Capítulo XXIX - Carolyn

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Eu decididamente queria tacar alguém da sacada.

É claro que não precisava ser de fato uma pessoa. Eu tenho certeza absoluta de que me contentaria em jogar um sofá para a base do prédio. Mas jogar um corpo, por algum motivo doentio, parecia ser muito mais relaxante no meu ponto de vista.

Ora, eu não poderia fazer isso; Sam não tinha nada a ver com meus surtos mentais, e Matt não estava presente no momento. É óbvio que este segundo também não tinha nenhuma relação com meus problemas, mas isso era um detalhe irrelevante para minha raiva irracional.

O importante era que eu precisava jogar alguma coisa de uma grande altura, descontar a minha raiva em algo físico antes que ficasse louca. Fechei os olhos com força, massageando as têmporas, e, para a minha surpresa, ou talvez a falta dela, eu vi um sorriso sensual dançar na minha frente, me desafiando de forma tácita. Oh, sim, ele serviria muito bem como candidato para uma tortura, pois eu não conseguia imaginar ninguém que me desse mais satisfação de causar traumas cerebrais do que em Damyen. E eu nem conhecia o infeliz!

Aquela peste se propagara na minha mente com uma onipresença gritante e insuportável. Eu tentava fugir dos pensamentos que ele desencadeada em minha mente, mas era uma corrida que parecia nunca ter fim, a ponto de me fazer ter a sensação de estar girando em círculos com aquele perseguidor nato que Damyen se mostrou ser indiretamente.

Olhei para minha cama, em meu quarto, onde jazia a carta já aberta de Damyen. Barry e Jacob enfiaram-na em outro envelope, que continha um rápido bilhete deles dizendo:

O carteiro stripper a deixou aqui e, como não ligamos para a sua privacidade, decidimos pegá-la e enviar para você. Como pode ver, não a lemos; até porque não somos tão tapados, sua insolente. Espero que o conteúdo não seja idiota e vago, pois precisamos de toda a forma de vontade para não ler cada palavra nesse troço.

Ps: O vovô queria ler mais do que tudo nesse mundo, e o teria feito, caso eu não tivesse escondido a bengala dele e o ameaçado de não devolvê-la caso ele invadisse sua privacidade. Você me deve. Beijos, Jacob.

Outro ps: Não deve nada a Jacob, até que você chegue, eu já o terei matado. O infeliz vai pagar por ter tirado minha amada. Façam uma boa viagem de volta. Não morram. Abraços, Barry, o Magnífico.

Todos os sorrisos que o bilhete me proporcionara foram rapidamente apagados assim que eu vi o familiar lacre de coração escarlate que jazia sobre a carta. Eu ainda não havia achado coragem para lê-la, e essa nem era a parte mais constrangedora. Eu passei, pelo menos dois minutos, cheirando o maldito papel. Deixando que o conhecido cheiro de menta me levasse para as lembranças do sonho com Damyen, me perdendo mais uma vez naqueles olhos castanhos cálidos.

Que ser desprezível eu me tornara.

Depois de muito debate interno, sentei na cama e estendi a mão para a carta, peguei-a e me acomodei entre os lençóis, preparando a mente para o que quer que Damyen tivesse preparado para Alex Harper daquela vez.

Querida, Alex

É notório que eu sou um imã de catástrofes. Eu não estou falando isso porque, neste exato momento, estou lembrando das cinco vezes em que torci o tornozelo, ou das duas em que quebrei o braço, ou até mesmo da vez em que irritei tanto meu irmão insuportável que ele decidiu me dar uma sova, fiquei dolorido e com um olho roxo por uma semana, mas valeu a pena ver a mãe descendo o pau nele, a mulher ficou irada. Mas sei que isso não é relevante. O assunto importante é que, nessa semana, eu atrai mais azar do que um ser humano deveria ser capaz de aguentar. E é um verdadeiro milagre que eu não esteja correndo em círculos como um doido e subindo pelas paredes depois de tantos infortúnios.
Mas esses dias não foram totalmente ruins. Acho que conheci alguém, e, pela promessa que fizemos um ao outro, sei que tenho liberdade para falar sobre este assunto. Não acho que esteja apaixonado, isso não poderia ser possível por diversos motivos, mas aconteceu alguma coisa quando eu botei os olhos em uma certa criatura que vi recentemente. Mas foi apenas isso, uma troca de olhares, e foi incrível como apenas o fato de olhar para ela me deixou...
Quando eu conheci você, senti uma sensação inominável e totalmente fora de minha capacidade de explicar, e eu achava que nunca sentiria uma coisa igual àquilo novamente. Bom, acho que estava enganado. Antes que você se pergunte, não, eu não estou apaixonado por outra pessoa, pelo menos eu acho que não. Me encontro confuso, você ainda vaga pelos meus pensamentos de maneira constante, seu rosto, sua personalidade, tudo em você está cravado em mim. Mas com ela, é... com ela as coisas são diferentes, eu ainda não posso enxergar sua personalidade, mas o que assombra em meus pensamentos é aquela parte de seu rosto e os seus olhos, céus, ela tem olhos magníficos; e a sensação que ela causou em mim, tanto física quanto mental.
Não escrevo-lhe essas coisas para enciumá-la, de forma alguma, acho que eu sequer conseguiria fazê-lo, mesmo se quisesse. Mas a verdade é que eu não me sinto confortável falando esse tipo de coisa para outra pessoa. Sim, nem com a minha amada mas odiosa família. E com você, estou tentando fazer o que me pediu a anos atrás, que confiasse em você. Eu sei que fui um idiota naquela época, mas era mais forte do que eu, e ainda é. Você conhece minha natureza reservada o suficiente para saber que tudo o que eu escrevo nessas cartas têm um alto grau de força de vontade, para que eu possa exprimi-las como se deve, sem que afetem meu âmago de alguma forma.
Estou tentando Alex, meu amor, tentando de verdade ser uma pessoa diferente da que partiu seu coração, e não estou fazendo isso por mim, e sim, por você. Sempre por você.
Não sei o que está acontecendo, Alex; eu amo você, isso é uma certeza que levo todos os dias. Mas parece que, infelizmente, isso não está me impedindo de ser atraído por outra pessoa. Essa foi a primeira vez, e eu não me sinto nem um pouco feliz por tal coisa ter acontecido, mas eu não consegui controlar. Mas, seja o que for que estiver acontecendo comigo, espero que passe de uma vez... mas ao mesmo tempo desejo a companhia dela novamente...
Sei que você nunca foi boa em dar esse tipo de conselho, talvez eu procure minha família para desabar, afinal, mas ainda não tenho certeza. De qualquer forma, perdoe minha indiscrição, mas eu realmente queria falar disso com alguém o mais rápido possível.

Cartas Para Alex : O Litoral Do Sol PoenteOnde histórias criam vida. Descubra agora