Desgraça. Fatalidade. Maldição. Praga. Anátema. Rébrobo. Infelicidade…
Gemi devido a tentativa falha de me distrair com o dicionário de Sam e o joguei de lado. Me levantei do sofá-cama da sala de comunicação e logo em seguida fiquei andando de lá para cá na extensão da nossa suíte.
Maldição. Maldição. Maldição...
É claro que Damyen iria mandar mais cartas, mas eu não esperava que o fizesse quando eu estivesse a quilômetros de casa! E pior, Barry e Jacob pareciam estar tentandos a ler a miserável carta. Eu não poderia imaginar algo pior do que isso, então decidi deixar este assunto de lado por um momento, pelo bem de minha saúde psicológica.
Andei a passos pesados até a sacada e joguei as mãos para o alto, exasperada.
“Maldição! Porque você simplesmente não se materializa à minha frente!?” Exclamei, para o sol que estava se preparando para se pôr. “Iria resolver todos, todos, os meus benditos problemas! Mas não, você quer fazer todo esse dramdrama a de mistério e me deixar à beira da loucura! Porque é isso que eu vou ficar! Doida! Muito doida! Muito danada da vida!”
Respirei fundo e continuei olhando para o céu, achando de forma genuína que um raio iria brilhar ou um trovão iria soar mas profundezas do céu, mas as minhas palavras foram apenas açoitadas pelo vento para longe de mim. Suspirei e apoiei meus cotovelos no parapeito.
“Eu já estou louca.” Falei baixinho, derrotada.
E aquilo não deixava de ser verdade. Minha intenção não era ruim, claro; eu queria ajudar Damyen, de verdade. Mas tudo aquilo estava começando a me abalar em um nível inestimável e lamentável. Eu sentia que estava correndo contra o tempo, ou melhor, contra o mundo. E estava começando a me cansar daquilo. Eu não poderia desistir, não agora, mas isso não significava que eu não estivesse me exaurindo.
Fechei os olhos. Tudo o que eu queria naquele momento era ter alguém com quem desabafar tudo aquilo. Saí da sacada, pois, se eu gritasse um pouco mais para o céu, teria o mesmo impacto na minha sanidade do que sair correndo pelada na rua.
Entrei no meu quarto, peguei uma caneta e um papel. Uma vez, Matt me dissera que uma terapia que ele havia visto em um livro sobre conversar consigo mesmo dizia para a pessoa escrever os pensamentos e emoções em um papel. Talvez funcionasse comigo.
Percebi, momentos depois que não, não funcionava comigo. Deixei o papel em branco de lado e tentei conversar comigo mesma mentalmente. Tive tanto sucesso quanto a tentativa anterior.
Irritada, pus em prática minha última ideia ao pegar meu celular. Liguei o botão de gravação e apaguei as luzes, depois me joguei na cama. Decidi colocar o celular no meu ouvido, de modo que parecesse que eu estava falando com alguém. Suspirei, e de súbito, as palavras vieram como uma corrente, tímidas, mas constantes:
“A verdade é que qualquer um que me visse agora diria que eu tenho problemas. Não pelo fato de eu estar falando sozinha, e sim por estar fazendo… tudo isso. Afinal, quem, em sua sã consciência, percorreria tantos quilômetros por uma simples cartas de amor que sequer deveriam ter recebido, para começo de conversa? Não pessoas normais.”
Parei de falar por um minuto e comecei de novo.
“Mas eu tenho motivos para fazer isso, sabe? Tenho motivos para ter deixado minha família, meu emprego, e meus amigos para trás e embarcar nessa jornada. Não é culpa minha.”
Coloquei uma mão no rosto, tentando conter as emoções.
“Eu sou culpada por muitas coisas, admito, mas eu não queria ser. Eu não queria ter esses pesadelos. Não queria ter esse peso mas minhas costas. Não queria sofrer desse jeito. Não queria ter segredos. Não queria nada disso. Mas a vida é assim, acho. Parece que nunca temos o que de fato queremos.”
VOCÊ ESTÁ LENDO
Cartas Para Alex : O Litoral Do Sol Poente
RomansaO que você faria se recebesse uma carta anônima de amor que sequer deveria ter chegado à você? Foi uma pergunta que Carolyn Darcy fez para si mesma quando se deparou com uma carta de um escritor romântico apaixonado, afastado de sua amada pelo tempo...