, quando fechei os olhos, vi a mesma mão descer em meu rosto, pronta para tirar sangue à força e criar ardência em minha bochecha com uma familiaridade perturbadora.
Me encolhi mais ainda e deixei que o mar me embalasse em sua própria música tonante, e, momentos depois, consegui adormecer novamente. Um sono calmo e, para meu alívio, sem pesadelos de um passado distante e nunca esquecido.
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Cartas Para Alex : O Litoral Do Sol Poente
RomanceO que você faria se recebesse uma carta anônima de amor que sequer deveria ter chegado à você? Foi uma pergunta que Carolyn Darcy fez para si mesma quando se deparou com uma carta de um escritor romântico apaixonado, afastado de sua amada pelo tempo...